Quando me perguntam qual estilo de filme eu mais gosto sempre respondo a mesma coisa: todos, desde que não vire uma novelona, pois filmes tem de ser dinâmicos na minha opinião, ser resolvidos e entregar a opinião do diretor sem ficar criando relações mil ao redor, mas quando uma novela é boa, até conseguimos gostar um pouco, esperando uma resolução considerável e torcendo para que tenha algum clímax ou reviravolta interessante ao menos, mas quando isso não ocorre e a enrolação é levada até o final, a decepção costuma ser grandiosa. Digo isso, pois classificaria "Colo" como uma novelona que mostra a essência da crise financeira que é desmoronar famílias, e que talvez tivesse uma proposta bem colocada para ser mostrada, mas enrola tanto, trabalha os personagens de forma sempre aberta demais, possui duas reviravoltas absurdas e acaba finalizada de forma tão ruim que certamente será daqueles que não vou lembrar de ter visto daqui algumas semanas, ou seja, está longe de ser um pesadelo, consegue soar agradável sem muita apelação, mas não faz nada além do básico.
O longa nos situa em Portugal, aonde a rotina diária de pai, mãe e filha é absorvida pelos efeitos da crise econômica. A mãe se desdobra em dois empregos para pagar as contas, pois seu marido está desempregado. A filha adolescente guarda seus próprios segredos e tenta manter sua rotina diária apesar da falta de dinheiro. Para escarpar dessa realidade comum, eles se tornam, lentamente, estranhos uns aos outros, enquanto a tensão se transforma em silêncio e culpa.
A diretora e roteirista Teresa Villaverde até foi bem no contexto que desejava passar, conseguindo retratar a grande desestabilização da família, a loucura que alguns acabam fazendo, o desespero por parte de alguns, e com isso ela cria uma ambientação eloquente e totalmente dentro da proposta, porém exagerou demais em pausas dramáticas, em trejeitos forçados para cada ato, e com isso o longa mais enrola do que acaba tendo ações, o que resulta em algo que fraqueja demais para o público em geral. Não digo que seja um filme ruim, pois ela conseguiu mostrar o que desejava, mas poderia ser daqueles filmes que sairíamos do cinema com o queixo no chão, e infelizmente não é o que acontece.
Sobre as atuações, temos de ser sinceros que todos fizeram trejeitos demais para seus personagens, o que demonstra um pouco de exagero por parte da direção em não saber passar para os atores o que desejava, mas também um pouco de culpa recai sobre eles que poderiam não ter feito tantas caras e bocas nos momentos mais precisos, marcando a cena com bons diálogos e olhares apenas, que ainda assim acertariam o que o longa precisava, mas como isso não é algo que pode ser corrigido, o que vimos foi João Pedro Vaz como um Pai que surta completamente após não conseguir emprego nem com amigos e que parte para todo tipo de loucura, até mesmo a de fazer algo completamente fora de seu alcance, e que pasmem é aceita, ou seja, nessa parte quase ao final, eu ri muito mesmo o longa sendo um drama, e com isso podemos dizer que o ator se deu por completo para a trama, e mesmo fazendo muitas coisas irreais, sua interpretação foi a melhor do longa. Beatriz Batarda entregou também uma Mãe desesperada para com seus empregos, sofrendo dores, febres e tudo mais que se sente após a estafa atacar, mas o surto era iminente também, e a atriz até fez boas cenas, mas apareceu pouco dentro do contexto da trama, o que acabou pesando para que suas atitudes não chamassem tanta atenção. Alice Albergaria Borges trabalhou sua Marta como uma adolescente mimada demais, que tem tudo e que quando lhe vão tirando algo acaba fazendo mais atrocidades do que chamando atenção, e sempre com uma cara apática mesmo nos momentos de descontração, a atriz foi a que mais falhou, principalmente por sempre estar em foco, ou seja, assumiu a culpa do desastre.
No conceito cênico, a trama teve um desenvolvimento estranho, pois mostrou o que acontece com quem não paga as contas, colocou locações simples gastas e bem montadas para exemplificar cada lugar, mas trabalhou de forma tão abstrata que não conseguiu soar convincente de um modo geral, e isso é uma pena, pois o longa tinha potencial. Destaque para a boa fotografia feita nas cenas no escuro, que deram um tom intimista para a produção, e que poderia ficar ainda melhor se mantivesse mais momentos nesse estilo.
Enfim, é um longa bem mediano que tinha uma proposta até que ousada e a diretora tinha potencial para atingir, mas optou por algo mais lento e novelesco demais, o que acabou resultando em algo abaixo do comum de vermos em longas do gênero. Portanto não recomendo o filme, mesmo com a proposta funcionando de modo bem abstrato. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com algumas estreias da semana, e no domingo volto para fechar o Circuito Indie, então abraços e até breve.
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