Olha, hoje o filme "Aos Teus Olhos" foi daqueles que conseguiu deixar esse Coelho nervoso por dois motivos, o primeiro é por mostrar como o mundo (ou o Brasil em geral) tá impossível de se viver, pois qualquer coisa é motivo para um processo e se confundem coisas demais, então é de dar nojo a atitude dos pais do filme, e sei que muitos são assim por aí, e segundo pela diretora trabalhar com uma forma que me incomoda demais que é fechar seu filme sem dar sua opinião sobre o assunto, deixando que o filme fique aberto para discussões e indagações. Porém longe disso ser um problema imenso, e ser apenas uma revolta pelo estilo que prefiro (que todos tenham opinião para fechar seus longas), a trama soa como um grande alerta para os profissionais de ensino infantil, e principalmente, para técnicos e professores de educação física de crianças, afinal as vezes ser carinhoso com um jovem pode ser confundido por um pai maluco como estar fazendo carícias, e aí... veja o filme para ver o quão absurdo tudo pode virar. E nesse contexto afirmo que o longa foi perfeito, e mais do que recomendo para todos, pois a paranoia anda tão grande (sim, temos muitos malucos, pedófilos e tudo mais espalhados por aí, mas temos mais pais surtados do que pessoas desse estilo) que é melhor ser rigoroso do que carinhoso, ao menos é o que o longa e a vida tem passado ultimamente.
A sinopse nos conta que Rubens é um professor de natação carismático e extrovertido, que dá aulas para pré-adolescentes em um clube. Querido por todos devido ao seu jeito brincalhão e parceiro, ele se vê em apuros quando um de seus alunos, Alex, diz à mãe que o professor lhe deu um beijo na boca no vestiário. Alegando inocência, Rubens é acusado pelos pais da criança e passa a ter que lidar com um verdadeiro linchamento virtual, que tem início através de mensagens de WhatsApp e explode de vez quando chega ao Facebook.
Já havia dito que deveríamos ficar de olho na diretora Carolina Jabor, pois seu primeiro filme "Boa Sorte" foi bem colocado e agradou bastante em 2014, e agora novamente ela trabalha com uma polêmica, só que agora tão atual e cheia de potência que é o famoso linchamento virtual, que poderia até ter rendido muito mais caso ela também tivesse pego o roteiro de Lucas Paraizo e colocado sua opinião num fechamento mais duro e não apenas deixado a reflexão no ar. Claro que durante o longa ela trabalhou de certa forma com alguns pontos que entregam seu posicionamento, afinal não veríamos tantas cenas da loucura da mãe inconformada, da família semi-desfeita e tudo mais, mas ainda assim o resultado da última cena ficou aberta, e isso é algo para se questionar. Porém tirando esse detalhe, o resultado do tema foi tão bem trabalhado, e junto com ótimas expressões dos protagonista, o conteúdo moderno acaba resultando em um longa que funciona muito bem para debates em escolas, clubes e até mesmo dentro de convivências familiares, pois até temos alguns abusos fortes no mundo afora, mas estamos vivendo em um mundo atual aonde a frieza anda sendo necessária para não cairmos em problemas, ou seja, estou aqui colocando a minha opinião, mas vai ser assim com esse longa, e sendo assim creio que a diretora atingiu o que desejava.
Sobre as atuações, o que podemos dizer é que Daniel de Oliveira foi perfeito em todas as expressões de seu Rubens, desde mostrar seu carisma com os alunos, toda a dinâmica com os garotos, com os demais professores, pontuando também seu lado de excessos, mas mudando completamente o ar ao ser acusado, fazendo trejeitos duros e desesperados, que agradaram demais e o fez levar diversos prêmios pelo personagem acertadamente. Malu Galli foi mais contida como a diretora Ana, mas também teve grandes cenas expressivas ao tentar dialogar com o protagonista, e a cada tentativa seu semblante era a de grande dúvida do que pensar, de como agir, e com isso deu um show também. Marco Ricca entregou um Davi questionador, mas também de grande forma acusador, e suas cenas de dúvida do que pensar da esposa, de como agir com a polícia, de como o filho iria sofrer as consequências foram tão icônicas que faz refletir demais o pensamento dele, e em parte de uma sociedade em dúvida, ou seja, ele foi coeso, mas poderia ainda mais. Não sei o que a diretora desejava mostrar por parte das expressões de Stella Rabelo com sua Marisa, se era a de mães malucas ou se tentava algo diferente, mas de certo modo acabou ficando um pouco estranho a atitude dela em alguns momentos, embora os semblantes foram coesos com cada situação. Dentre os demais, todos fizeram bem seus momentos, mas faltou um pouco mais para cada poder se destacar, desde a namorada com ataque histérico até o jovem amigo, passando pelo colega de profissão acusador, que acabaram dando bons temas para discutir, mas sem nenhuma expressividade marcante.
No contexto cênico a trama foi coesa em trabalhar tudo praticamente dentro apenas do clube, de um apartamento simples, de um apartamento mais chique e de uma delegacia digamos arrumadinha, mas como a essência da trama estava toda desenvolvida para o texto, o resultado da equipe de arte foi mais para simplificar as situações e apenas situar o público de onde os protagonistas estavam, mas principalmente refletindo que tudo poderia acontecer em qualquer lugar. A fotografia brincou com imagens de câmeras, imagens em tons mais densos para criar dramaticidade e também muitas cenas submersas para criar um ambiente fluído, ou seja, várias técnicas criativas, mas sempre deixando o arco para a reflexão mais em cima do texto mesmo.
Enfim, é um filme que vai servir para muitos debates, que vai ter muitas reclamações pelo fechamento aberto demais, mas que mostra um potencial dramático diferenciado para o cinema nacional sem precisar apelar para múltiplos vértices, que acaba virando uma novelona, e com isso o resultado do longa vale muito a pena ser visto por todos, mas como disse no Facebook é obrigatório para todos que trabalham com educação infantil analisar como o mundo está bem maluco, e a cabeça dos pais está cada dia mais noiada (para colocar uma expressão mais leve). Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá.
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