Alguns estilos de filmes são difíceis de aceitarmos ver no Brasil, pois sempre acabam ou destoando para um ar novelesco, ou acabam não indo para rumos que poderiam emocionar e ficar perfeitos. Um deles é o drama familiar por doença, que estamos acostumados a ver vindo de longas europeus e até mesmo dos nossos vizinhos argentinos, e quase todas as vezes saímos lavados do cinema de tanto chorar. Pois bem, eis que temos um exemplar nos mesmos moldes feito no Brasil, e temos que falar logo de cara de "Antes Que Eu Me Esqueça" felizmente fugiu do mote novelesco e entregou um ar bem clássico para a trama, com personagens determinados a entregar um bom fluxo e tudo mais, mas faltou aprenderem um detalhe: como emocionar! Pois a trama flui tão segura, sem vértices melosos, que nem o problema do protagonista sendo algo que geralmente emociona, o resultado do longa acaba passando em branco, e isso faz dele um filme seco, que até entrega bem o que se propõe, mas que não atinge um ápice em momento algum. Ou seja, o longa fica longe de ser algo perfeito, mas felizmente também fica bem longe de ser uma bomba completa, o que mostra que ao menos estamos tentando ser diferenciados, e logo quem sabe esse estilo possa nos dar até grandiosos prêmios.
A sinopse nos conta que aos 80 anos, Polidoro decide acabar com a estabilidade de sua confortável vida de juiz viúvo aposentado tornando-se sócio de uma boate de strip-tease. Diante de tal situação, sua filha Beatriz decide interditá-lo judicialmente. Em audiência, Paulo se declara incapaz de opinar sobre as decisões do pai porque não fala com ele há anos. O juiz determina que seja feita uma avaliação de Polidoro por Paulo, em encontros regulares entre pai e filho, forçando uma reaproximação que transformará suas vidas.
Em sua estreia na direção de longas de ficção Tiago Arakilian soube contrabalancear bem os atos dos protagonistas no mesmo peso que o ato cenográfico em si, de tal maneira que a trama se mostra bem equilibrada de situações, fazendo com que o filme não saia nem com atores chamando a atenção demais, nem com uma proposta ousada demais cheia de devaneios (mesmo que pareça loucura um juiz aposentado querer ter uma boate de strip-tease, sem uma lógica mais elaborada), e com isso seu filme acabou soando gostoso de acompanhar, com personagens bem divertidos e pontuados na medida certa, mas que ficou a todo momento esperando alguma quebra de ritmo ou alguma reviravolta que realmente chamasse o público para dentro do longa. Ou seja, o filme embora tenha alguns floreios, acaba soando linear demais, e com isso andamos junto com ele de lado sem surpresas, o que é bom, mas não nesse estilo, aonde o público espera se chocar ou surpreender com algo na trama.
Dentre as atuações temos de começar falando da ótima expressividade claro de José de Abreu, que sempre bem colocado nos momentos consegue entregar toda a situação de seu Polidoro com simplicidade e muito carisma, de modo que acabamos até torcendo para ele em diversos momentos, só diria que ele poderia ter conseguido chamar a responsabilidade mais forte para si e emocionar mais em diversas cenas, mas que de resto ele foi perfeito. Muita gente acha que é implicância minha com a família Mello, mas Selton não tem expressividade nenhuma em seus papeis, e seu irmão Danton até tenta entregar um pouco mais, mas geralmente acaba fazendo os mesmos personagens mudando um ou outro floreio, e aqui seu Paulo até começa mostrando uma certa dinâmica, se mostra com uma desenvoltura bem encadeada no miolo, mas volta para as cenas finais forçando demais, e acaba ficando estranho, ou seja, poderia entregar uma personalidade emotiva bem pontuada, de modo simples, emocionando que agradaria demais. Embora seja um papel menor, Guta Stresser dá literalmente um show com sua Joelma, trabalhando um palavreado mais chulo por ser uma prostituta, mas que destrói as cenas com carisma e encaixe em cada momento chave, de modo que se o longa tivesse apostado mais nela, é capaz que seria incrível. Dentre os demais, tivemos cenas destacadas com Augusto Madeira como o pianista David que deu bons conselhos musicais envolventes para o protagonista, Mariana Lima como Maria Pia seca e bem colocada, e também bem de leve com Letícia Isnard como a filha Beatriz, mas que por aparecer bem pouco quase some do longa.
No conceito visual arrumaram um apartamento bem cheio de detalhes para mostrar mesmo que rapidamente a vida em grande estilo que o juiz tinha, fizeram um tribunal simples, mas bem colocado para as duas cenas que ocorrem ali, a tradicional pracinha aonde velhos jogam, mas o destaque e onde o longa passa a maior parte do tempo é o clube de strip-tease, que foi muito bem trabalhado no colorido cheio de detalhes, no feitio das bebidas, e até mesmo quando fica mais elaborado no decorrer da trama ainda conseguiu manter o ar tradicional, ou seja, foram boas as pesquisas da equipe de cenografia. A fotografia brincou um pouco com tons mais opacos para segurar a dramaticidade, mas não conseguiu atingir muito um ponto correto de emoção como disse no resto do texto, de modo que poderiam ter ousado um pouco mais.
Enfim, é um filme bem feito, com uma qualidade acima dos padrões, mas que não entregou tudo o que poderia, e isso é uma falha bem grande, de tal maneira que o longa finaliza morno demais para algo que poderia ser de emocionar e deixar o público sem palavras. De certo modo até recomendo ele, mas adoraria chegar aqui e falar que era mais do que obrigatório todos verem, e isso não ocorre. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje encerrando a semana cinematográfica, mas talvez ainda confira uma pré-estreia que já está rolando há duas semanas, mas que ainda não tive coragem de ver dublado, então abraços e até breve.
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