Já vi muitos filmes religiosos que deram certo e também muitos que foram um afronte para qualquer pessoa que vá ao cinema conferir, mas confesso que sinto uma grande afinidade por bons diretores que atacam nesse estilo e sabem mostrar a que vieram, pois quando botam a cara à tapa para mostrar sua opinião e criam um filme interessante que combine a religiosidade/espiritualidade bem com a história a que se propõe contar, o resultado acaba magnífico. Só é uma pena que infelizmente "A Menina Índigo" não poderá ser incluído nesses exemplos de filmes maravilhosos sobre a espiritualidade presente em muitas pessoas boas que querem e vão mudar o mundo, que acaba sendo a base/tema do filme, mas que não consegue atingir por focar tanto em tantas coisas e menos no que se propunha. Claro que o filme não é ruim, pois com uma estética maravilhosa de cores (característica marcante do diretor que fez de "Nosso Lar", um longa de uma beleza visual incrível!) e uma atuação de nível mais do que profissional da garotinha, o resultado é sim algo que causa uma felicidade, mesmo que momentânea, porém faltou aquele detalhe que transforma uma história boa em um filme bom, que é a direção atacar com unhas e dentes a proposta e tirar dali algo visceral e incrível. E com isso, o longa acabou ficando realmente alongado, pois não possui muito tempo de duração (99 minutos) mas aparentou ter no mínimo umas 2-3 horas no total de tão repetitivo e sem objetivo que acabou soando. Ou seja, é um filme bem feito, mas que não atingiu o ápice que poderia mostrar, e claro contagiar mais pessoas para viver com mais alegria num mundo colorido e cheio de bondade.
A história nos conta que Sofia é uma garota de 7 anos que tem enfrentado problemas na escola, por não se interessar nas matérias ensinadas. Após se trancar em uma sala e pintá-la por completo, seu pai é chamado ao local. Meio afastado dela devido ao trabalho como jornalista, ele se reaproxima após o pedido da própria Sofia para que more com ele. Aos poucos, ele percebe que Sofia possui é não só uma criança bastante espontânea que se manifesta através da pintura, mas que também possui o dom de curar pessoas doentes.
Fico realmente triste quando um filme não consegue entregar o que se propões, pois já disse outras vezes que a temática espírita/religiosa é um dos maiores filões que se os diretores e roteiristas quiserem adaptar livros e mais livros irão ter filmes para fazer em quase todas as semanas de sua vida, basta que enfrentem preconceitos e tudo mais, e nem queiram mostrar sua verdadeira frente, afinal pode-se fazer um longa evangélico/espírita/cristão tranquilamente sem necessitar se um seguidor dos grandes mantras e religiosos de cada religião, desde que siga os princípios, se pesquise bastante e principalmente entregue na tela o que o público alvo da religião deseja ver, pois assim sendo é certeza de ser indicado no famoso boca a boca e com isso ganhar muito ou pelo menos o dinheiro investido com o retorno. Porém voltando a falar do filme aqui em questão, o diretor e roteirista Wagner de Assis que fez um dos filmes de maior produção nacional, o espírita "Nosso Lar" (até hoje acredito que tenha sido um dos maiores no quesito efeitos visuais no Brasil, e que acabou tendo uma excelente bilheteria dentro do nicho), apenas entregou um longa singelo, sem atingir nada e quase ninguém, pois era notável que a sala com um bom público (não estava lotada, mas tinha lá bem mais que muitos filmes que confiro!) alguns já estavam quase no final deitados na poltrona quase dormindo, outros conversando sobre qualquer coisa, alguns entrando e saindo da sala e até mesmo eu, olhando para outros para ver reações ao invés de me prender no filme, e no que estava acontecendo, pois sua história acaba divagando demais sobre o tema, entrado em temas políticos, e apenas salpicando na tela o que deveria mostrar realmente, não chegando a nenhuma conclusão específica. Com isso, o que vemos de seu trabalho é apenas algo muito colorido e bonito de se ver, aonde o resultado não importava, mas sim a tentativa de mostrar algo, e assim sendo, o filme acaba cantando uma música bonitinha também e saímos da sessão prontos para ver outro filme, sem nem ao menos precisar refletir ou pensar no que vimos.
