Sabe quando você começa a explicar algo difícil (tipo o sentido da vida) para alguém, e começa a florear tanto que lá para a metade nem sabe mais o que estava tentando explicar, esse é o estilo de cinema que o diretor Wim Wnders gosta de entregar, pois costuma encantar pela beleza cênica, e acaba se aprofundando em temas que afundam o espectador em pensamentos de onde ele pretendia chegar, e por diversas vezes o público acaba saindo sem saber onde ele chegou, de modo que vai trabalhando sempre o poético com o duro, e geralmente acertando. O caso é que em "Submersão", ele floreou com duas áreas tão complexas (espionagem e biomatemática oceânica) para trabalhar religião e abstração da vida que acabamos flutuando no oceano junto com suas ideias, e até podemos dizer que ficamos perdidos, mas que servirá para muita reflexão e quem sabe até se envolver mais com o que é passado! Ou seja, o filme é o tradicional dele, bem bonito, com um romance instigante, mas que brinca de uma forma aberta demais, tem uma quebra de tempo bem desnecessária, e acaba não fechando como poderia para emocionar ou causar realmente, apenas entregando o básico com algo aberto demais.
A sinopse nos conta que a biomatemática Danielle Flinders, que busca concretizar um projeto de exploração dos oceanos à procura da origem da vida no planeta, em férias num resort remoto na Normandia, conhece o engenheiro hidráulico James More, surgindo uma paixão arrebatadora. Ele decide engajar-se ao seu projeto e, enquanto ela desce num submersível em um perigoso e desconhecido abismo no Ártico, ele, em uma missão na Somália, sob a acusação de ser um espião, é preso e torturado por jihadistas africanos. Com suas vidas em perigo, buscam conectar-se numa jornada espiritual.
Muitos vão reclamar, outros vão amar, mas o fato claro é que o estilo do diretor Wim Wenders é esse, que costuma até ser bem diferenciada por romancear situações não tão românticas e criar perspectivas bem direcionadas, mas aqui o principal ponto que acaba soando um pouco estranho é o fator de termos dois vértices bem diferentes ocorrendo com pensamentos conectados, e com uma edição bem quebrada tudo aparenta fluir de forma mais estranha embora seja compreensível. Não diria que isso soe errado, mas acaba mais cansando do que emocionando realmente, e ao final o público fica com a dúvida de se deu certo ou não. Mas se tem algo que é clássico no estilo de Wenders é o foco de cenas bem fotografadas, com cores marcantes para representar cada instinto e sensação, e aqui o ambiente foi muito bem escolhido, afinal são coisas que poucos costumam falar como biomatemática oceânica, engenharia hidráulica no meio de países dominados por terroristas, ou seja, ver um romance nesse meio já é algo complexo, com diversos recortes então, mas certamente se ele tivesse feito uma montagem diferente com um romance mais evidente realmente talvez o longa ficasse lindo e mais comercial.
Sobre as interpretações, é fato que a escolha de dois grandes atores do momento foi algo completamente acertado para que o filme fluísse bem e ainda garantisse uma bilheteria maior por onde passasse, pois são dois excelentes artistas que conseguem passar toda uma expressividade fora do comum para a telona. James McAvoy se entrega de corpo e alma para seu James More, criando cenas bem limpas e com um charme mesmo quando está sendo torturado, talvez mais cenas como a última soariam mais emocionantes ainda, pois o ator faria o melhor que é se expressar com olhares. Alicia Vikander também mostrou que não estava para brincadeiras com sua Danielle, mas aqui diferente de seus últimos projetos que precisou colocar o corpo para jogo fazendo muita ação, foi mais dinâmica com olhares e diálogos, voltando um pouco para suas origens e sendo sublime até mesmo nos momentos mais duros e desesperadores. Dos demais, podemos dizer que todos foram encaixes, e isso é um dos problemas do longa, pois quando precisou de outros, como nas diversas cenas dos jihadistas, ou até mesmo nas cenas no barco, ninguém estava pronto para chamar a responsabilidade e colaborar com os protagonistas.
No quesito visual, estamos falando de algo vivo quase, e mesmo no fundo do oceano, na parte mais escura, deram um jeito de algo chamar a atenção, então temos locações bem colocadas, barcos imponentes, cativeiros cheios de detalhes e tudo mais para que o filme conseguisse envolver cenicamente, e como o trabalho foi bem floreado de ideias, o resultado geral acaba ajudando a trabalhar cada ato com o cenário, não dependendo dos atores dizer aonde estão, e sim os elementos falando por si. A fotografia brincou com os tons, entregando diversas sensações tanto para os personagens, quanto para o público imergir na ideia que o diretor desejava, mas ainda vou bater na tecla que a última cena inteira em branco quase transparente acabou deixando aberto demais o longa, e poderia ser completamente diferente e ousado caso quisessem.
Enfim, é um filme interessante, mas que pelo trailer aparentava ser muito melhor e muito mais romântico com um envolvimento ímpar, porém a montagem não ajudou a desenvolver como poderia deixando a história um pouco exótica, mas rasa demais de entregas condizentes, ou seja, é daqueles que muitos verão sem entender se gostaram do que viram ou não, de modo que recomendo ele com ressalvas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda tenho mais algumas estreias para conferir, então abraços e até logo mais.
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