Descobrir uma história interessante faz parte da vida de um produtor, mas como fazer quando a grandiosa história está dentro de sua casa e você precisa arrumar alguém muito bom para contar, interpretar e conduzir ela de modo que fique grandiosa, bem feita e ainda traga todo o simbolismo necessário para que não seja algo em vão? Certamente, essa foi a grande questão na cabeça do produtor Jonathan Cavendish ("O Diário de Bridget Jones") para contar a vida real de seu pai nos cinemas, e embora "Uma Razão Para Viver" tenha sido um filme muito bonito, com ótimas interpretações (que talvez até receba menções para premiações!), o maior erro foi dar a direção completa para um "iniciante" nessa cadeira, afinal Andy Serkis já dirigiu muitos atores em performances expressivas para captura de movimentos, e aqui fez algo incrível com os atores também, mas a trama toda faltou aquela pegada forte que um diretor de peso traria para complementar o roteiro (que é bem interessante por se tratar de algo que mudou o mundo para os deficientes respiratórios!) e que acabaria consagrando a trama como algo muito além do que acabamos vendo nas telonas. Como disse, está bem longe de ser ruim, mas poderia ser imensamente melhor!
O filme nos conta que no ano de 1958, Robin Cavendish, carismático e aventureiro comerciante britânico, sê vê de repente paralisado por poliomielite contraída em viagem de trabalho ao Quênia. Grávida do primeiro filho, sua esposa Diana Cavendish escuta dos médicos que ele jamais sairá da cama e não deverá viver muito mais tempo. Deprimido por não mover nada abaixo da cabeça, Robin inicialmente deseja morrer, mas o inabalável amor de Diana o faz olhar de outra maneira para a situação e desafiar os limites impostos. Baseado em fatos reais.
Volto a frisar que para um primeiro trabalho, o que Andy Serkis entregou como diretor foi o que ele mais sabe fazer: direção de atores num nível incrível, pois possivelmente consiga angariar a segunda indicação de Andrew Garfield para o Oscar, mas como sempre costumamos dizer, no cinema não basta ser um bom diretor de atores, se necessita saber orquestrar todo o resto e ainda reverter um roteiro simples e funcional em algo brilhante, o que Andy não conseguiu aqui, entregando cada cena como algo comum, que até envolve usando do tradicional clichê musical, mas não derruba o público com a comovente história de um amor para se viver. Claro que entregar um argumento para um roteirista e querer que ele retrate a vida de sua família com muito esmero e criatividade é algo que Jonathan não esperava que do grandioso dramaturgo William Nicholson ("Os Miseráveis", "Everest", "Mandela", "Gladiador", entre outros), mas talvez ele poderia ao menos ter entregue um filme mais dinâmico e/ou visceral para que o diretor de primeira viagem apenas captasse as cenas e nada mais, ou que Andy apenas ficasse como diretor de atores, e alguém mais impositivo extraísse tudo o que foi a vida de Robin e Diana, sem ser pelo olhar sereno do filho. Volto a dizer com muita força, o filme é lindo, possui bons momentos, mas faltou a estrela para brilhar, e não foi por quesitos interpretativos.
Já até falei demais das atuações, pois é inegável o trabalho interpretativo que Andrew Garfield conseguiu reproduzir aqui somente com olhares, movimentos de boca, trejeitos faciais e principalmente dicção para que seu Robin ficasse incrível durante praticamente todo o filme, pois inicialmente seu estilo aventureiro e competitivo soou um pouco falso, mas assim que a doença assola a vida do personagem, temos praticamente um novo ator em cena que comoveu e entregou algo que certamente nem mesmo o produtor/filho do personagem esperava ver na tela, incorporando com serenidade e agradando demais em tudo. Claire Foy até possui um bom estilo, uma classe tamanha de interpretação, mas deixou-se ficar muito em segundo plano com sua Diana, pois certamente uma mulher que era teoricamente uma patricinha/madame da época se deixar levar por tudo o que ocorre na trama, é ter muito amor pelo parceiro, e com isso em mente, é difícil vermos sempre apagada e sem muita atitude, sendo apenas alguém amorosa e compreensiva com as maluquices do marido, talvez um pouco mais de primeiro plano para ela, e alguns atos desesperados como fez em duas cenas, deixaria ela mais perfeita para o papel. Dentre os demais, tivemos participações bem espaçadas, tendo cada um, leves destaques cênicos, mas que não chegaram a impressionar tanto pela expressividade/interpretação dos atores, mas sim pelos papéis que desenvolveram, como Hugh Bonneville que entregou o grandioso Teddy Hall criador da cadeira de rodas com respirador, entre outros que foram menores, mas não menos importantes na concepção total, fazendo o principal, deixando que o protagonista se destacasse.
Por ser um filme de época, se passando entre 1958 e 1981, a equipe de arte foi coesa em criar hospitais singelos sem praticamente nenhuma tecnologia (e que chega a assustar como não morriam mais pessoas com as coisas bizarras que eram usadas!), e com locações bem trabalhadas para colocar objetos cênicos representativos para que o filme fluísse bem, de maneira que vemos tudo ali e ficamos pensando em cada detalhe, o que é incrível de ver, mostrando um trabalho minucioso de pesquisa e que claro pelo produtor ter vivido 21 anos junto do pai, viu muito do que ocorreu ali podendo referenciar completamente. Detalhe de como falei da pouca tecnologia, aonde a família vivia, mas ao mostrar um hospital alemão cheio de aparatos estranhos e tecnológicos, o filme deu um choque realmente, principalmente pela frase dita de que hospitais para deficientes eram vistos como prisões, e infelizmente isso não mudou muito até hoje!! Ou seja, um trabalho preciso e bem feito que junto da equipe de fotografia, procurou os melhores ângulos e horários, para que sempre o céu ficasse perfeito, com o sol num tom maravilhoso e muita ambientação de sombras para que os tons encaixassem e ficassem incríveis de ver.
Outro defeito chato do longa é a trilha sonora clichê demais para tentar fazer o público chorar, de modo que no começo chega a fazer chorar de chata e melódica demais, dá uma leve melhorada no miolo, mas volta a forçar a barra no final, ou seja, poderiam ter trabalhado melhor ela para não cansar tanto e ficar monótona demais.
Enfim, é um filme bonito e muito bem interpretado, que teve alguns problemas no percurso para se tornar algo perfeito, mas que vale a pena a conferida tanto para quem gosta de dramas românticos bem feitos, quanto para quem gosta de histórias reais contundentes, ou seja, um grande público, e mesmo com esses defeitos que citei no texto, o resultado final vai agradar e comover quem gostou tanto de "Intocáveis" quanto de "Como Eu Era Antes De Você", pois em diversos momentos a trama lembra ambos os filmes. Ou seja, vá conferir, e curta a sessão, pois vai passar ao menos algumas mensagens bonitas para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a última estreia da semana, então abraços e até breve.
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