Se tem um gênero que não me sinto tão à vontade de escrever é o documental, pois na maioria das vezes vemos tantos documentários jornalísticos que trabalham o tema quase como uma entrevista sobre o tema, com opiniões formadas de perguntas formatadas, que acaba mais cansando ou soando informativo do que como um filme realmente, porém hoje fui tão surpreendido com "Visages, Villages", que por bem pouco não concordo em 100% com os dizeres no topo do pôster, pois não digo ser o melhor filme do ano, mas o melhor documentário com toda certeza assino embaixo, pois é uma delícia assistir a trama, ir vivenciando os lugares que os diretores/protagonistas vão passando, as impressões mágicas e enormes feitas por JR, a personalidade e escolha de ângulos de Varda, e a leveza que os dois lidam com os costumes do interior, com as pessoas, e até mesmo entre eles, afinal a diferença de idade e pensamentos entre os dois é imensa, mas acaba sendo um casamento e tendo uma química tão grande de quase neto/avó. Ou seja, vamos acompanhando cada detalhe como algo único, afinal como JR fala em determinado momento suas imagens são únicas, já que sempre será novos personagens, e rápidos, pois o tempo pode apagar essa impressão em horas, mas certamente quem conferir o longa não irá esquecer essa imagem tão brevemente, afinal é algo que realmente marca.
O documentário retrata uma experiência fotográfica e cinematográfica de duas grandes pessoas conhecidas por questionarem a cultura da exibição das imagens: Agnès Varda, cineasta, e JR, fotógrafo e criador de galerias e exposições fotográficas ao ar livre. Juntos, viajam por algumas regiões da França, bem longe dos centros urbados, com um caminhão que captura imagens de forma mágica.
Passaria a noite tecendo elogios ao que a dupla Varda e JR fizeram com sua trama, criando situações que às vezes pareciam ensaiadas, outras mais descontraídas, mas sempre trabalhando a essência de conhecer vilas interioranas quase abandonadas, as pessoas dali, seus costumes, o que achavam de virar famosos momentaneamente com as impressões de JR em seu carro (e que impressora é essa!!! Fazendo diversos impressos imensos que recortados e colados viravam parte da paisagem da vila!), e com muita dinâmica foram contando suas histórias, os problemas de saúde que Varda passa (afinal 89 anos e ainda dirigindo filmes não é pra muitos!!), como imaginam as cores, como ela captou diversos momentos no passado, e com isso vamos acompanhando quase que como um bate-papo gostoso e interativo, que por vezes já nos víamos até respondendo junto, ou seja, algo que ao menos eu nunca vi no cinema documental, e com isso já posso colocar esse como meu documentário favorito.
A forma da imagem foi bem construída usando muito simbolismo nas locações e nas pessoas de cada lugar que foram, criando as situações sozinhas como em um road-movie despreparado, mas que na montagem acabou tendo uma ordem bem seguida, e isso embora muitos possam achar desagradável, soou lindo de ver, e a cada um que passava pelas câmeras nos deixava com muita vontade de conhecer suas histórias, seja pelas mulheres dos estivadores, pelo cara que toca os sinos da cidade, pelo carteiro que também é pintor, pelo senhor de rua que vive colecionando tampinhas e montou seu próprio mundo, pela garçonete tímida, pela senhora filha de mineiros que não saiu da vila, e por aí vai. E até mesmo o fechamento um pouco triste pela situação que Jean-Luc Godard acabou causando, mas que simbolicamente funcionou para o desfecho da história da forma como deveria, ou seja, pode até ser que tenha sido ensaiado esse momento, mas encheu nossos olhos de lágrimas, até mesmo não sabendo da vida pessoal da diretora e quem era Jacques Deny, seu marido falecido.
A trama foi sendo dimensionada com muito colorido, impressões em preto e branco, juntamente com uma fotografia cheia de ângulos e vivências, e aliado a tudo isso uma trilha sonora tão leve e simbólica que nos permeia a entrar na ideia do filme e fazer com que o tempo voe na sala do cinema, e isso é algo que poucos filmes conseguem.
Enfim, é algo que recomendo demais, que vai trazer uma doçura imensa ao ver a relação entre os protagonistas, e que mais do que algo sendo documentado, vai mostrar algo sendo vivido e que vai valer a conferida. Espero que seja lançado comercialmente para que todos possam ver, pois sei de muitos que não puderam ir na Mostra Internacional hoje e que vão se apaixonar pelo longa. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dois filmes da Mostra que está sendo exibida em diversas cidades pelo SESC e aqui em Ribeirão Preto está ocorrendo no Teatro Minaz. Abraços e até breve.
PS: Pensei em dar 9 coelhos por certos exageros de parecer natural, algumas coisas artificiais, mas saí encantado com o que vi e não tenho como remover nota dessa beleza!
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