Olha, já tinha visto diretores mudarem estilos dramáticos para algo diferenciado, mas George Clooney dessa vez abusou de tudo o que se poderia esperar de uma trama em "Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso", que começa bem devagar introduzindo o estilo de vida americano dos anos 50, com subúrbios calmos, pessoas vivendo suas vidinhas de fofoca, quando de repente o estouro acontece, com a introdução de algo que mais incomodou essa vidinha pacata do subúrbio: a elitização das classes menores, com negros podendo comprar também uma casa em um bairro desse estilo, e aí começa a desordem com muito preconceito escancarado, fortes cenas de degradação, mas tudo feito dentro do estilo que o diretor desejava mostrar, como a quebra de eixos. Bem, até aí tudo bem, se o filme focasse só nisso, mas temos uma segunda trama, que essa sim é a principal (ou não?) de um jovem empresário que fica devendo para a máfia para alcançar status e resolve dar o velho golpe do seguro, ou seja, a reviravolta familiar acontece com desgraça vindo em cima de desgraça. Ou seja, um filme que possui sim o elo dramático impregnado na trama, mas trabalha tantos outros, passando pelo humor negro, terror, filmes de máfia e com isso o resultado geral dessa bagunça é confuso e poucos irão se apaixonar pelo que verão na tela, mas diria que é o mais perto que Clooney vai chegar de um filme mais artístico/diferenciado, pois temos vértices bem menos comerciais e algo mais encaixado em curvas de festivais, claro que ousando um pouco em alguns detalhes.
O longa nos situa na cidade de Suburbicon, em 1959. Quando uma invasão de domicílio se torna mortal, a família aparentemente perfeita de Gardner Lodge se submete à chantagem, vingança e traição, gerando um rastro de sangue que mancha o suposto paraíso.
Praticamente todas as direções de George Clooney são bem controversas, pois ele não é adepto do fácil visual, mas também é oposto de roteiros mais fechados, e com isso suas tramas oscilam demais de estilo, deixando o público por vezes bem confuso com o que é apresentado, mas claro que aqui a responsabilidade não é 100% sua, afinal o roteiro dos irmãos Cohen estava engavetado há anos e possui um estilo próprio que muitos gostam, mas que foge completamente do usual. Não digo em momento algum que isso seja algo ruim, muito pelo contrário, o longa trabalha muitas questões polêmicas com facilidade, mesmo que seja bem duro enxergar a verdade crua na tela sem uma delicadeza para engolir, fazendo isso claro através de bons momentos de humor negro, e por vezes algumas tomadas mais aterrorizantes. Claro que friso que o longa passa bem longe de ser algo que você vai ao cinema e se apaixona pelo que verá na tela, mas ao menos conseguiram trabalhar um tema forte usando motes quebrados que é raro de ver em produções hollywoodianas.
No conceito das atuações, já vimos Matt Damon bem melhor em muitos filmes, e mesmo aqui seu personagem Gardner indo num crescente bem interessante de loucura/desespero para com sua situação, o ator foi ficando com semblantes forçados, o que não é comum de ver em grandes astros. Se em "Extraordinário" já havíamos elogiado o trabalho do jovem ator Noah Jupe, aqui ele mostrou firmeza nas expressões de terror e na situação completa que acaba enrolado ninguém faria diferente, mostrando que sabe mesmo jovem como uma pessoa se sentiria, e seu Nicky é daqueles que mostram a que foram colocados no mundo, não aceitando desculpas esfarrapadas dos pais, ou seja, o talento do jovem se mostra e incorpora no personagem algo bem incrível de ver. Julianne Moore sempre está perfeita, e aqui apareceu bem diferente do usual sem suas madeixas avermelhadas, de modo que nem a reconhecemos de cara com sua Margareth, muito menos com sua Rose, ou seja, fazendo papel duplo a jovem inicialmente trabalha forte, mas vai incorporando ares tão monstruosos e expressivos que ficamos sem ar, ou seja, arrasou. Temos muitos outros bons papeis, que chamam a atenção e por vezes até quebram o vértice dos protagonistas, mas para destacar alguns bons nomes temos de pontuar Karimah Westbrook como Sra. Mayers que não se deixou abalar em momento algum com todas as provocações, e certamente mesmo incorporando o personagem deve ter sentido muito impacto nas suas cenas, e Oscar Isaac bem diferente do que costumamos ver como o investigador Cooper em algo mais duro e bem interessante.
Visuais de época sempre dão muito trabalho e aqui a equipe de arte não economizou na criação de um bairro/cidade bem tradicional dos anos 50, com símbolos estéticos bem incorporados e ousando no cerne do preconceito, colocou tudo em cima das nuances em torno das duas casas, uma de negros sofrendo o preconceito sem fazer nada, e na outra de brancos picaretas se matando por dinheiro, ou seja, além do contraste étnico, a trama trabalhou bem os objetos e tudo mais para desenvolver muito em cima disso. Ou seja, um trabalho de figurinos, objetos cênicos e tudo mais, que sem as grandes atuações não incorporaria em nada. O longa também conceituou na fotografia cores bem densas para deixar o tom mais dramático, pois esse mesmo filme caberia fácil só num tom mais cômico e até leve, mas sairia do estilo proposto e não chamaria tanta atenção.
Enfim, é um filme interessante, mas que certamente muitos vão sair da sessão como aconteceu comigo: sem saber se realmente gostou do que viu, ou se não entendeu aonde desejavam nos tocar. Digo que certamente é um filme para se ver mais do que uma vez para tirar conclusões maiores, mas por hora vou ficar em cima do muro, dizendo sim ser um bom filme, mas que poderia alcançar rumos maiores e apontar melhor o dedo, e sendo assim recomendo ele com a ressalva de que não é um longa para todos, principalmente para quem deseja ter um momento de descontração na sala de cinema. Bem é isso pessoal, fico por aqui desejando um bom Natal para todos, afinal só volto com textos na próxima terça, então deixo meus abraços e até breve.
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