Como sempre digo temos de analisar filmes com o funcionamento deles como cinema em si, e não pela proposta, e o que andamos vendo nas opiniões de "Polícia Federal - A Lei É Para Todos" é que ou o povo é favorável ou não pelo que anda acontecendo no nosso país. Portanto antes de mais nada, aqui irei dar somente minha opinião sobre o filme, deixando de lado qualquer opinião política ou de ajuda a qualquer melhoria do país de lado. Digo isso para não virem aqui reclamar de algo ou da nota, pois vou começar já colocando a maior sinceridade do mundo: nosso país parece uma ficção gigante ambulante, que se contarmos tudo o que anda ocorrendo para qualquer pessoa que não tenha vivido nessa época ou more fora do país ou até mesmo que não veja os jornais, certamente a pessoa irá lhe perguntar de que filme estamos falando. Dito isso, vamos à primeira análise que conseguimos ver logo de cara é o formato da produção, que embora bem arquitetado funcionaria muito melhor como série do que como filme, pois poderia explorar cada momento em episódios separados e certamente empolgaria bem mais, mas dificilmente alguma emissora se atreveria a mostrar por ter problemas de envolvimento político. E além disso, o maior problema para com o filme em si foi em cortes ruins, parecendo que até tentaram aumentar a velocidade das cenas para que o filme coubesse no tamanho comercial de cinema, quebrando diversos momentos e falhando nesse detalhe. Ou seja, não é algo ruim, e também está longe de ser bom, mas temos de ser ecléticos e dizer, que o filme vai mexer bastante com as opiniões do público, seja quem sabe ou quem não sabe dos envolvimentos mostrados no longa.
O longa nos situa em 2013. Durante a realização da Operação Bidone, a Polícia Federal apreende no interior um caminhão carregado de palmito, que trazia escondido 697 kg de cocaína. A investigação recai na equipe montada por Ivan Romano, sediada em Curitiba e composta também por Beatriz, Júlio e Ítalo. As conexões do tráfico os levam ao doleiro Alberto Youssef e, posteriormente, ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que revela uma imensa estrutura envolvendo construtoras e o governo, de forma a desviar dinheiro público. À medida que a investigação avança, o grupo liderado por Ivan se aproxima cada vez mais de alguns dos políticos mais influentes do país.
Não podemos desprezar o trabalho imenso de pesquisa da equipe de roteiro, e claro do diretor Marcelo Antunez, pois certamente a corrupção nacional tem tanto material que pra orquestrar bem toda a situação e ver o que funcionaria bem como ficção, o que poderia ser aumentado, diminuído, destacado, e por aí vai demandou muitas horas de decoupagem e ainda assim é fácil notar que o roteiro final ficou por volta de 2h20 de duração, e que com as filmagens o diretor acabou entregando algo muito maior para a edição final se virar. Com isso, até vemos um trabalho minucioso de cena dele, procurando mostrar bem as locações arrumadas, os diversos aparatos utilizados, figuração na medida certa e um estilo "policial" (é claro!!) na forma de conduzir a trama toda. Porém como bem sabemos, filmes acima de duas horas costumam matar 1 sessão de cada cinema, ou seja, uma sala a menos por dia, diminuindo sete sessões por semana, ou seja novamente, bilheteria menor, e o que fazer?? Entregar na mão de um editor e ser feliz com o resultado (ou não!), e aí é que entra o maior problema do longa, pois tudo parece acontecer em dias, ao invés de semanas e ano como demonstra as datas no rodapé do longa, acelerando tantos momentos, cortando outros (que são citados e parecem nem ter aparecido), e com alguns erros de roteiro até aparecendo, e aí que volto a frisar que como série de 3 a 4 capítulos, cada um de 40 a 50 minutos, ficaria perfeito, envolvente e na medida, ao invés de entregar algo de 110 minutos que parece estar errado. Claro que volto a dizer, quem for cego e sedento de vingança política não irá ver o filme, nem defeitos, nem nada, só irá na sessão gritar "Fora PT - filme perfeito, maravilhoso, etc" ou "Viva PT - farsa ambulante, piada de filme", e sendo assim as opiniões na saída da sala foram bem essas, parecendo que nem assistiram um filme realmente, o que me decepcionou um pouco quanto a ver isso, pois volto a pontuar, fomos ao cinema para ver uma ficção e não um documentário sobre a Lava-Jato, o que aí sim poderia caber inúmeras opiniões politizadas. Apenas um adento de parabéns ao diretor foi para colocar diversas frases de não estamos atacando nenhum partido, e colocar até o delegado Júlio falando que fez campanha, ou seja, tentou ser menos partidário possível.
