Existem alguns dramas que conseguem soar tão singelos e sublimes que mesmo ocorrendo alguns deslizes acabamos nos apaixonando pelo que vemos, e que ao trabalhar de forma bem ordenada como é de costume de obras britânicas, o resultado acaba fluindo bonito e bem encaixado. Dito isso, temos de falar também que "A Livraria" não é somente britânico, apesar do grande elenco, mas sim espanhol pela diretora e alemão pelos produtores, então além de um drama bem leve, tivemos um estilo bem puxado para o ar novelesco, ou seja, o filme tem muitos vértices para se enrolar e com isso ganhar tempo para a trama completa acontecer, de modo que poderia ser muito bem suprimido para que o resultado encaixasse, e até comovesse caso desejassem. Não digo que isso tenha atrapalhado muito o longa, apenas não deu a fluidez que poderia para que ele fosse mais duro, mas o tirando esse detalhe é um filme que quem conferir irá gostar dele pelas ótimas atuações e pela vivência que a trama consegue passar para os amantes de livros.
O longa nos situa na Inglaterra de 1959, onde distante das revoluções sociais e sexuais que ocorrem no mundo, a tranquila cidade costeira e anglicana de Hardborough passa por transformação radical quando a recém-viúva Florence Green, transforma um casarão abandonado em uma livraria. A leitura das obras dos grandes escritores e pensadores, como Lolita, de Nicolai Nobokov, e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, provocam um despertar cultural na comunidade letárgica. Mas a influente e ambiciosa Violet Garmart, que se sente ofendida com as mudanças comportamentais liberais e “libertinas” provocadas pelos livros, arquiteta um plano para fecha-la e se apossar do imóvel transformando-o num Centro de Artes.
É bem interessante como a diretora Isabel Coixet conseguiu trabalhar seu filme colocando uma alma tão velha na personalidade da trama, que fez com que cada momento parecesse o de vidas, com grandes reflexões, grandes personificações e um desenvolvimento bem simples assim como a leitura de um bom livro, ou seja, ela conseguiu que seu filme fosse quase um grandioso livro refletido pelas personalidades de cada ator/personagem, e mesmo sendo uma adaptação literária, ela não fez o tradicional de vermos páginas no longa, mas sim os personagens andando e desenvolvendo suas personalidades, e assim o resultado até que fluiu muito bem, pois como disse no começo até temos um estilo bem novelesco, mas em momento algum vemos as subtramas cansando, mas sim entregando cada estilo para que o conjunto completo da obra envolva e saia do comum.
No conceito das atuações podemos dizer que Emily Mortimer foi bem colocada na trama, fez trejeitos chamativos, mas deu um ar muito de piedade para sua Florence Green, de modo que mesmo todos falando que ela tinha muita coragem, suas expressões eram tão tristes que ficamos pensando se ela estava feliz ou o que com o que estava tentando fazer, ou seja, poderia ter sido mais impactante para demonstrar sua coragem e com isso juntar o carisma e entregar um filme lindo. Patricia Clarkson foi a clara vilã de filmes da Disney, que se incomoda com o sucesso alheio e fará de tudo para atrapalhar a vida das demais pessoas com sua Violet, de tal maneira que a atriz mesmo soando sutil em cada ato, entregou um olhar duro e bem pontual para todos os seus atos, fazendo bem seu papel, e até chamando a responsabilidade para si nas cenas mais fortes. Bill Nighy é um ator incrível, e sempre que bem colocado em uma trama, mesmo fazendo cenas com um grande ar depressivo ele consegue incorporar trejeitos e entregar para o filme a sua melhor atuação, de modo que seu Brundish acaba ficando tão belo nas cenas que acabamos ficando tristes pela sua última cena, e felizes pela ótima penúltima. Agora se tem alguém que merece muitos elogios é a jovem Honor Kneafsey que mostrou uma personalidade tão forte para sua Christine que com muita doçura e olhares fortes na mesma cena conseguiu impressionar do começo ao fim. Agora um único adendo para as interpretações ficou para James Lance nem tanto pelo que fez, mas pela falta de entregar realmente o que seu Milo é na vida, além de um capacho de Violet, pois ficou estranho o tanto que falava dele na BBC, mas nada é entregue ou mostrado, de modo que acabou jogado demais na tela. Dentre os demais, todos foram bem básicos e clássicos como uma pequena vila acaba soando, ou seja, todos enxeridos ao máximo na vida alheia.
A equipe artística foi bem conexa ao escolher uma pequena vila realmente para criar as locações, mostrando um ar antigo com casas sombrias de colina com ventos, livros de todos os estilos, figurinos bem colocados fazendo até parte da trama, ou seja, colocando a trama como um modelo bem montado visual e que fez o ar interiorano surgir até mais do que o esperado, o que agradou bastante, mas também cansou um pouco pelo excesso de tons escuros da fotografia, que sempre quando mudavam para algo mais colorido a discrepância acabava chamando tudo para aquele momento, ou seja, poderiam ter brincado mais com isso que o filme acabaria tendo mais vida e soando até mais agradável.
Enfim, é um longa bem bonito que poderia ter alçado um voo ainda maior caso quisesse, mas que nem precisou pois acabou conquistando praticamente todas as premiações da Espanha, e com isso a trama mostrou que a simplicidade acaba sendo sempre a melhor forma de entregar a trama de um livro. Portanto recomendo o longa para que todos que gostem do estilo simples relaxem com boas cenas, mas também funciona bem para o público que gosta muito de ler, então a gama de público é bem grande. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje já encerrando essa semana cinematográfica e já ficando meio que preparado para uma próxima bem curta, então abraços e até mais.
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