O empoderamento feminino é algo que anda muito na moda atualmente, e com grande satisfação tem aparecido diversos filmes mostrando que bem lá trás muitas mulheres lutaram por direitos de uma forma bem difícil, e claro que usando de muitos bons argumentos ultimamente alguns filmes tem mostrado essas batalhas usando comicidade na medida e precisão para chamar a atenção sem apelar. E se em grandes centros as brigas eram fortes, com mulheres bem revolucionárias, dinâmicas impactantes, como foram nos pequenos centros, nos minúsculos e em aldeias? Já se perguntaram isso? Pois bem, não precisa perguntar mais, pois "Mulheres Divinas" nos entrega com muita personalidade, atuações fortes e muita clareza como aconteceu em uma pequenina aldeia no meio da Suíça, trabalhando mais a essência da revolução do que ela em si, e talvez seja esse o maior pecado de um filme que poderia ser chocante e forte caso quisesse trabalhar mais forte o drama das personagens ao invés de usar um lado mais cômico para que o filme não ficasse pesado.
O longa nos situa na Suíça, em 1971. A jovem dona de casa Nora vive com seu marido e seus dois filhos numa pequena aldeia. Até então sua vida era tranquila e não tinha sido afetada com as grandes revoltas sociais e o movimento de 1968, mas, é aí que Nora começa a fazer campanha pelo direito de voto das mulheres.
Na Mostra sempre é interessante que ver alguns diretores talentosos que surgem e que muitas vezes nunca vimos nenhum de seus trabalhos, e confesso que ao ver o estilo de Petra Volpe aqui fiquei curioso por outros trabalhos seus, pois a diretora não quis colocar firulas em sua trama, desenvolvendo de cara a personagem, uma dona de casa que quer trabalhar e seu marido detém o direito de deixar ou não, optando pela segunda opção quando lhe bate a revolta e começa a ir atrás de outros grupos em cidades maiores, para fazer o mesmo em sua cidadela, conhecendo assim outras mulheres fortes e conhecendo até mais ela mesmo. Ou seja, não temos um filme que enrola em conflitos paralelos, situações simples, e tudo mais, indo direto ao ponto, criando a ideia e a desenvolvendo com muita desenvoltura, e talvez só tenha pecado um pouco pela atriz não ser tão forte na expressividade, parecendo realmente terem pego uma dona de casa para fazer o longa como protagonista (o que não é o caso, pois já é uma atriz conceituada lá na Suíça!).
Talvez seja falta de assistir mais filmes suíços, mas a atriz Marie Leuenberger nos entregou uma Nora simpática, determinada e cheia de objetivos, mas que talvez tenha incorporado demais a personalidade simples e mesmo com um cabelo moderno ficou sempre dois passos atrás da câmera, com uma timidez estranha em que aparentava medo de estar fazendo tudo correto, coisa que uma protagonista mesmo simples não pode fazer, e assim acabou deixando o longa não tão impactante como poderia. Tanto a atriz foi fraca, que até mesmo a moderna italiana dona da pizzaria interpretada por Marta Zoffoli quase roubou a cena nas suas participações, sendo coerente nos diálogos e agradando bastante, mas ela foi quase, pois quem realmente detonou em cena foi Sibylle Brunner com sua Vroni, fazendo trejeitos, sendo sublime nas cenas e incorporando a personagem com maestria. Dos homens todos fizeram o ar mais machista possível, e acertaram em cheio com bons trejeitos, mas claro que o protagonista Maximilian Simonischek entregou um Hans na medida certa, e sua cena fazendo comida foi perfeita.
Dentro do conceito visual, sempre falo que se você precisa criar um longa de época recaia sobre uma vila, aonde tudo parece que parou no tempo e sua locação será perfeita, de modo que aqui realmente vemos os anos 70, com figurinos, cabelos, personalidades, objetos e tudo mais de cenografia que a equipe de arte pudesse compor, agradando e mostrando em detalhes tudo da revolução da época, ou seja, um grande acerto. A fotografia tentou sujar as imagens com ranhuras e raspagens dando um tom de filme velho, que com sombras escuras até ficou clássico demais, mas poderiam não ter usado tantos ruídos que a imagem mais limpa deixaria o longa mais bonito visualmente.
Enfim, é um filme bacana de época, com conteúdo e boa dinâmica entregue pela diretora, mas ainda assim poderia ser bem melhor se a protagonista assumisse realmente a força da trama e entregasse algo mais visceral realmente. Ainda assim, vale muito a conferida, principalmente por estarmos novamente em uma fase de lutas feministas, e que todos vejam como lá trás já se falava disso de maneira forte. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com o texto da grande estreia da semana, e no sábado volto a conferir mais longas da Mostra Internacional, então abraços e até breve.
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