Existem alguns tipos de filmes que mesmo trabalhando bem o lado cômico não conseguem fazer graça para o público, de modo que parece que ao invés de estarmos assistindo uma comédia, estando em um drama forte e complicado. E se existe uma escola técnica de cinema que possui uma habilidade incrível de conseguir essa façanha é a alemã, pois dificilmente vemos uma comédia alemã que nos faça rir, ou pelo menos se divertir com o que é mostrado, ficando tudo sempre bem voltado para a tensão conflitiva, que até encaixa algumas piadas, mas passa bem longe de algo engraçado. Com "Bye Bye Alemanha", o resultado não poderia ser outro, funcionando bem ao mostrar que a tradicional malandragem que vemos muito no Brasil, também acontece em outros países, mas sem ousar numa pegada mais inteligente, tudo o que acaba acontecendo fica insosso demais, e não atinge toda a diversão que poderia. Um exemplo claro é se o mesmo roteiro caísse nas mãos de italianos, franceses ou até mesmo espanhóis (estou tirando americanos e ingleses, pois aí teríamos algo até forçado demais), o resultado final seria uma comédia deliciosa trabalhando a mesma postura e saindo da tênue quase fúnebre que acabamos vendo aqui. Volto a frisar que o longa passa bem longe de ser algo ruim, mas acaba falhando imensamente no resultado de ser engraçado/divertido, passando para quase uma obra documental de uma pessoa que só não morreu na época do nazismo por saber inventar mentiras e piadas.
O filme nos situa em Frankfurt, 1946, onde o judeu David Berman e seus seis amigos, só tem um propósito em mente: conseguir finalmente ir embora da Alemanha. Mas, nos tempos difíceis de crise após o fim da Segunda Guerra Mundial, eles precisam de muito dinheiro para realizar seu sonho de partir para os Estados Unidos. Para isso, encontram apenas uma saída: começar a vender enxovais para mulheres alemãs.
Não posso afirmar que essa foi a comédia mais dramática que já vi, pois é um estilo que felizmente aparece pouco (sim, ou para mim o cara faz rir ou faz chorar, o meio termo é famoso de quem errou em algo!) e como todos bem sabe, minha memória não é das melhores, mas o que o diretor Sam Garbarsky nos entrega é um filme que digamos até possui uma boa classe, um estilo próprio e uma boa esquete desenvolvida na forma de venda dos ambulantes, porém o depoimento entrar a todo momento no meio da história acaba ficando algo completamente desnecessário, de modo que na segunda continuação dele já queremos desistir logo do personagem. Ou seja, deveriam ter colocado o foco completamente na trupe de judeus vendendo/enganando os alemães com enxovais, que acabaria se tornando algo gostoso de acompanhar, e ali sim talvez ter alguma dramaticidade para se quebrar (afinal volto a frisar, que o estilo de cinema de comédia alemão obrigatoriamente tem de ter pitadas grandiosas de drama) a comicidade e ter algo a mais, mas não, toda hora voltamos para a cena do protagonista contando como "sobreviveu" à guerra e o longa acaba empacando. Como disse no início acredito mais que o erro não seja da história, pois numa mão diferenciada tudo acabaria melhor e mais interessante, mas aqui picaram tanto na edição e apostaram tanto no depoimento ser algo legal de mostrar, que não chama atenção alguma, mas se se traduzirmos ao pé da letra o nome original do filme seria algo como "Era Uma Vez na Alemanha..." e assim sendo o longa acaba contando uma fábula bem feitinha ao invés de uma gostosa comédia.
Sobre as atuações, temos de ser bem sinceros em dizer que Moritz Bleibtreu possui um estilo carismático incrível, de modo que todas as cenas que estava presente com seu David, ele fez o necessário para ser o protagonista máximo, puxando todos os olhares para si, e conseguindo segurar bem a cena como deve ser feito, e assim sendo acabamos até nos afeiçoando a ele, torcendo para que suas histórias não sejam em vão e finalize de forma eloquente, o que infelizmente não ocorre. Dentre os demais, quem passa mais tempo junto com o protagonista é Antje Traue como agente Sara, e com bons olhares, e um dinamismo certeiro, a jovem atriz consegue manter bem a essência de sua personagem, interrogando com precisão e fazendo boas caras e bocas, não soando artificial ao menos. Os outros personagens acabam aparecendo pouco em cena, mas sempre trabalham bem seus leves momentos, e alguns até conseguem fazer melhor o ato cômico em si, mas nada que valha a pena ser destacado.
Agora sem dúvida alguma, o melhor do filme ficou a cargo da equipe de arte, que conseguiu retratar bem a Alemanha pós-guerra, com cenários devastados, mas com os moradores vivendo sua vida e tentando reconstruir tudo, boas cenas também internas seja no barracão com os enxovais sendo empacotados para venda ambulante, seja no interrogatório com uma iluminação bem peculiar, ou até mesmo nas cenas de lembranças retratando um campo bem interessante, ou seja, um trabalho minucioso cheio de detalhes que acaba chamando atenção. E claro que uma boa direção de arte não é nada sem uma boa direção de fotografia, e com isso o filme acaba tendo tons marrons bem colocados com a iluminação pontual bem direcionada para mostrar exatamente o que desejavam.
Enfim, é um filme com uma boa história para se desenvolver, que acabou sendo mal montado e formatado, pois acabou nem virando uma comédia bacana de conferir e se divertir, nem um drama interessante de analisar, ficando bem no meio do caminho. Portanto, se você gosta desse estilo mais mediano, o longa é uma boa opção artística que está em exibição em algumas sessões do Projeto Cinema de Arte pelo país, mas certamente existem outros bons longas para conferir dentro dos cinemas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até breve.
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