Sempre que assistimos filmes com motes trabalhados em mensagens bonitas, a tendência é que algumas nos atinjam e outras passem despercebidas, e com toda certeza o filme "Extraordinário" irá tocar muitos pela beleza singela que possui na sua essência, trabalhando diferenças, valores de amizade, família e muito mais, mas também irá fugir um pouco pelas beiradas trabalhando na doçura da ótima expressividade de Jacob Tremblay de modo que muitos esquecerão de diversos pontos que o filme acaba falhando, e saindo mais emocionados com tudo do que precisamente com o que poderia realmente tocar fundo. Em momento algum vou falar que não gostei do que vi, que o longa não me tocou (principalmente na última cena, que chega a dar uma leve engasgada), mas confesso que fui esperando me emocionar muito mais, e que por ser muito linear (sem nenhum ápice forte para quebrar a trama realmente) acabamos apenas acompanhando alguns dias do garotinho sem muito para refletir realmente, além de ter começado com uma estrutura narrativa muito literária para mostrar os diversos pensamentos/vida dos diversos personagens, o que acabou cansando um pouco. Ou seja, é um belo filme, que vai transmitir boas mensagens, mas que se tivesse pequenas (mas bem pequenas mesmo) mudanças, iria fazer com que o pessoal da limpeza do cinema precisasse de rodos para enxugar as salas com o tanto que iriam chorar na trama.
A sinopse nos conta que Auggie Pullman é um garoto que nasceu com uma deformação facial, o que fez com que passasse por 27 cirurgias plásticas. Aos 10 anos, ele pela primeira vez frequentará uma escola regular, como qualquer outra criança. Lá, precisa lidar com a sensação constante de ser sempre observado e avaliado por todos à sua volta.
Se tem um diretor que vem seguindo uma linha bem própria de estilo é Stephen Chbosky, pois desde que escreveu o livro e dirigiu "As Vantagens de Ser Invisível", já vimos que trabalharia personagens, linhas morais e principalmente deixaria de forma leve sempre temas polêmicos, com seu último trabalho como roteirista não inovou muito, mas entregou bem "A Bela e A Fera" para que o formato fosse revitalizado e ainda conseguiu ser leve, porém aqui ele tinha algo em mãos completamente diferente, pois um livro de sucesso com uma pegada dramática, mas mais pelo público teorizar a face do protagonista, e certamente alguns questionamentos no livro foram mais intrínsecos ao ponto de torcer o coração dos leitores, o que aqui acabou faltando para que a doçura expressiva do pequenino (mas excelente) ator dominasse, e cativasse o público. Ou seja, ao invés de um filme mais dramático e problematizado, tivemos uma história mais bonita e cativante sobre conceitos morais de família, amizade e beleza interior, deixando bem de lado aquela pontada para que o público realmente lavasse as salas de cinema. Não vou dizer que não tenhamos momentos em que chegamos a engolir seco, pois há algumas, mas certamente dois ou três momentos da trama necessitavam ser mais fortes, e que aí sim teríamos um drama emocionante e com uma boa pegada. Ou seja, o diretor fantasiou demais o problema do garotinho, usou uma linguagem literária demais no começo do filme, mostrando cada personagem, suas histórias, pensamentos, e até como viam o protagonista, empacando um pouco o desenrolar da trama, e necessitando cortar muita coisa para esse efeito, e com isso o resultado mesmo bem bonito de acompanhar acaba ficando faltando muito para ser perfeito.
