quinta-feira, 5 de abril de 2018

O Futuro Perfeito (El Futuro Perfecto) (The Future Perfect)

Sabemos que em todos os países temos longas bons e ruins, mas se tem um país que sabe exportar bem suas obras e só mandar coisa muito boa para cá é a Argentina, pois dificilmente aparece um longa que saímos reclamando da sessão com o que foi exibido, e na maioria das vezes o elogio é de quase beirar a perfeição. E claro que comecei o texto dizendo isso, pois "O Futuro Perfeito" é daqueles longas que se você ler a sinopse vai achar a ideia tão boba e tão irreal que com quase toda a certeza se puder optar por outro título, irá deixar esse de lado, mas não faça isso, pois você irá se arrepender, afinal o longa beira o genial fator de transportar para a telona a ideia de que tudo o que aprendemos nos cursos de línguas, com exemplos bobos, quando vamos usar na prática dificilmente acontece igual, e com isso acabamos nos atrapalhando muito, então se coloque na pele da protagonista, uma chinesa tentando aprender castelhano, que assim como nosso português possui um milhão de estilos de conjugação de verbos, e ainda mais trabalhar com o famoso futuro do pretérito, aonde você precisa imaginar sua vida com o que faria, ou seja, diversão garantida, e embora tenha algumas coisas um pouco absurdas, o resultado final é incrível, e até terminaria na cena anterior que acaba, mas a ideia final é boa ao menos.

O longa nos conta que Xiaobin tem 17 anos e não fala sequer uma palavra de espanhol quando chega à Argentina para encontrar sua família. Alguns dias depois, ela ganha o nome de Beatriz e um trabalho em um supermercado chinês. Sua família cuida de uma lavanderia e vive completamente isolada dos argentinos e da vida local. Xiaobin/Beatriz consegue guardar algum dinheiro e começa a frequentar um curso de castelhano. Ela testa seu novo idioma nas ruas e acaba conhecendo o indiano Vijay. Quando aprende o tempo condicional na escola, Xiaobin começa a pensar no futuro, no que aconteceria se seus pais soubessem de seu relacionamento com Vijay. Quanto mais ela aprende o novo idioma, mais ela é capaz de modificar sua realidade.

Em seu longa de estreia, a diretora alemã Nele Wohlatz usou a coerência ao seu favor, para trabalhar a língua estrangeira dentro da linguagem cinematográfica, e embora isso possa parecer tão simples, afinal já vimos outros exemplares aonde algum personagem não sabe falar a língua do país e acaba entrando em alguma fria, aqui ela não subestimou o espectador, e acabou deixando que a comicidade fosse usada não pela protagonista, que se faz séria na maior parte da trama, mas sim pelo roteiro em si que acaba sendo divertido pela proposta de usando a conjugação verbal para imaginar o seu próprio futuro, ou seja, tudo acaba fluindo diretamente pela brincadeira de se aprender uma língua em sala de aula e ao necessitar usar ela na realidade tudo fluir diferente, então a protagonista acaba necessitando agir para que seu futuro seja perfeito como a conjugação lhe diz. Diria que faltou talvez algumas cenas mais de impacto e menos cenas de abstração para que o longa ficasse realmente perfeito, mas num contexto que é proposto, a diversão vale por demais.

Sobre as interpretações, é fato que o longa gira completamente em cima da protagonista, e com isso a jovem Xiaobin Zhang precisou ser completamente bem trabalhada para ser o mais real possível em sua estreia nos cinemas para que o longa fluísse bem, e ela conseguiu trabalhar trejeitos assustados em relação a linguagem, trejeitos de ignorar pessoas quando não entende e não quer entender, e claro mandou muito bem seu chinês quando não soube o que responder em castelhano, ou seja, foi perfeita e bem carismática para todas as situações. Já o jovem indiano Saroj Kumar Malik acabou ficando com um Vijay meio inexpressivo como se estivesse bem para com o filme, ou seja, poderiam ter colocado um ator melhor para o papel, que aí sim tudo ficaria mais incrível como aconteceu nas cenas com o ator argentino Nahuel Pérez Biscayart ensinando como chorar no cinema.

No conceito cênico, como nunca fui para a Argentina, fiquei me perguntando se por lá a maioria dos supermercados são administrados por chineses, pois a jovem vai trabalhar em dois diferentes e tudo parece dominado pelo grupo, mas tirando esse detalhe, o grande feito do longa foi ser simples em tudo, focando a câmera quase sempre na protagonista para não precisar de muitos cenários, e com isso economizando ao máximo para ser efetivo. Destaque claro para as cenas mais caras, em que a jovem fala suas versões de futuro, e com isso tiveram de abusar da criatividade e agradar bastante também.

Enfim, citei acima alguns defeitos da trama, mas certamente é um longa que vai divertir bastante quem conferir, pois praticamente todos nós já passamos por cursinhos de línguas aonde aprendemos exemplos bobos e que se formos viajar (ou pior, morar fora) vamos usar bem pouco o que aprendemos, pois na prática tudo ocorre bem diferente. Portanto quem puder, confira o longa e se divirta com essa história maluca, pois garanto que vai valer a pena. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um longa do Circuito Indie Festival, então abraços e até logo mais.

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