Sabe aqueles filmes que você já vai sabendo que verá uma grande batalha de diálogos de todos os tipos, aonde o roteiro vai superar completamente qualquer ação e que certamente sem atores de renome para manter a essência ficaria completamente apagado? Se você respondeu sim para a maioria das perguntas com um ar feliz, irá ver tranquilamente "The Post - A Guerra Secreta", agora se fez cara feia para qualquer uma delas, certamente o longa irá lhe cansar e você sairá da sessão como se tivesse ficado umas 10 horas na sala do cinema. Digo isso, pois embora o filme seja excelente, com uma história forte e pesada de uma grandiosa briga que a imprensa americana teve nos anos 70 com o governo que desejava ocultar os segredos da Guerra do Vietnã, com sequências incríveis, ótimos diálogos e atuações impecáveis, o miolo é um dos mais cansativos dos últimos anos, com tanta verborragia que chegamos a cansar de tudo e até aflorar pensamentos de que rumo o longa deverá tomar na sequência, porém felizmente o desfecho acaba sendo muito bom. Talvez uma mudança drástica de estilo, contando mais da editoração do texto e do julgamento agradaria bem mais, ou quem sabe o longa virar uma série múltipla acabaria resultando em episódios prontos mais favoráveis, mas como acabou sendo assim, vá descansado para a sessão e curta cada momento pensando na liberdade expressiva que hoje a imprensa tem, mas que nem sempre foi assim.
A sinopse que nos conta praticamente o filme inteiro mostra que Kay Graham é a dona do The Washington Post, um jornal local que está prestes a lançar suas ações na Bolsa de Valores de forma a se capitalizar e, consequentemente, ganhar fôlego financeiro. Ben Bradlee é o editor-chefe do jornal, ávido por alguma grande notícia que possa fazer com que o jornal suba de patamar no sempre acirrado mercado jornalístico. Quando o New York Times inicia uma série de matérias denunciando que vários governos norte-americanos mentiram acerca da atuação do país na Guerra do Vietnã, com base em documentos sigilosos do Pentágono, o presidente Richard Nixon decide processar o jornal com base na Lei de Espionagem, de forma que nada mais seja divulgado. A proibição é concedida por um juiz, o que faz com que os documentos cheguem às mãos de Bradlee e sua equipe, que precisa agora convencer Kay e os demais responsáveis pelo The Post sobre a importância da publicação de forma a defender a liberdade de imprensa.
Bem, sabemos que Steven Spielberg é daqueles mestres incontestáveis da sétima arte, que sabe entregar exatamente o que esperamos ver por parte dele, e aqui começa seu filme com o que melhor sabe fazer: um filme de guerra, com soldados em campo e tiros para todo lado, e até aí já pensava que o filme batalharia com muita ação e tudo mais, porém temos um vértice politizado no miolo, que é aonde o mesmo Spielberg tem errado demais, com filmes que acabam se arrastando e conduzindo para um desfecho aonde novamente temos aí sim uma guerra de palavras, batalhas por direitos, e mais do que isso mostrando muito de como o jornalismo é algo que quem sabe fazer da maneira correta acaba sendo preciso e seguido pelos demais. Não digo que é o clássico estilo de filmes do diretor, mas segue uma fórmula bem tradicional que vem utilizando ultimamente, e sabendo bem enquadrar (que é sua especialidade), temos ângulos incríveis com sequências memoráveis e uma criatividade tão bem despojada que ao deixar nas mãos (ou melhor nos diálogos) dos protagonistas, o resultado acabou fluindo melhor do que o esperado.
O elenco inteiro está tão sincronizado que em muitos momentos achamos realmente que todos ali já trabalharam em redações de jornais, com interações cadenciadas, reuniões de pauta colocadas de forma correta, e tudo com interpretações na medida para principalmente deixar que os protagonistas fluíssem bem, e dessa maneira, o conjunto acaba funcionando. Mas claro que com Meryl Streep em cena não tem como não direcionar todos olhares para ela e ficar encantado com a força de sua Kay, que sem repetir um trejeito de outros personagens acaba impactante e com uma dinâmica precisa para que cada cena sua fosse única e incrível, transbordando talento e claro colecionando mais uma indicação ao Oscar. Tom Hanks não faz um dos seus papeis mais memoráveis, mas ainda assim seu Ben é daqueles editores que já vimos em muitas redações mundo afora, que desejam a notícia de qualquer maneira, nem que para isso tenha de destruir a reputação de qualquer outra pessoa, e mais do que isso, o ator incorpora o personagem para que seus atos sejam entregues e sentidos, fazendo dele um bom personagem. Dentre os demais, tivemos bons momentos de cada um, mas vale o destaque para Bob Odenkirk como Bagdikian na sua busca desenfreada por uma fonte confiável, e Matthew Rhys como Dan, o informante que foi para a guerra, pois ambos mostraram que fazer jornalismo é uma arte.
No conceito visual da trama, senti falta de mais referência aos anos 70, pois mostraram sim televisores da época, as máquinas tipográficas que ainda muitos jornais antigos usam, alguns figurinos, mas no contexto geral apresentado, a trama poderia muito bem estar acontecendo no jornal ali da esquina, afinal as redações mudaram bem pouco (tirando claro o detalhe de milhares de computadores espalhados ao invés de máquinas datilográficas e papeis escritos a mão), e isso que acabou faltando mais para que a ambientação ficasse realmente de época, mas de modo geral vemos bons elementos e acabamos adentrando à história. No conceito fotográfico, tivemos um tom médio de cores, o que faltou para empolgar a trama e dar ritmo, criando texturas e sombras demais, cansando um pouco, claro que tivemos muita câmera na mão, com sequências incríveis, mas faltou aquela pegada que Spielberg sabe fazer bem em seus longas de ação, para que a trama e os tons aquecessem realmente como em uma guerra.
Enfim, é um filme bem interessante, mas que possui um público bem direcionado, quem gosta da história americana, que conhece um pouco sobre os casos do passado, e até mesmo quem gosta de dramas mais dialogados, pois os demais vão acabar cansando mais do que gostando do que é mostrado na tela, ou seja, um filme que se a academia de votantes do Oscar ainda fosse 100% composta de velhinhos, certamente esse seria o longa escolhido como Melhor Filme, mas que a atual composição certamente acabará colocando ele em 4º ou 5º lugar. Portanto recomendo ele sim para vermos um dos grandiosos escândalos que ocorreu antes de Watergate, aliás esse sendo apresentado também no filme, mas com ressalvas principalmente para o miolo cansativo demais. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...