Motorrad

3/06/2018 02:04:00 AM |

Fico tão feliz quando vejo um longa nacional diferente do usual, pois mostra que alguns diretores e produtores estão investindo em motes diferenciados para tentar alcançar públicos diferentes também, e incrivelmente o gênero de terror anda sendo produzido aos montes por aqui, sendo lançado lá fora, e muitas vezes ficando apenas por lá, sem estrear por aqui pela pouca procura, e/ou estranhamento do que costumam fazer. Dito isso, a felicidade logo passa ao conferir "Motorrad" com um olhar bem crítico, pois o filme é uma das produções de ação mais impactantes que já vi em nosso cinema, com muita adrenalina nas corridas de moto, cenários incríveis, uma fotografia de primeiríssima linha, mas esqueceram de um detalhe imenso: a história, ou melhor o que o longa queria nos mostrar que estava na mente do roteirista, o que ele passou para o diretor que não souberam nos mostrar claramente na tela, e isso fez com que todos brochassem ao final da sessão, saindo pensando se foi coisas alienígenas, se foi coisa de gangue, se havia algo místico, e por aí vai, mas que nada além de uma marca deixou claro para nós isso, e assim sendo a trama falha e muito ficando apenas como algo dinâmico que corre, corre, e termina, ou seja, seria como se pegássemos um livro interessantíssimo, fôssemos lendo ele inteiro, e ao chegar no último capítulo descobríssemos que roubaram as últimas páginas e aquele livro não possui em nenhum lugar mais para comprarmos, ou seja, vamos ficar com a ideia apenas que tivemos de tudo, mas sem saber a opinião real que queriam que tivéssemos. Sendo assim, a trama vai causar um estranhamento de muitos que forem conferir, mas também irá agradar quem gosta de muita ação e violência desmedida, mesmo que ao final você saia apenas com sua opinião.

A sinopse nos conta que um dos grandes desejos de Hugo (Guilherme Prates) é conseguir fazer parte do grupo de motocross do seu irmão mais velho. Decidido, ele rouba algumas peças para que possa montar sua motocicleta. Quando consegue o feito, ele encontra com a turma do irmão em uma cachoeira remota, onde fazem uma trilha e se deparam com um antigo muro. Hugo sugere que eles desmontem o muro e sigam a aventura, mas acabam encontrando a dona do ferro-velho de onde Hugo roubou as peças. Ela os convida para um caminho ainda mais radical, só que a diversão vira uma corrida pela sobrevivência quando eles passam a ser perseguidos por motoqueiros sádicos e sobrenaturais.

Após fazer minha suposição da trama, posso dizer que o diretor Vicente Amorim até tentou passar essa mensagem bem subliminar, incorporando algo que facilmente ele poderia ter trabalhado alguns detalhes e o resultado seria incrível, por exemplo no corte de algumas cabeças, ou em alguns barulhos diferenciados, e por aí vai, mas ao deixar que o público crie sua ideologia, o resultado acabou ficando um pouco apático e falhando com um final que deu um tom bonito e clássico, mas que não atingiu o ápice que certamente ele desejava. Já vi muitos filmes dirigidos por ele, e diversos escritos por L.G. Bayão, e a maioria não cai nesse desnível, e certamente esperava ver algo a mais do que apenas cenas de corrida de motos por trilhas, e olha que todas foram muito bem filmadas criando muita dinâmica cênica para algo que poucas vezes vimos por aqui, ou seja, mostrou que a equipe de produção estava muito bem alinhada para criar o melhor possível para a trama, e por bem pouco alguns detalhes acabariam resultando em um longa que olharíamos e falaríamos: "que filme!", mas o que acabou saindo foi: "que filme?".

No conceito das atuações, tivemos alguns leves momentos que pudemos falar que os atores estavam bem preparados sabendo o que estavam fazendo em cena, mas na maioria das vezes todos pareciam mais perdidos que cego em tiroteio, apenas montando em suas motos e correndo, de modo que assim que o primeiro é morto, já fiz minha listinha de quais desejava que morresse o mais rápido possível, e embora os que sobrem sejam os principais, torcia por melhor interpretação que fossem outros. Dito isso, vou apenas pontuar que Carla Salle poderia ser mais expressiva com sua Paula, e fizesse mais uns carões menos forçados, pois se a minha ideia do que ela é estava certa, sua característica necessitaria de mais emoção e vivência, e não apenas estou ali por estar, ou seja, falhou um pouco demais. O mesmo podemos dizer de Guilherme Prates, que até demonstrou uma força sobrenatural para correr a pé atrás das motos, e pular alto na sequência, mas quando precisou demonstrar susto, espanto, entre outras características ficou morno demais. Juliana Lohmann foi uma das que torci para que morresse logo da pior forma possível, pois seu papel era bobo demais, seu ato final foi algo que nem um ator de primeiro ano de teatro faria tais movimentos, e seus gritos nunca convenceram ninguém, ou seja, muito ruim no filme (pode até ter ido bem em outros filmes, mas aqui decepcionou). E para finalizar a listinha, o ator mais conhecido e que é do momento, sabemos bem do potencial que Emilio Dantas tem, e aqui seu Ricardo poderia ser muito mais impactante, chamar a responsabilidade para si, mas mais correu e gritou do que atuou realmente, ou seja, falhou também.

Agora se tem algo que a trama entregou com muita perfeição foi a escolha cênica, pois gravado na Serra da Canastra, arrumaram lugares tão bonitos e cheio de falhas que deram um tom meio rústico para o longa, mas com muito charme, cheio de motos e figurinos fortes o longa nos remete à vários outros filmes do gênero com muita subjetividade impregnada, mostrando um ótimo trabalho da equipe de arte e da produção em si, claro que poderiam ter reforçado mais detalhes para revelar melhor a história, mas essa não era a ideia do diretor, então fizeram o que puderam. A fotografia trabalhou tons amarelados, puxando sempre a luz para um tom acima para que o brilho ficasse sujo também o que acabou chamando muita atenção, além de ajudar nos efeitos especiais das mortes para que tudo chamasse o espectador para a cena, ou seja, um trabalho de primeira linha de Gustavo Hadba.

Enfim, é um longa que não é de todo ruim, mas passou muito longe de ser algo bom, principalmente pela falta de entregar mais o que desejava passar, e com isso o resultado para o grande público vai ser algo que vai falhar demais, e terá reclamações demais, ou seja, poderiam ter feito um longa perfeito com pouquíssimos ajustes, mas optaram por algo mais cult, e aí a falha foi altíssima. Portanto recomendo o longa mais para quem gosta de filmes bem abertos para que possa florear ideias e talvez sair com uma até diferente da minha, e assim gostar mais do que está sendo mostrado, mas de resto, se você não se enquadra nesse tipo de pessoa, fuja, pois vai sair da sala sem entender nada, apenas vendo motoqueiros malvados correndo atrás de outros motoqueiros para matar. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica que foi bem longa, já me preparando para a próxima que virá, então abraços e até logo mais.

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