Muito casualmente ficamos na dúvida de como classificamos e até analisamos uma exposição de arte moderna, e principalmente o que o artista desejava passar para o público (ou para ele mesmo) quando criou a sua obra. Da mesma forma também ficamos pensando se tudo o que está em um museu é arte, ou seja, como dito logo na primeira cena do filme "The Square - A Arte Da Discórdia" se você largar sua bolsa dentro de um museu, ela passará a ser uma obra do museu? Pois bem, isso pode gerar muitas discussões, mas assim como o protagonista encerra sua entrevista falando para a repórter se ela entendeu parte do que havia escrito em seu site, também ficamos com isso em mente, mas serve para mostrar a ênfase que o diretor irá dar em sua obra, pois com uma nova exposição prestes a ser lançada no museu, a explicação do que a artista queria que sua obra transcendesse vai ser refletida em inúmeras formas na vida e nas atitudes do protagonista, o que praticamente um cego conseguirá ver a ideia impregnada na tela, abstraindo que o quadrado, ou melhor, o meio que você está inserido em determinado momento determina suas regras, leis, efeitos e tudo mais ao seu redor, tendo deveras consequências, e você deve estar disposto a enfrentá-las. Ou seja, um filme bem reflexivo, que cansa por ficar batendo na mesma tecla por diversas maneiras, mas que ao saber transformar muito bem alguns momentos acaba sendo ao menos divertido e até didático para explicar arte para algumas pessoas. Sei que muitos vão gostar do que verão, outros odiarão completamente, e terá também aqueles que como eu, verá pontos fortes misturados com fraquezas, que se cortassem metade do filme deixando ele com 100 minutos no máximo, seria perfeito!
O filme conta a história de Christian, respeitado diretor de um museu de arte contemporânea de Estocolmo que se envolve em situações inesperadas após o roubo de seu celular. Enquanto isso, Christian se prepara para receber uma nova exposição: The Square, cuja proposta é convidar os visitantes a refletir sobre seu papel como seres humanos responsáveis e altruístas. Porém, a inesperada campanha de divulgação da instalação acaba provocando resultados desastrosos.
O cinema do diretor Ruben Östlund é algo que sempre faz refletir na essência que deseja passar, mas também trabalha muito a contravenção, usando de artifícios fortes, que provoquem o inusitado nas pessoas, mas sem que tire a graça ou a dramaticidade que deseja em suas cenas. Dito isso, quem viu "Força Maior", seu longa anterior, vai até ver trâmites bem semelhantes de discussões nesse novo longa, mas aqui a discussão de "ser humano" como deve ser visto e "arte" como deve ser discutido é tão forte, que acabamos pensando demais e curtindo de menos o trabalho todo, de modo que a trama fica parecendo arrastada, mas que vai sim entrar em nossa mente e fazer refletir sobre diversas atitudes. Ou seja, ele atinge seu objetivo como arco reflexivo que sempre muitos diretores/roteiristas preferem trabalhar em longas mais artísticos. Volto a frisar que removeria ao menos umas 5 a 6 cenas deixando ele mais comercial, interessante e que manteria o mesmo traço da ideia original, mas não ganharia a Palma de Ouro em Cannes.
Sobre as interpretações, posso dizer que todos fluíram com seus personagens, alguns secundários exageraram demais, quase assumindo a personalidade máxima, mas que com certeza o protagonista foi escolhido a dedo, de modo que Claes Bang dá um show como curador do museu, e mais do que fazendo a personificação de pessoas desse estilo, e deu um show como ser humano que sofre e age fronte a diversas situações casuais (algumas nem tão casuais) com seu Christian, ou seja, arrasou. Dos demais, vale leves pontuações para o dublê de macacos em todos os filmes hollywoodianos Terry Notary que aqui faz Oleg, um homem macaco, e a participação de Elisabeth Moss como Anne, numa das cenas mais bizarras de sexo que já vi ultimamente no cinema, e claro depois com a tradicional DR do dia/mês seguinte.
No conceito visual, escolheram um museu muito imponente, obras completamente bizarras (mas que certamente todo museu moderno tem!), locações fortes como o apartamento do protagonista lotado de espelhos para manter seu ego nas alturas, um prédio singelo, mas pobre de conceito para poder fazer um certo preconceito com prédios populares, e muitos objetos pontuais para criação, como por exemplo o vídeo de divulgação mais maluco dos últimos anos, mas que ficou incrível.
Enfim, é um filme de conceito interessante, mas que vai agradar mais quem curte realmente longas mais artísticos, e quem preferir algo mais dinâmico acabará sim vendo boas cenas, mas que após muita martelação teorizada sobre o tema acabará cansado com o que estará vendo na tela. Friso que vale ver a trama pelas mensagens passadas do meio em que vivemos, atitudes que temos e tudo mais, mas que talvez em casa acelerando seja bem melhor. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais longas da Mostra Internacional, então abraços e até breve.
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