Se em 2014 vibrávamos a cada cena apresentada em "Kingsman - Serviço Secreto" pela loucura cênica, pelos bons ângulos escolhidos e claro também pela história entregue, é fato que agora com a estreia de "Kingsman: O Círculo Dourado" já fomos para a sessão com as expectativas lá nas alturas, e embora beba da mesma fonte (afinal são os mesmos realizadores!) o resultado aqui acaba soando levemente forçado, sem muita preocupação para que fique tudo convincente. Ou seja, ainda temos um excelente filme, com boas atuações, muita ação despretensiosa em cenas malucas e tudo mais, porém não flui tão naturalmente como o primeiro longa e acaba divertindo um pouco menos com piadas repetidas, e barulheira demais para ser sincero. Portanto, se a pergunta é se vale a pena conferir, a resposta é claro que sim, agora se a pergunta for é novamente o melhor filme do ano como foi o primeiro filme, digo com toda certeza que passou bem longe dessa vez.
O longa nos mostra que um súbito e grandioso ataque de mísseis praticamente elimina o Kingsman, que conta apenas com Eggsy e Merlin como remanescentes. Em busca de ajuda, eles partem para os Estados Unidos à procura da Statesman, uma organização secreta de espionagem onde trabalham os agentes Tequila, Whiskey, Champagne e Ginger. Juntos, eles precisam unir forças contra a grande responsável pelo ataque: Poppy, a maior traficante de drogas da atualidade, que elabora um plano para sair do anonimato.
Como falei no começo talvez o maior problema do filme nem seja ele próprio, mas sim a alta expectativa que estamos indo para conferir, pois novamente o diretor Matthew Vaughn consegue criar um ambiente cheio de ação, com ótimas escolhas de ângulos, e muita força dinâmica para que seu filme fosse estiloso do começo ao fim, e ainda mantivesse a essência que nos apresentou no passado, e isso não é errado, muito pelo contrário, é um grande acerto, pois poucas continuações seguem a mesma linhagem de seu original. Porém, esperávamos ver novamente algo original que surpreendesse como fez anteriormente, e aqui ele apenas apertou o CTRL+C e o CTRL+V para entregar inclusive as mesmas piadas, ou seja, deu apenas continuidade ao projeto, saindo um pouco da Inglaterra e passeando por outras paisagens como Itália, Suécia, Camboja, e claro, Estados Unidos, mas até no estilo de filmagem e dosagem de cenas temos muitas semelhanças. Claro que copiar seu próprio filme não condiz como plágio, mas sim mostra que sua mão permanece intacta apenas aprimorando um ou outro custo ali para chamar mais atenção, ou seja, talvez num terceiro filme volte a criar novas possibilidades, mas vai ter de trabalhar muito para cativar novamente o público que foi ansioso demais para os cinemas e saiu apenas com um leve sorrisinho na cara ao invés de sair rolando como aconteceu no primeiro filme. Falando um pouco mais desse sem comparar com o anterior, posso dar leves destaques para a vilã que tendo seu próprio mundinho anos 50 (já colocando junto outro destaque para a parte cênica empregada na Poppysland de muito capricho) conseguiu chamar muita atenção e até valeria bem mais cenas ali com ela, aliás um destaque completo para a parte cênica em si, pois Statesman também ficou muito simbólico, e assim sendo a produção foi algo que trabalhou bem para o contexto completo da obra.
É raro vermos evolução de personalidade em atores jovens, principalmente em pouco tempo, pois em 2014 Taron Egerton parecia um molecote se compararmos seu Eggsy do primeiro filme com o que apresenta aqui, e não apenas no semblante mais sério, mas também no estilo de atuar, o que é algo bacana de ver, pois mostra maturidade no ator e quem sabe em filmes mais elaborados consiga chamar mais ainda a atenção, o único problema é que se no primeiro filme seu estilo mais despojado conquistou a todos, aqui sentimos muito a falta dessa pegada, embora tenha agradado bastante. Todos sabemos que Julianne Moore é uma das atrizes mais completas do cinema, conseguindo variar demais de estilos e agradar em todos, e aqui sua vilã Poppy veio mostrar um vértice ousado de personalidade, de maneira que acaba até nos conquistando com suas vontades, e talvez faltasse um pouco mais de maluquice apenas para ficar completa, afinal vilões costumam ter uns parafusos a menos, e aqui sua ideia recaiu bem para a frase do presidente dos EUA no longa, quase sendo algo "bom", claro que isso foi algo do personagem e não da atriz, mas ela poderia ter composto a personagem mais surtada, que chamaria mais atenção ainda. O vilão de ação Charlie vivido por Edward Holcroft foi bem nas cenas de luta, trabalhando com naturalidade mesmo tendo muitos efeitos cênicos com seu braço robotizado, e embora não tenha trabalhado tantos diálogos, conseguiu entregar boas cenas para empolgar. Voltando para a turma dos mocinhos, ou melhor dos caipiras da Statesman, esperava ter mais cenas com Channing Tatum como agente Tequila, pois fez leves participações e acabou