Outro dia conversando com alguns amigos, chegamos à conclusão que o Brasil possui um estilo único de comédia no mundo, pois vemos alguns países possuem uma pegada estilosa, outros procuram trabalhar mais as escatologias e besteiróis, outros procuram criar um drama cômico, a maioria gosta de trabalhar o romantismo adicionado, mas o Brasil não, esse gosta de sacanear o estilo de vida nosso, nossa política bagunçada, o tradicional jeitinho brasileiro e por aí vai, de modo que na maioria das vezes acaba sendo necessário forçar a barra para se divertir com isso, e em outros acabamos nos identificando tanto que a piada flui sozinha, ou seja, geralmente acaba atraindo muito mais atenção da massa e fazendo muito mais bilheteria do que agradando por ser um cinema diferenciado. Iniciei o texto do filme "Os Farofeiros" dizendo isso, pois a ideia em geral da trama é algo que certamente muita gente já vivenciou, de ir para alguma casa alugada por amigos ou família aonde tudo é uma fria, aonde tem aquelas pessoas que você não vai com a cara, com crianças pentelhando e tudo mais, aonde cada sacada bem colocada do roteiro acaba fluindo e divertindo, porém tentaram incrementar a ideia colocando um problema de empresas que talvez até fluísse de outra maneira, mas no embolo geral acabou ficando exagerado e até mesmo perdendo a graça no miolo completo. Enfim, vai ter muitas cenas que o cinema todo irá rir, muitas aonde vai ficar mudo, mas sem dúvidas poderiam ter usado muitas excelentes que deixaram para os créditos, pois ali sim todas ficaram bem divertidas, ou seja, um filme que quem esperar ver algo elaborado vai odiar, mas quem for disposto a se divertir vai rir em boa parte da trama, mesmo que tenha exageros para todos os lados.
A sinopse nos conta que quatro colegas de trabalho se programam para curtir o feriado prolongado em uma casa de praia e, chegando lá, descobrem que se meteram em uma tremenda roubada. Para começar o destino não é Búzios, mas Maringuaba; a residência alugada é encontrada caindo aos pedaços, bem diferente do prometido; a praia está sempre cheia; e as confusões são inúmeras.
Esse estilo caricato do cinema nacional já tem praticamente um nome, e se chama Roberto Santucci, o diretor que mais leva público para o cinema do país, que lança dois a três filmes por ano (ainda estou assustado que 2017 não lançou nenhum!!) e que geralmente acerta a mão na fórmula de fazer rir, não diria que aqui foi seu melhor trabalho, mas também está bem longe do pior. E claro que junto com ele, vem junto o roteirista Paulo Cursino que também tem mais acertado do que errado nas composições de história e aqui trabalhou bem as situações, e facilmente poderia ter deixado a história mais dinâmica somente fechando tudo nas confusões dentro da casa de praia, brincando com os personagens, e deixando de lado o lance do emprego, embora a sacada de usar a tradicional redação de férias das crianças tenha sido perfeita tanto para contar a história como para seu desfecho. Enfim, na matemática de roteiro + direção, o resultado diria que foi na média para passar de ano, mas que por bem pouco não ficou de recuperação, pois dos 99 minutos de projeção, diria que a sala riu mesmo nos 5 de crédito e mais uns 10 espalhados pelo longa, ou seja, faltou fazer o público ficar com falta de ar de tanto rir como já fizeram em outras produções.
Embora a trama tenha ido bem no conceito desenvolvimento, outro ponto que matou demais a trama foi a falta de atores cômicos realmente para que tudo puxasse para o teor de conflito que desejavam, de modo que ao mesmo tempo que Cacau Protásio e Maurício Manfrini tentavam soar divertidos, e agradavam na maioria das cenas com seus Jussara e Lima, os demais faziam rir por meio de forçar expressões, cair em situações bobas e por aí vai, ou seja, poderiam ter colocado um elenco forte de comédia que mesmo fazendo alguns personagens sérios acabariam desenvolvendo as situações fluindo sem parar e fazendo rir sem parar, ou seja, a escolha até tentou imitar outros longas estrangeiros, mas não deu certo. Já disse isso em outros filmes, e volto a afirmar que Danielle Winits não é atriz de comédia, de tal maneira que sabe até fazer alguns trejeitos, mas sempre vai soar forçada e necessitando sempre cair em barracos para chamar a atenção, ou seja, sua Renata acaba sendo dura de engolir. Volto a frisar que o erro da promoção/demissão ser inserida na trama até auxiliou nos deboches de puxa-saquismo e tudo mais, mas Antônio Fragoso ficou falho demais para com seu Alexandre, ou a personalidade do personagem era de alguém inseguro demais em tudo, e aí sim isso deveria ser mais desenvolvido no longa como deboche de pessoas que sobem na carreira sem nem saber o motivo. Charles Paraventi e Nilton Bicudo fazem muitas comédias, mas sempre com personagens geralmente mais escrachados, e aqui seus Rocha e Diguinho só faziam bobagens, um como o puxa-saco clássico de empresas, que na praia não serviu para praticamente nada, e o outro como um solteirão que só chora por não estar mais com a família, ou seja, até poderia ter trabalhado mais seu romance com a gostosa e as bagunças que isso daria, mas aí o filme teria outro vértice. E falando na beleza em forma de mulherão, Aline Riscado é bonita, é fotogênica, mas não é atriz, de tal maneira que suas cenas que precisou dialogar foram desesperadoras. Dentre as crianças, vale poucos destaques, mas vale pontuar Théo Medon como a personalidade do roteirista Paulo Cursino incorporada para nos contar a história, incrementando detalhes para que umas férias malucas virassem um filme.
No conceito cênico, escolheram muito bem a locação para que tivesse uma casa caindo aos pedaços, uma piscina que fez uma ótima referência à vários filmes de terror (principalmente na saída da madame cheia de gosma dela), a distância desértica da casa até a praia, os diversos perrengues e tudo mais que deu a composição dos elementos, mas tudo ia bem até entrar alguns mosquitos digitais, que aí sim bateu o desespero (poderiam filmar uma nuvem de mosquitos em qualquer beira de lago que ficaria bem mais bonito, mas não, aí a falha foi bem grande, porém ao menos na cena seguinte com os mosquitinhos discutindo sua noitada foi algo bacana e divertido de ver). Ousaram fazer uma brincadeira cênica de misturar cinema dentro de cinema dentro de outro cinema que ficou bem bolada, mas falha pelo alongamento da cena, mas valeu ao menos a intenção como parte da cenografia do longa. Quanto da fotografia trabalharam muito com tons sujos para dar o ar de poeira e tudo mais, com detalhes fortes sempre aparecendo, e já disse isso outras vezes que comédias os tons precisam ser sempre mais vivos para divertir o público, e talvez isso melhorasse um pouco mais o longa.
Enfim, se me perguntassem se é um filme ruim, diria que não, está bem longe disso, mas também está bem longe de ser um bom filme, divertindo em certos pontos e falhando muito em outros, ou seja, é daqueles medianos que agradam, mas que facilmente arrumado leves detalhes seria outro filme e agradaria demais, veremos se terá fôlego para uma continuação, afinal deram a entender isso na cena final, e aí quem sabe foquem somente na bagunça de entrar numa fria de local e não em outros detalhes desnecessários. Portanto recomendo ele somente para quem gosta mesmo desse estilo de humor, pois quem for esperando uma comédia perfeita para rir muito irá se decepcionar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto de outra estreia, então abraços e até breve.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...