O estilo interpretativo de alguns países são mais difíceis de compreender do que outros, e se tem um que, por ser tão diferente do que estamos acostumados a ver, consegue entregar filmes muitas vezes estranhos é o tal do sul-coreano. Não digo que "Na Praia à Noite Sozinha" seja um exemplar dos mais complexos do país, principalmente por entregar algo que está tão em alta que é o assédio no mundo do cinema, de forma que acabamos vendo muitos detalhes na telona que realmente acontecem e vem à mente como algumas atrizes se sentiram deslocadas, porém o primeiro ato é um pouco frouxo e cansativo, pois ao não identificarmos tanto a localização, ou o que está realmente acontecendo ali, o resultado fica um pouco perdido, e somente após o segundo ato passamos a compreender melhor e até não jogar completamente fora tudo o que vimos ali. Ou seja, diria que é um filme diferente do usual, mas que mesmo sendo do comecinho do ano passado, muitas mulheres americanas certamente se identificariam com o que a protagonista aqui passou, e se fizerem uma refilmagem americana certamente vamos nos conectar completamente com tudo.
A sinopse nos conta que após ter um relacionamento com um homem casado, a famosa atriz coreana Younghee resolve dar um tempo e viaja para a cidade de Hamburgo, na Alemanha. Lá, em uma conversa com uma amiga, ela se pergunta se o amante a seguirá ou se ele sente sua falta tanto quanto ela. Ao retornar à Coreia, reencontra alguns velhos amigos na cidade costeira de Gangneung, onde comem e bebem juntos. Já meio bêbados, Younghee provoca, insulta e irrita os amigos. As conversas entre eles ficam cada vez mais fora de controle, revelando descobertas e verdades. Em seguida, ela se retira para uma praia deserta. Qual é a importância do amor na vida de alguém? Younghee quer saber.
O diretor Sang-soo Hong é daqueles que gosta de trabalhar bem a subjetividade, vimos isso em "O Dia Depois" e aqui novamente ele entrega um filme aonde os personagens contam mais a história do que o próprio roteiro em si, e dessa forma acabamos até bem intrigados com a personalidade de Younghee se ela realmente é culpada ou se culpa assédio que teve de um diretor, e embora procure saber o que é o amor, ela também se prende a detalhes e brinca com essa situação. Claro que para vermos isso precisamos ir bem além, pois o estilo que ela usa é algo bem diferente do comum, e junto com a legendagem imaginaríamos uma entonação completamente diferente se fosse feita em qualquer outro país, mas lá falam com tanta calma e paciência, que só com muito álcool na mesa para vermos reais personalidades. Não posso dizer que o diretor foi bem efetivo, mas ao menos a história desse me convenceu bem mais que seu filme mais recente (que vi até antes desse), e ainda quero entender algum dia o motivo dele dar tanto zoom em cenas desnecessárias.
Talvez seja uma implicância minha com a dramaticidade sul-coreana, mas Min-hee Kim poderia facilmente ser mais expressiva nos seus momentos dramáticos, impondo sua personalidade para com sua Younghee, pois sua história é dura, seus momentos são fortes em todas as cenas, mas ela sempre está apática sem ser nas cenas que faz bêbada, ou seja, ela saberia bem mostrar personalidade, mas foi apenas condizente de sua situação e não entregou nada muito chamativo. Dentre os demais atores, a maioria fez apenas boas conexões, alguns olhares avulsos, e nada além de estar junto com a protagonista trabalhando algumas conversas, mas nada que chamasse muita atenção.
No conceito cênico foi bacana conhecermos mais o interior da Coréia do Sul e também uma Hamburgo bem alternativa, pois geralmente vemos a grande concentração das cidades e locações mais complexas, de modo que o filme teve um ar mais interiorano com a protagonista mostrando sua aversão também aos grandes centros comerciais pelo que acabou acontecendo com ela, e assim sendo a equipe artística apenas precisou trabalhar a simplicidade dos locais e também colocar nas mesas muitas garrafas de saquês e cervejas (que falaram tantas vezes que a qualidade da cerveja coreana melhorou que acredito que a marca Max pagou algum tipo de patrocínio para o longa) para que a protagonista se soltasse mais e falasse algumas verdades para os amigos na mesa. Já a fotografia foi no básico, sem muita ousadia, e mesmo os protagonistas falando toda hora que estava frio, só sabemos disso pelos figurinos, pois o sol estava a pino na maior parte do tempo.
Enfim, é um filme simples, mas bem efetivo no que desejava criticar, que funciona e interessa bem no segundo ato, de modo que talvez uma montagem diferente chamaria bem mais atenção e colocaria o longa como um marco nas obras que muitos devem conferir sobre assédio dentro do cinema. Ou seja, recomendo a trama, mas com muitas ressalvas, pois é um filme bem alternativo que muitos irão conferir e não irão entender nada. Fico por aqui encerrando o Circuito Indie (não irei comentar sobre o longa antigo que conferi novamente, pois como costumo dizer, quando revejo clássicos acabo vendo mais defeitos do que qualidades), mas amanhã confiro a última estreia dessa semana, e volto aqui para postar sobre ele, então abraços e até logo mais.
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