ficando a maior parte do filme de fora, o que é estranho para um ator "caro", mas fez bem ao menos seus poucos momentos, o mesmo tivemos com leves participações de Jeff Bridges como Champanhe, o grande líder da empresa de bebida, que talvez até pudesse ter mais cenas, mas ficou mais quietinho no canto dele, sobrando para Pedro Pascal detonar com o laço tecnológico de seu Whiskey, trabalhando bem tanto as cenas com mais ação quanto os momentos de maior diálogo, o que mostrou que o ator sabe ir a fundo também. E falando da equipe de tecnologia, se no primeiro tínhamos apenas Merlin vivido mais uma vez perfeitamente por Mark Strong, que foi clássico em todas suas cenas, e superando ao máximo na sua final, agora também entrou em cena uma Halle Berry calma até demais (afinal vimos nessa semana toda sua loucura no filme "O Sequestro") com sua Ginger, que até soou mais médica do que tecnóloga, e talvez pudessem melhorar mais isso no próximo filme. E para finalizar temos de falar das surpresas (algumas nem tanto já que nos trailers já haviam revelado a aparição) de Colin Firth bem posicionado com seu Harry, trabalhando meio desorientado inicialmente com motivos claro, mas soando até deveras bobo demais, mas depois encaixando bem e agradando com certas ressalvas, pois talvez alguns momentos seus poderiam ficar mais fortes, mas nada que tenha atrapalhado muito, e claro da sueca Hanna Alström que já havia feito uma leve (e perfeita) participação no primeiro filme como Princesa Tilde, voltou aqui bem colocada e servindo de base para bons momentos da trama. Quanto à participação de Elton John, sem dúvida ele serviu muito bem para todas as suas cenas, e embora soasse extremamente forçado, acabou agradando bastante.
Quanto do visual do longa, volto a frisar que a preocupação em fazer uma produção cheia de contextos cênicos deu à trama bons momentos vintages com toda a cenografia da Poppysland, trabalhando cada símbolo como algo único, como os robôs que não decepcionam a vilã, as lanchonetes, salões, cinemas, boliches e teatros todos ambientados como era nos anos 50, e com isso tudo ali parece algo fora da trama completa, e agrada bastante. Já nos Estados Unidos tivemos um ar mais ruralista mostrando um Kentucky bem moldado em volta de rodeios e bebidas, o que é interessante de se pensar, pois mostra que os britânicos possuem bons preconceitos pelos americanos, e o resultado acabou ficando ao mesmo tempo imponente e divertido. Nos demais países acabamos tendo leves participações, mas o momento de tensão dentro do bondinho na Itália começou bem envolvente e acabou genial (principalmente pela ótima frase do velhinho!), na Inglaterra tivemos boas cenas de perseguição, mostrando que "Velozes e Furiosos" fizeram escola, e por aí vai, sempre mostrando que a equipe quis algo visual e conseguiu, tendo pelo menos dois a três elementos cênicos por ambiente para chamar atenção, e junto disso mostrando que foram pouquíssimas cenas filmadas em estúdio, para criar grandeza cênica. A fotografia oscilou bastante, primeiro por ter mais cenas em locais abertos, segundo por trabalhar como já disse diversos países, ambientes e situações, então com isso, e claro também a loucura do diretor de ter muitas câmeras em movimento, a opção de manter o tom mais claro, sem criar muita densidade de tensão foi acertada. Quanto do 3D da trama, temos alguns bons momentos com objetos vindo em direção e outros tendo profundidade de ambiente, mas nada que você fale "Uau!!", de modo que apenas valha a pena conferir numa sessão com a tecnologia por estar em salas com melhor sonoridade, afinal a barulheira é violenta, mas falar que com os óculos vai mudar algo na experiência é balela total.
Enfim, é um filme honesto, que entrega uma boa dinâmica do começo ao fim, mas que todos esperavam ver algo muito maior, então como sempre digo, devemos ir ao cinema sem expectativas, e assim aproveitar melhor cada momento, mesmo que seja algo repetido, como foi o caso aqui. Confesso que esperava muito mais, mas me diverti e fiquei feliz com o resultado final, e recomendo sim a trama para quem gosta de bastante ação, mas alguns leves defeitos podem ser pontuados, e certamente acabaram prejudicando um pouco não só o conteúdo da história para que ficasse melhor, mas também reduziram a qualidade do impacto (por exemplo já sabermos que Harry voltaria dos mortos nos trailers!). Outro detalhe é que o filme embora seja uma continuação bem apropriada, não necessariamente obriga que você lembre detalhes do primeiro filme, mas se tiver visto mais próximo talvez se divirta com boas sacadas. E sendo assim, vale a pena sim conferir o longa, e se for numa sala de som potente prepare para sair quase surdo da sessão, pois é explosão, tiro e pancadaria para todos os lados. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica um pouco curta, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá.
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