Muitos vão falar que sou aficionado por neve, mas se um bom filme trabalha bem a essência do frio com todas as simbologias que pode se passar, desde o sangue frio de um caçador de predadores, o clima denso de não saber o que pode acontecer a cada nova cena, e a temperatura baixa para que os sentimentos aflorem na medida certa é o charme que um bom suspense deve ter, e aqui em "Terra Selvagem" conseguiram trabalhar tão bem todos esses elementos que se posso reclamar de algo talvez seria apenas da cena de enfrentamento ser forte, mas falhar em alguns pontos, pois de resto tudo é mais do que perfeito, e com toda certeza é um dos melhores filmes para se recomendar no momento.
O longa nos situa no Wyoming, região remota chamada Native American, aonde Cory, agente americano de Pesca e Vida Selvagem, encarregado de caçar coiotes e predadores, traumatizado pela morte da filha adolescente, encontra o corpo congelado de uma mulher na imensidão da Reserva Indígena de Wind River. Para ajudá-lo na investigação, o FBI envia uma agente novata, que desconhece a região, especialmente quanto as áreas de reserva dos índios.
Em sua primeira grande direção, o roteirista aclamado por "Sicario: Terra De Ninguém" e "A Qualquer Custo", Taylor Sheridan vem nos entregar algo, que como citei no começo do texto, brilha sozinho seja pela cenografia quase vazia, diálogos abertos entre os protagonistas, e principalmente pela essência que a trama consegue ir tomando com a ambientação completa, desenvolvendo nuances poucas vezes vistas (algumas nos longas que roteirizou), e que vão entregando aos poucos cada ato sem precisar ter pressa, o que de modo algum gera um longa lento, muito pelo contrário com dinâmicas viscerais e impositivas que fazem com que o público entre ao mesmo tempo no desespero da novata que só quer seguir as regras, mas não sabe como, junto com o homem forte da cidade que só deseja vingança para com suas resoluções, nem que para isso necessite realmente caçar os "predadores" que vem destroçando a sociedade aonde vivem com muita frieza na alma, e um sentido de encontrar tudo o que deseja como um grande caçador que realmente é. Ou seja, um filme limpo, cheio de força e que vai sendo trabalhado com muita emoção e finalizado da melhor forma possível, mesmo que muitos desejassem nem ver a cena de como realmente a moça sofreu, o resultado acaba sendo perfeito e bem colocado, de modo que certamente o diretor vai ganhar muitos outros bons projetos (alguns de textos seus com toda certeza!) para dirigir muito em breve.
Se tem um ator que oscila muito na forma de entregar seus papeis é Jeremy Renner, e aqui seu Cory felizmente é um dos melhores que já fez, pois colocou personalidade, determinação e muito impacto na forma que pegou o personagem e desenvolveu as características claras de justiceiros das terras mais vazias dos EUA, aonde predominam animais, neve, índios, e claro, pessoas ruins, afinal isso está presente em todos os cantos do mundo, com isso a forma de caçador que o ator caracterizou, juntamente com diálogos precisos cheio de trejeitos bem pautados deram um ar para o personagem que poucas vezes vimos na telona, sendo perfeito e digno de ser até lembrado em premiações, mas isso veremos mais para frente. Elizabeth Olsen tem evoluído demais em suas performances, e aqui sua Jane é a característica marcante de agentes despreparados que são jogados em casos que a polícia (no caso lá o FBI) não tem muito interesse em gastar seus bons agentes, ou seja, a jovem chega perdida, enfrenta adversidades, mas com muita dinâmica expressiva consegue ir se impondo e mostrando garra para que a personagem funcione, ou seja, a atriz deu show também. Junto dos dois, tivemos uma grande sagacidade por parte do grande ator indígena Graham Greene, que aqui como um policial da reserva indígena demonstrou aptidão para o caso, e com bons olhares, diálogos curtos e bem colocados, conseguiu incorporar o personagem e agradou na medida certa. Dentre os demais, tivemos mais bons atores indígenas com papeis curtos, mas precisos, e dentre os "vilões", a cena de resolução foi rápida demais, mas todos foram bem expressivos, e o resultado ficou incrível na finalização no topo da montanha.
Como já disse no começo, sou um apaixonado por longas que envolvem muito branco, pois a neve e o ambiente quase sem nada, apenas os personagens, a neve caindo, árvores ao fundo, armas e casas abandonadas acabam criando um ar tão preciso de suspense, que a equipe de arte nem precisaria ter enfeitado as casas com tantos elementos visuais para mostrar a vida destroçada do protagonista, deixando que somente seu ar rude dominasse, mas foi uma solução bem colocada e que agrada bastante para mostrar o trabalho da equipe cênica, que com muita certeza sofreu um frio imenso no meio do nada aonde foi gravado o longa. A fotografia também sofreu muito, pois quanto mais branco na tela, mais difícil de criar a atmosfera de iluminação, mas o resultado acabou ficando lindo visualmente, e todas as nuances beiraram a perfeição.
Enfim, é um filme muito bom de suspense, que tem ritmo e segura o espectador do começo ao fim, e mesmo que seja uma linha fácil de interpretação (o que muitos não gostam de ver), tudo como foi entregue acaba sendo desenvolvido na medida certa para irmos entrando no clima, e ficando com raiva dos culpados, o que deve sempre acontecer em longas desse estilo. E sendo assim, é claro que recomendo demais essa grande obra para todos, e que venha mais suspenses desse estilo para o cinema, pois a situação toda consegue causar tensão, emoção e tudo mais no público. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana, já me preparando para a próxima que deve vir bem recheada de estreias para o interior, então abraços e até breve.
PS: Não dei nota máxima pelo simples fato do fechamento com os culpados ser algo rápido e sem muita determinação, claro que não poderia ser de forma diferente, mas poderiam ter trabalhado mais a cena.
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