Chocante

10/08/2017 03:11:00 AM |

Volto a afirmar que o cinema nacional não está para brincadeiras, e mesmo nas comédias mais fora de rumo que poderiam arrumar, andam conseguindo trabalhar bem os vértices e divertir como poucas vezes víamos no passado. Claro que "Chocante" está longe de ser um filme perfeito, mas o saudosismo dos programas dos anos 90 que eram lotados de coisas bizarras (com bandas coreografadas estilosas e coloridas, com músicas que grudavam na nossa mente), aliado à ponte que podemos fazer com as mudanças de vida que famosos possuem versus a vida real, que tem de trabalhar realmente se quiser ganhar algo, o longa acaba passando uma boa mensagem e ainda divertindo bastante, mesmo que para isso precise apelar levemente em alguns momentos. Ou seja, embora você vá ficar cantando "choque de amor" por um bom tempo, a trama entre vai conseguir te divertir pelo menos durante a sessão, e sendo assim, o resultado como comédia é bem válido.

A sinopse do filme nos conta que os anos 90 marcaram o sucesso da boyband brasileira Chocante. Vinte anos mais tarde, o grupo acabou, e Clay, Tim, Téo, Toni e Tarcísio tomaram rumos diferentes na vida. Os antigos colegas se reúnem para um evento inesperado: a morte de Tarcísio. No funeral, eles decidem se apresentar mais uma vez, em nome dos velhos tempos. No lugar do falecido colega, entra o novato Rod.

Chega a ser engraçado como já vamos preparados ao cinema, tendo um pré-conceito com alguns estilos de produção, e confesso que ao ver o trailer desse longa já fui pronto para algo extremamente bizarro, cheio de firulas e que de forma alguma conseguiria me divertir, e acabei me surpreendendo com o trabalho feito pela dupla de diretores Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, que pegaram uma história teoricamente simples e criaram bons vértices para que funcionasse dentro de um bom contexto, mas se tenho de pesar a crítica, o que posso falar é que o filme entrega bem uma apresentação glamorosa de passado, uma realidade de presente, mas exatamente quando vai decolar para um futuro a trama encerra, deixando aberto talvez uma possibilidade de segundo filme, ou apenas uma reflexão em cima de um dos diálogos mais fortes do longa, aonde a esposa do protagonista vivido por Lucio Mauro Filho diz: "a vida real é chata", e ele ao sair de casa começa a ouvir um grande clássico dos anos 90, "Tô P da Vida", fantasiando seu mundo alegórico para onde tudo poderia viver dentro da fama que poderiam ter conseguido. Ou seja, o trabalho completo acaba agradando bastante, mas poderiam ter prolongado mais um pouco o filme, ou já deixar algo bem mais aberto para uma continuação, mas tirando esse detalhe, e alguns exageros para forçar a comicidade, o resultado entregue acaba sendo bem melhor que a encomenda, divertindo e até emocionando em diversos momentos, conectando demais com outras bandas que acabaram por brigas e que tinham um grande potencial de sucesso.

Sobre as interpretações, temos ao mesmo tempo muito sentimento e sátira em cada personagem, de modo que as escolhas até foram bem feitas, tanto na versão anos 90 quanto no momento atual para que cada tipo de trejeito funcionasse e agradasse. Começando pelos irmãos Tim e Téo, vividos respectivamente por Lúcio Mauro Filho e Bruno Mazzeo, que acabaram entregando ao mesmo tempo doçura e determinação nos seus papeis, com Mazzeo trabalhando a conexão mais família e Lúcio o lado mais centrado num emprego forte, acabaram mostrando boas doses de emoção e agradando mais nos diálogos do que em piadas, o que foi bem interessante de ver. Já o lado forçado cômico ficou a cargo de Marcus Majella com seu Clay, que mesmo trabalhando o lado gay que tanto usam para apelar em comédias nacionais, seu tom acabou funcionando e não despontou tanto, o que ficou interessante de ver, principalmente pelo tanto que falaram de sua versão jovem era diferente. Outro que trabalhou o tom cômico, mas já puxando para o lado mais brucutu, foi Bruno Garcia, que com seu Toni acabou soando até divertido em alguns momentos, mas nos momentos mais francos usou um pouco do exagero e por bem pouco não destoou. Pedro Neschling que também assina o roteiro junto de Mazzeo, acabou trabalhando seu Rod nos moldes de artistas atuais que vivem em snapchat e outros aplicativos, e que possuem mais fãs malucos por saber o que está fazendo e comendo do que gostando de suas músicas, ou seja, funcionou muito como sátira e embora seja bem apelativo acaba divertindo. Dentre as mulheres da trama, temos a fã maluca Quézia vivida por Débora Lamm que certamente existem aos montes hoje, mas que eram piores ainda nos anos 90, e ela conseguiu transmitir demais essa essência que as presidentes de clubes de fãs faziam, também tivemos a doçura de Klara Castanho como a filha Dora de Mazzeo, que soube trabalhar bem os olhares e agradar na medida, e claro Renata Gaspar como uma dona de casa que trará a tona os momentos mais sinceros da trama. E para finalizar temos a rápida participação de uma única cena de Tony Ramos como um empresário completamente descolado, cheio de visual e estrutura vocal toda misturando inglês com português como se fosse a última moda.

Dentro do conceito visual se você não viveu nos anos 90 pode ser que o filme passe bem batido, mas do contrário será um choque ao ver brinquedos da época, programas clássicos do Sábado e do Domingo no SBT, muitos pôsteres colados na parede, fitas miniDV em filmadoras de mão, e por aí vai, em algo completamente nostálgico, e claro para satirizar o modus operandi atual temos os carros de aplicativo, filmagens de casamento pré-armadas, promoções malucas, e tudo mais contrastando e agradando na medida certa, de modo que a equipe de arte trabalhou muito para colocar figurinos, junto de estilos próprios para a banda fazendo com que tudo se conectasse bem demais. A fotografia ousou em muitas cores e tons, brilho para todos os lados, mas não trabalhou muitos ângulos para chamar atenção, deixando que o estilo de clipe mesmo dos anos 90 dominasse do começo ao fim, pontuando um pouco com a comicidade de lado.

Não serei um torturador para colocar link com a trilha musical, mas para quem quiser pesquisar na internet tem o clipe de "Choque de Amor" e claro diversas versões de "Tô P da Vida". E claro que por ser um longa de banda musical, a repetição fica na mente por um bom tempo.

Enfim, esperava realmente algo muito pior, que acabou até me surpreendendo por ser menos apelativo do que poderia, somente pontuando mal pelo fechamento rápido demais, que poderia ser melhor desenvolvido, e por alguns exageros nas personalidades e estilos escolhidos, mas de resto certamente é um longa que vai divertir muita gente, principalmente aqueles que viveram nos anos 90. Sendo assim minha recomendação, que vá pronto para aceitar muita bagunça e claro muita música chiclete na cabeça. Bem é isso, fico por aqui hoje, mas volto amanhã (ou talvez hoje mais tarde) com a última estreia da semana, então abraços e até breve.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...