quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Fala Sério, Mãe!

Acho divertido quando um longa consegue retratar bem um grupo, e muitos acabam se identificando com o que é passado, e facilmente "Fala Sério, Mãe!" possui uma linguagem e um estilo desenvolvido pelos personagens que vão retratar as mães e filhas em diversas fases de suas vidas, o que acabou deixando o longa leve e amplo para agradar um grande público de mulheres, e até muitos homens vão conseguir se divertir com as situações vendo suas mães e irmãs na telona. Digo isso com felicidade de ver que um livro bem adaptado que poderia virar completamente uma novelona, acabou desenvolvido em um formato que até lembra o estilo de seriado, mas que com uma proposta rápida de cinema acabou soando interessante e agradável. Claro que a trama por possuir uma estética rápida e um conceito de trabalhar a protagonista em várias idades acabou pecando em alguns pontos técnicos que vou citar mais para baixo, mas posso dizer que facilmente passará batido pelo público em geral, e a maioria vai acabar gostando muito do que verá no cinema, e só isso já basta para que um estilo jovial tão fora do comum acabasse virando um longa familiar, aonde a síntese trabalha sozinha.

A sinopse nos apresenta Ângela Cristina, mãe da adolescente Maria de Lourdes, que está tendo a experiência de guiar sua filha durante uma das fases mais complicadas da vida. Ela vive uma montanha-russa de emoções, com medos, frustrações e um caminhão de queixas para descarregar. Por outro lado, Malu, como prefere ser chamada, também tem suas insatisfações. Teimosa, sofre com os cuidados excessivos e com o jeito conservador da mãe.

Baseado no livro homônimo de Thalita Rebouças, o roteiro escrito à três mãos, por Paulo Cursino (que trabalha mais com comédias e aqui entrega um gênero mais diferenciado e doce, embora tenha um lado cômico também), Dostoiewski Champangnatte (em seu primeiro longa não-independente) e surgindo em uma nova carreira, Ingrid Guimarães também vindo como roteirista colocando com certeza suas ideias de mãe/mulher para a composição de sua personagem, e certamente a equipe conseguiu o feitio que o livro de 2004, que é um sucesso de vendas, tanto comoveu mães e filhas numa linguagem bem simples, leve e agradável. Aí entra em cena, um diretor que já havia acertado a mão no seu primeiro longa ("O Concurso"), e que vem num crescente imenso após ter dirigido uma das novelas de maior sucesso neste ano ("A Força Do Querer"), e é notável a mão que Pedro Vasconcelos quis imprimir na trama, trabalhando cada ato como um tempo/estilo de passagem da mulher, valorizando seus momentos, suas ideias e tudo mais, colocando emoção em cada momento, contrabalanceando com boas doses cômicas, de modo que não virasse um novelão, nem uma minissérie pronta para ser exibida amanhã, ficando realmente com cara de filme e com situações bem colocadas de maneira gostosa e interessante. Claro que temos de pontuar os defeitos, como por exemplo a falta de uma mixagem um pouco melhor nas músicas, que até tentaram parecer fazer parte dos momentos cantados pelos protagonistas, mas sobrepuseram tanto os momentos que pareciam estar fora do contexto, também tivemos o uso claro de uma protagonista com muitos fãs (para claro dar bilheteria), que vem melhorando, mas que ainda não tem uma postura de atriz expressiva, ficando sempre abaixo de sua mãe na trama, e também não classificaria como um defeito técnico, mas sim uma falta de tempo para tudo, a forma rápida de todos os momentos, afinal valeria desenrolar mais alguns atos, mas para isso a trama acabaria virando mais que um filme e/ou série, e isso não é algo que queremos. Mas como frisei, são detalhes técnicos que vão passar despercebidos por quem for ao cinema apenas para curtir e se emocionar junto de sua mãe, de modo que o resultado em si, vale mais do que os defeitos aparentes.