Sobre as atuações, é fato mais do que claro, que Letícia Braga se crescer e manter o bom estilo de atuação que vem mantendo, e principalmente o que fez aqui, irá ser uma das melhores atrizes desse país, quiçá se ousar sair para fora, e digo isso sem pensar em mais nada, pois uma garotinha de 12 anos simplesmente derrubou com todas as mínimas forças as interpretações/atuações dos adultos, com um carisma mais do que impressionante e incríveis expressões claras tanto da idade, como de uma proposta mais ousada com sua Sofia, fazendo com que todos os momentos seus fossem marcados por realmente uma luz especial, um sorriso/expressão especial e uma clareza de saber o que estava fazendo ali com maestria, acertando em cheio cada momento. Já não podemos dizer o mesmo de Murilo Rosa, que até se saiu bem com seu Ricardo, mas aparentemente saiu melhor como produtor do filme do que como ator realmente, criando momentos marcados pela simplicidade de expressão ao mesmo tempo que não chegava a conclusões de suas cenas, ficando sempre no meio do caminho. De Fernanda Machado então chega a ser quase como um enfeite cênico com as poucas cenas de sua Luciana, que ainda por cima não expressava nada quando aparecia, fazendo uma mãe mais perdida do que pronta para fazer algo, claro que sabemos que não é fácil saber o que fazer numa situação dessas, mas ao menos tentasse ser mais expressiva com a dúvida. Dentre os demais atores, a maioria até trabalhou bem dentro do que foi proposto para eles, não atingindo nada além do comum, mas também não atrapalhando (tirando claro TODOS da escola, que chegou a ser deprimente o depoimento e a conversa de uma diretora/pedagoga com um pai e na sequência sua entrevista para a TV!), podendo dar leves destaques para Eriberto Leão com seu Geremias numa clara alusão ao oportunismo midiático, que prefere perder o amigo à matéria de sua revista, Paulo Figueiredo com seu Paulo Gregório trabalhando o ar da corrupção que afronta o país e a vida das pessoas, e até mesmo a rápida participação de Nizo Netto como um médico que nem procura saber o que sua paciente tem já tacando logo de cara um remedinho tarja preta que vai "acalmar" os problemas da criança.
Sendo uma das características dos trabalhos do diretor, o conceito cênico do filme acaba sendo tão incrível, que por bem pouco não acaba dominando todo o filme, pois com muitas cores, tintas (com certeza atóxicas, pois a garota literalmente come as tintas, joga pra todos os lados, toma banho, faz de tudo com as cores - principalmente o azul índigo!!!) e que com muita clareza de sentido fez de sua obra algo bem trabalhado de elementos cênicos, de ótimas pinturas abstratas que acabam dando um tom bem bonito de olhar, mas que acaba faltando também um pouco para atingir realmente um ápice cênico, afinal toda vez que saía da casa dos protagonistas, o resultado praticamente descia e ia para rumos mais fracos, ou seja, poderiam ter ficado somente na casa e trabalhado ali a espiritualidade total e acertaria mais em cheio. No conceito fotográfico a ousadia também foi bem pouca, deixando tudo num único tom claro, sem muita dinâmica de ângulos, apenas deixando fluir a criatividade da garotinha e com isso jogando fora todas as possibilidades de nuances que longas desse estilo costumam ter.
No conceito sonoro, o tradicional pianinho de fundo, com melodias tristes orquestradas dominam do começo ao fim para tentar causar alguma emoção no público, mas além de atrapalhar e cansar, acabam que deixam o filme mais lento ainda, e não atinge nada além do que já está sendo mostrado, de modo que precisam parar com isso, que já deu esse estilo musical para o gênero, e dificilmente vem sendo acertado na função de fazer chorar.
Enfim, com uma proposta razoável, e um tema bem interessante para se discutir, e claro provar algo, a trama acaba soando fraca demais e não comove, nem atinge os objetivos propostos, apenas funcionando como mais um filme apenas, aonde a beleza visual disfarça os problemas reais de um roteiro/direção. Ou seja, existem muitos outros bons filmes que tratam de espiritualidade, de que podemos e devemos criar um mundo melhor mais alegre e feliz, mas que de uma forma mais coerente acaba agradando mais. Portanto, quem quiser pular esse, pode deixar tranquilamente que não vai fazer diferença alguma com o que será mostrado, o que é uma pena imensa, pois como sempre falo, temos potencial para criar bons filmes, mas falta a coragem realmente. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou encarar outro longa nacional, agora saindo da espiritualidade e indo para a sujeira realmente, então abraços e até logo mais.
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