Sobre as atuações, já andei apostando muitas fichas em pequenos talentos, alguns estão cada dia melhores, e com toda certeza se não entrar no mundo das drogas quando mais velho, Jacob Tremblay certamente será daqueles que vamos grudar os olhos na tela pedindo mais e mais filmes com ele, pois o jovem ator já mostrou carisma, personalidade e um afinco interpretativo tão grande nos filmes que fez de diversos estilos, praticamente foi perfeito em todos, e aqui mesmo debaixo de muita maquiagem (sim galera, ele não é feio, muito pelo contrário, já com 11 anos tem um ar de galã imenso), seu Auggie foi tão bem dominado, com doçura e determinação que praticamente queremos ser seu amigo no filme, ajudando ele, ou seja, deu show novamente. Julia Roberts teve grandes momentos expressivos com sua Isabel, trabalhou forte dominando suas cenas, mas certamente já vimos muitos outros trabalhos com mais afinco dela, de modo que poderia ainda ser mais enfática em suas cenas, não que tenha falhado em nada. Owen Wilson teve duas ou três boas cenas com seu Nate, mas praticamente some de cena demais, ficando quase apagado para com o filme. Outra que fez ótimas cenas, e entregou a personagem com mais drama na trama foi Izabela Vidovic com sua Via, pois de certa forma sentimos sua dor de ficar bem em segundo plano na família, ter perdido sua única amiga verdadeira que era a avó (uma bela participação da brasileira Sonia Braga), e que com muita baixa-estima a personagem acabou ficando bem singela nos bons momentos seus. Tivemos muitos bons momentos dos demais garotos/garotas do colégio, cada um entregando algo bom no seu determinado momento, mas claro que temos de dar destaque para Noah Jupe com seu Jack Will cheio de olhares expressivos, e que claramente também terá muito sucesso pelo estilo mostrado, alguns leves pontos de doçura também com Millie Davies e sua Summer, e até o estilo mais duro de Bryce Gheisar como Julian conseguiu nos chamar a atenção, mostrando que o elenco infantil foi escolhido a dedo. Dentre os demais adultos, é claro que temos de destacar Mandy Patinkin como Sr. Buzanfa como um diretor determinado a mudar vidas, e claro Daveed Diggs como o professor Browne que chamou bem com seus ditados em cada aula.
Dentro do conceito visual, a equipe de arte digamos que foi precisa para caracterizar cada momento do livro, agradando muito com diversos elementos de Star Wars (ótima data para escolha de lançamento!!), uma escola comum, mas bem cheia de apetrechos cênicos, e claro uma casa bem colocada para retratar a vida mais reclusa do personagem, claro que unindo isso tivemos uma boa equipe de maquiagem para fazer a prótese facial do garoto (que inicialmente ficou realmente parecendo como uma máscara, mas no decorrer da trama nos acostumamos tanto que já parece real mesmo, tanto que muitos estão achando que Jacob é daquela forma!), muitos figurinos próprios tanto para as cenas de Halloween, como para os personagens conhecidos, e até mesmo para que o filme ficasse real como uma escola deve ser, ou seja, um trabalho minucioso, bem feito, mas que não necessitou abusar da boa vontade. Agora a fotografia poderia ter auxiliado mais na tensão dramática da trama, pois tudo está sempre num tom calmo, e isso não é algo comum de ser visto em longas com problemas a serem tratados, e sendo assim, o vértice quase recai para uma comédia, ou seja, ficou alegre demais.
Enfim, volto a frisar que é um filme bem bonito, mas que poderia ter dois rumos completamente distintos do que foi entregue, ou dramatizar mais e tudo ficar bem duro ao ponto de chorarmos muito com o que seria mostrado, ou ser até bem mais feliz, mostrando mais positividade na vida do garoto e sua busca por ser "comum", mas que acabou ficando em cima do muro, agradando sim visualmente e com boas doses homeopáticas de lições morais, mas que não atinge nenhum ápice. Ainda assim recomendo ele, pois como costumo dizer, filmes com boas lições valem a conferida, mas vá com menos expectativas, que a chance de gostar dele é maior. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas esse foi apenas o começo dessa semana que terá muitos posts, então abraços e até breve.
PS: Talvez um 7,5 seria a melhor nota para o filme, mas como não tenho notas pela metade, vamos para baixo por achar que faltou algo mais duro e/ou um ápice mais forte.
2 comentários:
O desempenho de Jacob Tremblay fez a diferença na história. Ele é um grande ator, que pode lidar com todos os tipos de gêneros. O papel que realizo em a Refém Do Medo é uma das suas melhores atuações, a forma em que vão metendo os personagens e contando suas historias é única. Na minha opinião, este foi um dos mehores filmes de suspense que foi lançado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio O filme superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. Jacob Tremblay esta impecável. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções.
Olá Mariana, bom saber, esse como acabou não vindo para os cinemas acabei não assistindo, tentarei ver on demand, abraços e obrigado pela dica!
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