Sei que não é o estilo de muitos, mas gosto quando vou ao cinema e sou surpreendido com algo que certamente aconteceria, de tal forma que acabo conversando (mentalmente, claro, afinal não vou atrapalhar ninguém) com a telona, pedindo para a protagonista fazer isso, ou aquilo, e quando acaba fazendo diferente você fica bravo, e talvez até surpreenda muito com o final. E mesmo trabalhando com quebras da estrutura narrativa, desenvolvendo quase uma microsérie, "Em Pedaços" nos entrega realmente em pedaços cada parte do filme com começo/meio/fim para que interpretemos cada ato como algo único na trama, ou seja, embora seja um filme só, podemos enxergar ele nas suas partes se desenvolvendo bem, o que é algo muito raro de vermos na telona, e só isso já faz dele um item obrigatório para que seja conferido. Agora incremente um longa com discussões em um juri, quer coisa melhor para vermos defesa versus acusação num balé completamente sincronizado e cheio de nuances. Pronto, já temos a fórmula perfeita para que o longa ficasse incrível, só adicionaria um pouco mais do final, ousando em pensamentos maiores de vingança, pois foi tudo armado bem rápido, e isso talvez levasse mais tempo num desenvolvimento mais crível, porém tirando esse detalhe, o restante é mais do que perfeito.
O longa nos mostra que Katja Sekerci é uma alemã que leva uma vida normal ao lado do marido turco Nuri, e do filho de 7 anos. Um dia, ela é surpreendida ao descobrir que ambos morreram devido a uma bomba colocada diante do escritório do marido. Desesperada, Katia decide lutar por justiça ao descobrir que os responsáveis foram integrantes de um grupo neonazista.
É engraçado que em filmes de cunho mais artístico do que comercial, geralmente reclamamos do excesso de história, enquanto nos comerciais é exatamente o contrário, mas aqui o diretor e roteirista turco Fatih Akin conseguiu não enrolar sua história (e olha que daria tema para no mínimo mais uns 20 a 30 minutos), e ainda criar facilmente uma perspectiva dinâmica dentro dos seus 106 minutos, fazendo com que o público ficasse pronto para qualquer tipo de atitude fosse dos réus, dos advogados ou até mesmo da protagonista, e a forma escolhida pelo diretor para desenvolver tudo foi bem sagaz para que a estrutura narrativa não ficasse cansativa e nem floreada demais, quebrando o longa em três trechos e colocando boas determinações em cada uma para que seu filme tivesse o conteúdo e ainda funcionasse, ou seja, um filme com segmentos, mas que nem necessitaria das quebras, de tal modo que entenderíamos cada ato separadamente sem precisar de títulos. Ou seja, embora esse estilo venha sendo cada vez menos usado, o trabalho aqui fluiu bem e se desenvolveu da melhor maneira possível.
No conceito das atuações, é fato que o filme é de Diane Kruger, que já demonstra estar tão bem preparada logo nas primeiras cenas, e só vai melhorando, incorporando mais detalhes nas expressões, até ir para o seu grande "the end", e embora sua Katja seja bem trabalhada nos trejeitos, ela não aparenta estar fazendo caras e bocas, mas sim desenhando cada cena em sua mente para que a realidade fique mais crua possível, ou seja, mereceu demais o prêmio de melhor atriz em Cannes. Denis Moschitto se saiu muito bem como advogado da protagonista, mostrando ser até mais do que isso, um grande amigo, quiçá algo a mais, e seu Danilo foi muito bem de fronte ao júri, compondo a cena perfeita que vemos em grandes longas de tribunais. Já do outro lado, o advogado de defesa faz muitos trejeitos forçados, mas funciona, e acabamos ficando bravos com tudo o que ele acaba fazendo, ou seja, um bom jogo de caras e bocas de Johannes Krisch. Dentre os demais, a maioria acaba servindo de encaixes, e apenas fazem bons momentos junto da protagonista, e até mesmo os réus Möller acabam ficando bem em segundo plano com caras duras e fechadas, mas concisos de sua absolvição.
A cenografia digamos que ficou correta, dentro dos padrões normais, com o ambiente de julgamento bem moldado, a casa da protagonista cheia de elementos que a fizesse lembrar da família, e claro o cenário da explosão muito bem colocado em contraponto com seu momento relax, mas as grandes cenas que misturaram as emoções foram as da praia, por juntar os vídeos da família, com o encontro dos assassinos, então temos grandes atos ao redor que conseguem chamar bem a atenção, mostrando que a equipe de arte estava completamente bem conectada com o roteiro para envolver. A fotografia brincou com tons misturando o preto para mostrar a tensão da protagonista, e junto cores leves nos réus para mostrar sua despreocupação com a sentença, colocando sempre contrapontos com os vídeos da família coloridos ao extremo com cinzas e pretos na situação atual, ou seja, um show.
Enfim, é um filme daqueles de se tirar o chapéu, que você se envolve na trama, torce por algo, fica bravo com o que acontece, torce novamente, e se surpreende com o final, embora seja a melhor ideia possível, ou seja, um filme completo com uma narrativa na medida certa que mais do que recomendo a todos que gostam de um bom drama com julgamento no meio, ou seja, algo perfeito de acompanhar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a crítica de mais uma estreia, então abraços e até breve.
PS: É um longa que mereceria um 10 ou 9,5, mas faltou um pouco mais de força em algumas cenas para valer arredondar para cima.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...