É engraçado como você ao assistir o longa "Querida Mamãe" parece estar dentro de um teatro conferindo uma peça, daí que você chega na sua casa e vai dar a primeira pesquisada e pronto, o longa é inspirado em uma peça de sucesso de Maria Adelaide Amaral que foi exibida há mais de 11 anos atrás, ou seja, o diretor conseguiu segurar toda a dramaticidade teatral, levando para um outro formato, aonde as atrizes conseguiram permear cada momento como uma grande colcha de sentimentos, aonde discutem seus relacionamentos afetivos e conseguem transpassar o envolvimento atual, aonde cada um procura mostrar os seus pontos de vista favoráveis à sua pessoa, mas esquece de olhar ao redor para ver também o que o outro precisa. Não diria que foi um mar de rosas, pois como bem sabemos uma peça funciona bem dentro de um teatro, aonde expressões falam mais alto e a dinâmica por si só conversa com o espectador, mas também passou bem longe de ser um problemático drama novelesco, que beirou os limites para que isso acontecesse. Portanto, com uma proposta embora bem dura, tudo acaba sendo envolvente e agrada de um modo geral.
O longa nos conta a história de Heloísa, uma médica que sofre de infelicidade crônica, tendo problemas com o marido e a própria mãe, a quem constantemente acusa de tê-la preterida pela irmã, Beth. Após se separar do marido, Heloísa conhece no hospital em que trabalha a pintora Leda, que sofreu um acidente de carro. Grata pelo atendimento prestado, Leda deseja pintar um quadro da médica. Inicialmente reticente, ela aceita a proposta e, ao visitar o ateliê, acaba se envolvendo com a pintora. Entretanto, por mais que o novo relacionamento deixe Heloísa bem mais feliz, ela precisa lidar com o preconceito tanto de sua mãe quanto da própria filha.
O estilo do diretor Jeremias Moreira Filho é mais seco sem muitas firulas, aonde ou ele comove ou entrega logo a sua ideia, já vimos isso em outros filmes seus, e aqui não seria diferente, de modo que até temos um ar tocante pelas beiradas, mas sempre focado no estilo teatral as atrizes vão dominando as cenas e praticamente se digladiando nos diálogos, fazendo com que cada ato fosse bem envolvente e bem pontuado. Claro que o preconceito soou forte em demasia, mas era a proposta, e assim a trama foi bem fluída sem cair em momento algum em desenrolares paralelos (o que tornaria o longa numa novela!), e assim sem errar podemos dizer que a direção foi eficiente (para o teatro), o que poderia ter sido mais suavizado para agradar um público que gosta de floreios no cinema. Enfim, podemos dizer que o roteiro foi bem montado dentro da proposta, que a direção foi criteriosa para não inventar moda, mas que na montagem final poderiam ter cortado ainda um pouco para o longa ficar mais curto e efetivo.
Sobre as interpretações, volto a frisar no estilo, pois todas sem exceção fizeram caras e bocas expressivas demais, o que é comum de ver em teatro, e poderiam ter suavizado todas as situações, mas embora isso atrapalhe um pouco em conectar o público, o resultado acabou ficando forte, e talvez essa tenha sido a ideia que o diretor tenha pedido para elas, então não digo que tenha sido algo errado, apenas poderia ser melhor. Letícia Sabatella é uma atriz esplêndida no que sempre faz, e sua Heloísa é a cara da sociedade atual que se cobra demais, mas que vive confinada dentro de si apenas, olhando para o próprio umbigo e deixando de lado até mesmo os familiares para seu próprio bem, e a atriz conseguiu transmitir sensações nas suas cenas, de modo que tudo ficava bem explícito, porém exagerou um pouco demais na seriedade, deixando fluir pouco uma beleza interior que poderia ser mais trabalhada durante todo o longa e não apenas na última cena. Selma Egrei foi muito bem dosada nas cenas de sua Ruth, entregando a tradicional senhora que se preocupa com os netos, que instiga as filhas e que procura esconder tudo de todos, e com olhares doces e bem colocados em todas as cenas acabou ficando muito bem colocada na trama. Dentre os demais atores, todos procuraram mais conexões com as duas protagonistas, mas sempre dando deixas, o que não é errado, mas seus estouros de atitudes acabaram soando um pouco falhos demais, e sendo assim a filha Priscila interpretada por Bruna Carvalho, o marido interpretado por Marat Descartes, e a pintora Leda feita por Claudia Missura acabaram mostrando um ou outro sentimento na tela, mas sempre apagados pelas pontas dos protagonistas, e poderiam certamente ter se destacado mais caso o longa fosse mais amplo no campo de cinema e menos teatralizado.
No conceito visual, o longa foi bem interessante na casa de Ruth com muitos elementos cênicos para irem encaixando na proposta, mas usando ainda da técnica grandiosa do teatro de ir sumindo cenicamente para representar uma despedida, e também ajudar no conceito de lembranças, o que soa bonito, mas também poderiam ter abusado um pouco mais de cores e detalhes, não deixando que o conceito ficasse fechado demais. Os tons da fotografia também poderiam ter dado um ar mais denso de problema, pois mesmo trabalhando com o preconceito o ar técnico foi bem colorido visualmente, e nesse conceito poderiam ter sido bem mais dramáticos.
Enfim, é um filme bem feito, que agrada bem dentro do que desejava passar, mas que certamente melhor aparado e desenvolvido realmente para cinema e não jogando uma peça para dentro da telona acabaria ficando perfeito. Recomendo ele para algumas reflexões, pois muita gente pode aprender a olhar detalhes ao redor e enxergar melhorias familiares para todos. Bem é isso pessoal, encerro por aqui essa semana, mas volto na quinta com mais textos, então abraços e até lá.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...