No conceito das interpretações, vimos boas interpretações, com nuances corretas e bem colocadas (algumas até empolgadas demais, outras desleixadas) e com isso o resultado mostra que temos sim bons atores para fazer longas policiais, mas talvez com algo mais elaborado para cinema e menos televisivo. O destaque positivo fica a cargo de Antonio Calloni com seu Ivan bem determinado, colocando o olhar à frente das palavras e conduzindo de maneira coesa os atos de seu personagem, agradando bastante no que fez. Flávia Alessandra com sua Beatriz, aparentemente foi a personagem que teve mais cortes na edição final, tendo até bons momentos, mas afobada demais com seus atos. O mesmo podemos dizer (sobre afobação) para o personagem Júlio, interpretado por Bruce Gomlevsky, pois até foi possível colocar um pouco de sua história pessoal, tendo uma quebra novelesca com doenças familiares, no meio de um filme policial, que certamente poderiam ter tirado para que outros momentos funcionassem melhor, mas mostrou que o ator tem um bom tino dramático para agradar em outros filmes. Do lado dos "vilões", Roberto Birindelli fez um Youssef divertido, fanfarrão e disposto a criar piada até mesmo com sua prisão, soando leve para o papel e agradando sem se preocupar com o que estava fazendo, o que divergiu do destaque mais negativo que ficou a cargo de Ary Fontoura, que demonstrou facilmente sua decepção ao estar interpretando o ex-presidente Lula, de modo que era notável seus olhares jogados, desespero para acabar de gravar cada cena rapidamente, e entregando um resultado no mínimo lastimável de ver, ou seja, sabemos que ele é um ótimo ator, e poderia ter relevado isso para fazer um papel ao menos decente. Quanto os demais, todos variaram fazendo de suas cenas ao menos importantes para o filme, resultando em algo convincente ao menos (claro que tirando as mulheres dos "vilões" que foram extremamente artificiais).
O visual do filme ficou bem condizente com a proposta, tendo carros grandes (como são os da PF) fazendo grandes aparições (seja no momento da coercitiva, ou no começo numa perseguição frenética de um caminhão), escritórios com computadores de primeira linha, mansões imensas para os protagonistas (afinal com o tanto que roubaram, tinham de ter casas imensas mesmo!), e retrataram também bem o visual da cadeia da PF em uma das cenas mais cômicas (e que foi real!) dos advogados tentando levar mordomias caríssimas para seus clientes lá. Ou seja, ousaram de modo bem sutil para que tudo fosse bem colocado e usado, sem estourar o orçamento bem baixo de R$4,6 milhões (que aliás não foi divulgado de onde veio, afinal a equipe poderia receber futuras sanções). A fotografia usou muitos tons escuros, afinal não estamos falando de um filme que precisasse ser colorido, e com isso alguns momentos até o ponto cômico do momento ficou com um ar de tensão dos protagonistas, e assim sendo poderiam ter acelerado mais alguns momentos para que os tons funcionassem mais.
Enfim, é um filme que foi até bem feito, mas infelizmente teve tantos defeitos técnicos que para quem for realmente analisar ele como filme irá acabar se decepcionando. Como disse funcionaria mais como série por ter muitos momentos omitidos e também para poder ser instigado mais, e assim sendo só recomendo ele como filme para quem não assistiu nem leu nenhum jornal nos últimos 4 anos, senão praticamente você verá apenas coisas que já viu de uma forma ficcional acelerada. Peço também que quem for conferir não arrume brigas políticas nas sessões, pois já ouvi de um amigo que algumas salas viraram púlpitos políticos com pessoas gritando "Fora Temer", "Viva Moro", entre outros piores, e o cinema não é lugar para isso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, encerrando essa semana cinematográfica, e volto na próxima quinta, então abraços e até breve.
2 comentários:
fernando coelho porque vc nao faz videos com criticas dos filmes e coloca no youtube gosto muito de suas criticas ,seria muito bacana
Olá Diana e Bruno... já pensei nisso, e já me sugeriram diversas vezes... mas tem um leve problema: eu gaguejo um pouco, então é tenso falar pra câmeras!!! rsss mas quem sabe ainda crio coragem!!! Abraços e obrigado!
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