A sinopse nos conta que Paraíso Perdido é um clube noturno gerenciado por José e movimentado por apresentações musicais de seus herdeiros. O policial Odair se aproxima da família ao ser contratado para fazer a segurança do jovem talento Ímã, neto de José e alvo frequente de homofóbicos, e aos poucos o laço entre o agente e o clã de artistas românticos vai se revelando mais e mais forte - com nós surpreendentes.
Após um longo tempo longe das telonas, a diretora e roteirista Monique Gardenberg voltou com atitude e acabou entregando uma trama cheia de detalhes, mas sem eliminar a simplicidade e os símbolos, que são suas marcas registradas, usando e ousando trabalhar com temas duros e que andam muito em pauta atualmente, como a linguagem dos sinais para surdos, homossexualismo, aborto, entre outros, de tal forma que tudo acaba soando verdadeiro sem soar jogado na trama apenas para conquistar determinado tipo de público, ou seja, um encaixe preciso, que colocado com um ritmo bem cadenciado pelas músicas acabou ficando gostoso de conferir e ainda conseguiu passar toda a mensagem. Dessa forma que ela encontrou, o longa passa bem próximo ao de um musical, mas sem que ficasse preso à cantoria, nem que a música fosse o elo mais importante, ou seja, funcionando para timing e dando cadência para a dramaticidade, mas todos os artistas mostraram personalidade cênica de grandes cantores e também botaram o gogó para jogo, envolvendo a todos com boas vozes e entregando as canções, ora conhecidas com novas roupagens. Ou seja, no conceito roteiro e direção foram perfeitos, só um adendo, que talvez tenha tratado de temas demais para um único filme, quase virando uma novela realmente, e assim tratando pouco alguns dos temas, como por exemplo a doença de José, que se não mostrassem o hospital nem saberíamos de sua existência, mas felizmente isso não estragou o restante, é o resultado acaba sendo mais do que perfeito.
Sobre as atuações, o que posso dizer, num modo mais global, é que todos foram extremamente bem expressivos nos gestuais, entregando alma para as canções e dando seu show de personalidade para que cada ato retratasse bem cada elo dramático do filme, e assim acabamos nos envolvendo com cada um, montando os diversos nós na nossa cabeça, e até conhecendo mais a personificação que cada ator tentou entregar para seu personagem, ou seja, mesmo que alguns tenham aparecido menos, conseguiram agradar na mensagem passada. Para começar, temos de falar do performático cantor Jaloo, que aqui em seu primeiro longa se entregou de corpo e alma para o personagem Ímã, de tal maneira que mesmo quem nunca tenha ouvido sequer uma música sua irá procurar na internet após ouvir performances incríveis de belíssimas canções na sua voz, e ainda ver com trejeitos fortes e bem colocados cada momento seu, ou seja, tem tudo para estourar ainda mais em sua carreira, e como ator deve chamar atenção para outros bons trabalhos, pois fez por merecer o destaque. Na sequência tenho de pontuar outro susto, que fiz pouco caso de um longa contando com Erasmo Carlos como ator, era algo de se assustar, mas o tremendão soube dosar olhares e agradar bastante com seu José, mesmo estando com dramaticidade e falas em poucas cenas, ou seja, foi bem sem fazer muito. Lee Taylor vem se mostrando como um dos grandes nomes do cinema nacional, e aqui seu Odair tem seu estilo, marrento, mas cheio de disposição para ajudar o próximo, e ainda claro dar uns pegas, ou seja, fez de tudo na trama. Júlio Andrade é outro dos monstros do cinema nacional, e aqui seu Ângelo é daqueles que ficamos admirados pelo estilo e pela dinâmica que consegue entregar, fazendo olhares, trejeitos e envolvendo pela sua história apaixonada pela amada e claro pela família também, ou seja, perfeito como sempre, além de dar um sotaque maravilhoso para seu personagem. É um filme aonde os atores fizeram a cena, então passaria horas aqui falando de cada um, então vou preferir pontuar que todos foram muito bem, desde Seu Jorge com seu Teylor cheio de ginga e parceiro da família, Humberto Carrão como Pedro que entregou um professor de inglês que ainda não saiu do armário, mas que teve um processo grande na trama e agradou muito, Hermila Guedes com sua sedutora e envolvente Eva, Julia Konrad como a doce e singela Celeste, e até mesmo Marjorie Estiano participou rapidamente com simplicidade cênica e envolveu com sua Milene. E para fechar não posso esquecer da ótima Malu Valli como a mãe surda de Odair que entregou emoções em olhares e teve um fechamento incrível.
No conceito cênico, a trama ficou praticamente o tempo inteiro dentro da boate, passando pelos camarins e nas ruas da redondeza, mas longe disso se tornar algo pobre, teve uma bela simbologia com os figurinos, e com cada elemento cênico mostrado ali nesse ambiente, de tal maneira que ao irmos para a cadeia ou para a casa de Odair e sua mãe, ficamos com vontade de voltar para o clube e ficarmos vendo mais daquele ambiente, mesmo que os demais também foram cheios de detalhes. A fotografia brincou bastante com as cores e cheio de detalhes em destaque, procurou cobrir a escuridão do inferninho com elementos próprios para realçar cada momento.
A trilha sonora embala cada momento do filme passando força e sentimento exatamente para criar as nuances que o longa necessitava, e mesmo que não seja algo tão comum de ouvirmos vale demais escutar no filme e fora dele, tanto que deixo aqui o link para todos conferirem.
Enfim, fui pronto para conferir o longa e tacar mil pedras, mas adorei cada detalhe, e mesmo com o formato novelesco, com muitos personagens e histórias paralelas que poderiam ser mais desenvolvidas, o qual não gosto muito, acabei me redimindo ao filme e recomendo ele por demais para todos. Espero que fique um bom tempo em cartaz para que muitos confiram, pois vale a pena. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para outra sessão para aproveitar o feriado, então abraços e até logo mais.
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