Sobre as interpretações é bem fácil falar, pois praticamente o filme inteiro se desenvolve com as duas protagonistas e alguns personagens se conectando a elas, e como era de se esperar, Ingrid Guimarães entrou completamente na personalidade mãezona de sua Ângela e representou praticamente como ela diz em uma cena que já aparece no trailer, as mães de todo o Brasil, incorporando desde detalhes dramáticos como dúvidas da gestação, traição, brigas até os momentos mais cômicos que já está acostumada como micos com a filha e dancinhas bobas, de modo que foi completa em cena, e claro que para passar vários anos também trabalhou muito seu visual mudando cores de cabelo e maquiagem, alguns acertados, outros que não combinaram tanto com ela, como o cabelo completamente preto, mas isso é mero detalhe, pois a atriz fez bem o papel e acertou em cheio todos os momentos que precisava fazer. Larissa Manoela tem melhorado suas expressões (ainda continua muito dura e com poucas facetas), mas claramente foi escolhida bem mais pela grande quantidade de fãs que possui do que por ser a escolha perfeita para o papel de Malu, pois sua personalidade em diversos momentos soou bem falsa, mas tirando esse detalhe, a atriz foi carismática e encaixou bem quando não necessitava muito para o papel, como já disse em outros momentos, está cada vez mais bonita, e se melhorar a forma expressiva, tem chances grandes no futuro sem depender do carisma dos fãs, e sim do seu próprio carisma, pois seus trejeitos aqui pelo menos já foram mais bem colocados e nos diálogos também soube dosar uma interpretação bem trabalhada. Sobre as versões mais jovens de Malu, o destaque fica para a pequena Duda Batista que simplesmente arrasou nas cenas do balé e durante as discussões com as amigas, mas também Vitória Magalhães conseguiu imprimir boas características para a jovem na fase dos 10 anos. Marcelo Laham trabalhou bem as expressões tradicionais de pais em brigas de mulheres, ou seja, deixa que elas se resolvam, e fique apenas sorrindo, e com isso o seu Armando foi feliz em não se posicionar muito. Destaque negativo também para o par romântico da garota, interpretado por João Guilherme, que mais fez caras e bocas do que apareceu pronto para fazer algo realmente, e com isso é quase um enfeite que aparece e desaparece. E destaque positivo mesmo que rápido para as participações de Fábio Jr. e Paulo Gustavo.

No conceito visual, a trama foi muito bem produzida, e embora a maioria das cenas se passe dentro do apartamento da família, tudo foi possível ocorrer com boas passagens de tempo, com os figurinos bem elaborados, dinâmicas coesas e claro muitos elementos cênicos para mostrar a profissão da mãe, os dotes de figurinista/estilista de moda da filha, a rebeldia do garoto, e tudo mais que pudesse ser usado para representar, além de quando saiam do apartamento para a escola, supermercado, parquinho e até mesmo na viagem que foi a parte mais fraca do longa foi bem encaixado na parte artística para que tudo funcionasse bem, ou seja, uma produção cênica bem colocada. A fotografia ousou pouco, trabalhando tons mais quentes para que a trama tivesse uma comicidade bem encaixada, e colocou alguns tons escuros nas cenas que exigiam uma dramaticidade, mas bem de leve, sem que o clima ficasse tenso demais, e com isso o longa mais diverte do que emociona, embora as mães e filhas que mais se conectarem com a trama irão talvez se emocionar um pouco.

A trilha sonora conta com boas escolhas musicais, mas como disse no começo foi uma das falhas do longa, pois na mixagem ficaram altas demais e soando falso como uso dramático dentro do longa, parecendo estar solta e não orgânica com a trama, mas isso só vai atrapalhar quem entender um pouco, pois no geral ela serviu bem para ditar o ritmo e emoção que cada uma poderia dar, claro tirando a música original com os personagens cantando no final que foi bem desnecessária.

Enfim, é um filme muito gostoso de assistir, que vai agradar as famílias que forem ao cinema conferir a trama, claro que com os devidos estilos, pois quem não gosta desse ar mais caricato e cheio de clichês representativos para realmente mostrar os diversos estilos de mães e filhas, impregnados nas duas protagonistas, talvez deva evitar, mas confesso que até os mais revoltados com esse estilo devam se divertir ao reconhecer suas mães em cena em algum momento. Portanto fica a recomendação, e eu fico por aqui, mas amanhã já volto com mais uma estreia da semana, então abraços e até breve.

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