Filmes biográficos de personagens que conhecemos bem pouco geralmente soam até mais interessantes de ver na telona, pois não vivi na época de ouro dos filmes de Jacques Costeau, então posso dizer que tudo o que rolou na telona em "A Odisseia" foi uma grandiosa novidade para mim, mas pelo que ouvi de outras pessoas na sala, muito do que foi mostrado foi uma grande novidade, pois muitos sequer imaginavam que o grande capitão que fez tantos filmes de expedições marinhas e vida subaquática fosse um velho traidor da esposa e que tivesse tantos conflitos com o filho mais novo de modo que a dramaticidade do longa ficasse bem explícita. Ou seja, o filme foi criativo ao ponto de mostrar mais da vida dos personagens e ir junto com isso trabalhando belas imagens das expedições para que o filme ficasse com um ar quase que documental, porém o grande defeito da trama foi faltar com um clímax mais efetivo, já que o longa floreia inteiramente diversas situações conflitivas, mas em momento algum aciona elas para algum tipo de reviravolta, o que acaba fazendo com que o filme se alongue até mais do que o comum, mas longe de ser algo ruim, a trama acaba soando ao menos bem bonita de ver.
A sinopse nos conta a história do aventureiro oceânico e cineasta francês Jacques-Yves Cousteau que larga a vida na terra ao embarcar em uma grande viagem no imenso navio Calypso, sua nova casa. Com o passar dos anos, no entanto, seu amor pelo mundo submerso - e principalmente suas possibilidades de negócios - relega a segundo plano a mulher e os filhos. Após crescer ressentido num internato, Phillippe volta a bordo apesar da péssima relação com o pai e os dois precisam superar as diferenças e mágoas para sobreviver em mares gelados.
O grande feito do diretor Jérôme Salle foi de procurar criar as diversas cenas subaquáticas tradicionais das expedições de Costeau, e com isso trabalhar com um embelezamento característico de documentários da National Geographic, Discovery e muitos outros canais do gênero, mas faltou pra ele determinar um ponto de reviravolta mais característico que colocasse no filme um ar mais dramático, pois sabemos que muitas famílias possuem conflitos sim, mas faltou para o longa usar um dos diversos pontos que a trama permitia para que ali algo acontecesse e não apenas ficassem mostrando a vida familiar complicada (que nos filmes aparentavam ser uma grande harmonia). Ou seja, faltou ter uma pegada maior nos questionamentos e talvez criar algo a mais para que o filme não ficasse na mesmice tradicional, que aí sim teríamos algo além de bonito na tela, pois bons atores o diretor tinha para utilizar.
E falando mais dos atores, foram bem conexos primeiramente no conceito de maquiagem de envelhecimento, para que Lambert Wilson e Audrey Tautou pudessem viver todas as fases dos protagonistas, e com isso ficou bem interessante irmos vendo com o passar dos anos os vértices interpretativos da cada um. Audrey Tautou, nossa eterna Amélie Poulain, foi bem centrada como Simone Costeau, e com olhares firmes e trejeitos bem colocados mostrou uma personalidade forte na progenitora da família, só faltou um pouco mais de imposição talvez para mostrar mais força ainda no estilo que acabou ficando quando mais velha. Lambert Wilson ficou muito instigante como Jacques Costeau, e a cada cena sua ele mostrava mais dinâmica interpretativa para o personagem e também colocava os sonhos e loucuras do capitão de uma forma criativa e dura, que talvez até tenha sido forçada para um lado menos de homenagem e mais de mostrar que ele não era um herói como muitos achavam. Agora se tem um ator que consegue ser muito expressivo no filme é Pierre Niney como Phillippe, de modo que de cara ele já entrega sentimento em sua expressão e a cada cena sua ele vai incorporando mais atos com precisão até encaixar com muita força interpretativa as cenas de diálogo com o pai no momento mais forte da carreira do capitão. Dentre os demais, a maioria auxiliou dando sutilezas e agradando no que pode, tentando não ter muita interferência nem destaque, mas se posso citar mais alguém que foi ao menos condizente com a performance, e que claro por um dos livros usados para a adaptação ser de Bébert, acabaram escolhendo um bom ator para os momentos de maior precisão do personagem, e com isso Vincent Heneine também conseguiu agradar bastante.
A trama passeou por diversas boas locações para dar o ar artístico e o visual incrível que o longa pedia, afinal todos os filmes do Costeau eram com belíssimos visuais embaixo dos oceanos, com muita equipe, diversas paisagens, figurinos e tudo mais, e a equipe artística teve o capricho de colocar tanto a época real com muita sintonia, como também se preocupou em fazer muitas filmagens embaixo da água, ou seja, um deslumbre realmente. A fotografia também ousou brincar ao dar tons bem colocados no fundo do mar quase escuro em grutas e também na superfície criando sombras densas para "tentar" criar uma dramaticidade com o filme, o que falhou de leve pelo roteiro apenas, mas no conceito que era uma fotografia densa conseguiram fazer com classe.
Enfim, é um filme mais bonito do que dramático, que poderia alcançar rumos mais precisos se desejassem realmente, o que é uma pena, pois a história dos Custeau marcou uma época e muitos gostariam de conhecer mais, não que isso não tenha acontecido, mas talvez uma pontinha dramática mais impactante chamasse mais atenção. Não digo que o resultado foi ruim de ver, muito pelo contrário tivemos imagens belíssimas de ver, e uma história com muita coisa que não conhecíamos, mas poderiam ter trabalhado melhor a dramaticidade como filme e assim teríamos mais cinema de ficção e menos documentário visual. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia, então abraços e até breve.
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