Diria que o maior problema de "Trama Fantasma" é o que mais cabe dentro do seu contexto: o ritmo, pois embora saibamos que o desenvolvimento artístico da mente de um estilista depende do silêncio para que sua criatividade flua, o excesso de silêncio criando uma dramaticidade tensa, juntamente com a falta de um mistério mais enfático para que o longa se desenvolva melhor, o faz ficar belo, porém extremamente cansativo, de modo que seus 131 minutos parecem ter no mínimo 10 horas, ou seja, tudo tem está bem colocado dentro do contexto visual e cênico que acaba trabalhando bem o desenrolar do renomado artista, porém falta algo a mais para que o longa saísse do conceito artístico e também virasse algo com um cerne mais aflorado para que o público cativasse e entendesse realmente as necessidades do personagem, seus atos e claro sua forma de lidar com suas musas. E sendo assim, o resultado oscila demais, parecendo por horas aparentar que vai melhorar, mas também em diversos momentos aparenta que não vai acabar bem, ou ainda mais, aparenta que nem final terá, ou seja, como muitas vezes costumamos dizer, um embrulho bonito não traz um bom presente, e aqui o que vemos é isso, algo singelo e cheio de floreios que entrega algo que até podemos refletir mais e chegar a algo diferenciado, mas que vamos enrolar o doce e continuar não gostando do sabor entregue.
O longa nos situa em Londres, nos anos 1950, aonde o estilista Reynolds Woodcock é famoso por assinar peças que vão parar no corpo de atrizes e também da realeza britânica. Ele conhece a garçonete Alma e a transforma em sua musa, modelo e amante. No entanto, esse relacionamento afeta a impecabilidade do trabalho de Woodcock.
É raro vermos isso, mas quando temos um diretor e roteirista maluco que assume também a direção de fotografia, sabemos que cada essência luminosa irá importar mais até que a própria história, e aqui Paul Thomas Anderson sabia muito bem o que desejava transpor para a tela, e somente ele teria isso em mente para que seu filme floreasse e criasse um encontro para o estilo que a trama necessitava, e sendo assim, ele foi lá e fez. Digo que essa essência cênica é mais importante que o roteiro, pois sentimos o tom sendo trabalhado a cada ato, mas ficamos com a falta de um drama/mistério mais coeso para que o filme saísse da área cômoda de mostrar toda a arte de um estilista arrogante e encaixasse algo a mais para suas obras famosas, mas como disse, o diretor não desejava essa casualidade, e optou por trabalhar mais a personalidade do protagonista e a forma que ele enxergava suas musas, quase como um objeto realmente e não uma pessoa em si. Ou seja, ele faz seu filme da forma usual que costumamos ver em suas direções, mas aqui ele ousou mais em dualidades do que em algo que fincasse o público realmente, criando vértices para todos os lados, mas nenhum que mostrasse sua opinião realmente, e junto com isso, temos diversos momentos de clímax aonde nenhum vai ser a grande importância de reflexão, que acaba retomando tudo, e fomentando o resultado de a musa necessitar também ser uma mulher e querer de volta todo o apreço que lhe é merecido ao invés de ser apenas um objeto.
Dentro das atuações é fato que Daniel Day-Lewis é um dos melhores atores que já existiu, sempre trabalhou para que seus personagens fossem o mais diferenciado possível, com altas técnicas de interpretação, aonde sua criatividade para trejeitos surpreendia em demasia, porém aqui em seu "último" papel (afinal diz ele que irá se aposentar, mas se aparecer algum papel grandioso é certeza que volta!), ele acabou mascarando demais os trejeitos, sempre olhando para baixo ou para o lado, de modo que até vemos bem sua dinâmica, mas acaba soando mais falso e falho do que algo que chame a atenção realmente, ou seja, espero que ele volte com algum grande projeto para aí sim lembrarmos que seu último papel foi algo memorável, e não algo apenas bom. Já vi outros filmes que Vicky Krieps fez, mas não consigo me recordar dela nos papeis, de modo que aparentava ser mais desconhecida do que o normal, e sendo assim sua Alma acaba até surpreendendo pela coragem cênica de trabalhar expressões, mesmo sendo objetificada a todo momento, e esse é o charme da trama, que acaba jogando ela muitas vezes até mais como protagonista do que Lewis, e assim sendo, a atriz mostrou uma personalidade bem forte e inteligente para ser diferenciada. Outra que teve um bom destaque e chamou a responsabilidade para si em diversos momentos foi Lesley Manville com sua Cyril, de modo que inicialmente aparentou ser algo problemático e que acabaria sendo quase uma vilã, mas com o desenrolar da trama, a atriz entrega a personalidade e vai cadenciando cada ato para mostrar serviço, e isso acaba sendo bem agradável no resultado final.
Como falei no começo, o longa é muito artístico, e a direção de arte não ousou tanto nas locações e cenografias, mas sim por estarmos falando de um estilista, brincou com tecidos e figurinos para que cada ato fosse marcado quase como um desfile luxuoso de estilos e texturas, que unindo a fotografia proposta como parte da trama pelo diretor, o resultado acaba desenrolando em algo bem floreado e chamativo, ou seja, são raros os filmes que o figurino fala mais do que todo o restante na direção de arte, e aqui ele é dominante.
A trilha sonora de Jonny Greenwood é marcada por grandes acordes de piano que deram quebras para cada ato, e para os pontos de virada, e com isso o filme se desenvolve bem, porém ele poderia ter feito algo mais ritmado para que o longa fluísse mais e soasse mais dinâmico, o que é uma pena, pois é uma delícia ouvir cada entonação, mas ajuda a cansar também.
Enfim, é o filme mais artístico do Oscar, e por isso certamente acabou entrando na lista dos indicados em várias categorias, mas certamente temos outros bem melhores para apostar nossas fichas. Diria que ele vale mais ser visto pelo cerne diferenciado de podermos ver o relacionamento artista versus musa, mas que certamente poucos irão conseguir se apaixonar por tudo o que é mostrado na tela, e sendo assim, só recomendo ele para um público mais crítico com a ideia do que para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais vários textos nessa semana que veio bem recheada de estreias, então abraços e até breve.
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