As vezes vamos ver um filme tão falado e não entendemos o real motivo, pois o que está sendo mostrado na tela nada mais é do que a realidade que vemos ao nosso redor, mas que raramente botamos reparo nela, digo isso não como algum julgamento, mas mais como uma reflexão, pois o que é mostrado como algo assombroso das famílias pobres, marginalizados e tudo mais acabaríamos vendo se olhássemos para o lado nas ruas, se conversássemos com uma criança pobre sobre como ela vê sua infância, e por aí vai, mas no cinema tudo é belo, e na rua é um problema. Ou seja, iniciei o texto de hoje com essa polêmica, pois sim, "Projeto Flórida" está bem longe de ser um filme ruim, mas também passa bem longe de ser algo marcante como vinham comentando durante todo o período de premiações. Claro que a essência brilhante da interpretação comovente da pequena Brooklynn Prince é algo que vai nos remeter ao que sempre pensamos na infância, ou seja, que só queremos curtir, brincar, se divertir e tudo mais, sem pensar nos problemas dos adultos, ou seja, algo doce e gostoso de ver, mas o longa não decola, sendo algo quase que cotidiano, mostrando o acontecer das coisas sem que pudéssemos esperar muita coisa, mas que ao menos acontecesse, e quando acontece, já é o fim do longa, e aí como o casal que estava atrás de mim disse: "será que tem alguma cena pós-crédito", pois o que foi mostrado foi pouco demais, mesmo sendo bem interessante.
O longa nos situa na Flórida, onde Halley e sua filha Moonee, 6, moram de aluguel em um quarto no The Magic Castle, motel barato à beira de uma das estradas que levam o fluxo turístico ao Walt Disney World fora de Orlando. A garotinha tem 2 amigos, Scooty e Dicky, com os quais aproveita ao máximo a infância, enquanto a mãe não tem muito respeito pelos párias da sociedade que por ali vivem. E Bobby, o gerente do motel, acompanha essa realidade com um olhar de compaixão.
Podemos dizer então que o olhar do diretor Sean Baker é minucioso em detalhes que não paramos para observar, e só por isso já vemos um grandioso contraste cênico, afinal quando vemos em filmes ou nas histórias de nossos amigos que tudo ao redor da Disney é mágico, é onde o deslumbre acaba ficando pelo chão, pois também vemos muitos estrangeiros falando o quão belo é o Rio de Janeiro, ou Salvador, ou qualquer outra grande cidade brasileira, aí vem o pessoal e fala que só foi olhado a parte boa, esquecendo do que acontece na realidade, da marginalização e tudo mais, e certamente os americanos falam as mesmas coisas quando citamos a magia ao redor da Disney, enquanto famílias destroçadas vivem nos pequenos e baratos motéis, mudando sempre de quarto, e sobrevivendo com migalhas ganhas as vezes pela corrupção, ou seja, um olhar crítico em cima de uma sociedade. Mas deixando isso de lado, ou melhor, com os adultos, o diretor também se apega a beleza da infância acelerada, aonde os pequeninos mesmo vivendo com tão pouco dão jeito de fazer suas artes e diversões acontecerem, passeando por meio do mato como se fosse em um safari, observando a vida alheia e rindo das excentricidades, correndo para todos os lados com os amigos, dividindo um doce, e até ajudando os pais a arrumar dinheiro para grandes feitos, ou seja, o diretor também consegue comover com isso. Porém o grande detalhe que faltou para o diretor foi escolher algum momento mais específico e atacar para que seu longa tivesse um clímax, prendesse o espectador mais desesperado por uma situação, e não apenas entregasse algo comum, ou seja, um filme singelo demais, mas que longe de ser algo ruim acabou ficando satisfatório.
Quanto das atuações, é fato claro que Brooklynn Prince será daquelas atrizes que os críticos ficarão muito de olho, pois a jovem foi muito expressiva em todas as situações que viveu no longa, trabalhou de forma coesa para com sua Moonee, e mais ainda, dando grandes deixas para que os adultos e crianças ao seu redor funcionassem também, ou seja, é daquelas que tem conexão boa ao redor, que se bem trabalhada vai decolar facilmente em outros longas mais para frente. Bria Vinaite é uma atriz bonita, e que foi concisa em todos os momentos de desespero e também nas facetas de viver a vida de sua Halley, que conseguiu chamar a atenção por mostrar-se uma mãe relapsa, mas também se mostra como uma adolescente que foi jogada no mundo e está tendo de se virar também, ou seja, ela dosou as emoções e com isso ficou morna quando poderia comover. Willem Dafoe já mostrou inúmeras vezes seu potencial fazendo todo estilo de filme que deseje mostrar, e aqui seu Bobby é daqueles que ficamos instigados como conseguem ser duros por fora para fazer o serviço sujo, mas que por dentro possui um coração imenso que só quer dar um jeito de ajudar, e o ator soube trabalhar seus olhares e dinâmicas de uma maneira bem sutil para que o longa não caísse numa sintonia forçada demais, e com isso ele também falhou em não decolar a trama. Dos demais, temos de dar destaque claro para as demais crianças que brincaram muito em cena, e ao estarem se divertindo trabalhando, conseguiram jogar essências bem trabalhadas e resultaram em algo bonito de se ver, e com isso temos de parabenizar Christopher Rivera com seu Scooty, Aiden Malik com seu Dicky, e principalmente Valeria Cotto com os olhares tristes de sua Jancey.
No conceito cênico, foram certeiros ao escolher esse motel, que nem sei se existe realmente, pelo tamanho, pelas cores vibrantes infantis e pela dinâmica completa de construir quase uma favela recheada na beira da rodovia que leva aos famosos parques americanos, e com isso vemos até grandes sacadas com brasileiros que caem em enrascadas nas famosas reservas online, vemos grandiosos condomínios abandonados pela fraca ocupação do lugar visto a realidade dura ao redor, vemos diversas lojinhas para dar síntese, ou seja, um trabalho mais simples da equipe de arte, que teve apenas de buscar fortes olhares, do que algo que tenha sido realmente criado para o filme, e com isso o resultado é bem feito, mas não direcionado com o que poderia realmente mostrar. A fotografia procurou ser o mais realista possível em cena, não desenvolvendo nuances fantasiosas, não ousando em nada, mas sim colocando o cerne cênico sempre em destaque, com luzes duras e diretas, nem criando sombras para qualquer tipo de alívio, e isso é uma forma acertada de mostrar a realidade, mas como costumo dizer, no cinema precisamos de um pouco de fantasia, ou de uma dose de dramaticidade irreal, que aí sim teríamos um longa incrível.
Enfim, é um filme bem feito que poderia atingir um ápice memorável se criasse qualquer dinâmica mais dura, algum momento mais forte no miolo para ser desenvolvido, ou quem sabe até algo mais fantasioso com a criança, mas que por ser "real" demais, acabou cansando um pouco e faltando atingir realmente algo além do comum. Bem essa é a opinião desse Coelho, certamente muitos vão enxergar a trama de uma forma diferente, mas deixo aqui o meu sentimento, e espero que tenha ajudado outros que forem conferir a trama também. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...