Se olharmos a fundo a ideia do longa "Teu Mundo Não Cabe Nos Meus Olhos", que é a intromissão ou o fator de querer dar felicidade para alguém a partir do que você acha que é felicidade para você, até podemos enxergar algum ponto positivo no decorrer da trama, mas a ideologia é tão simples dentro de um longa bem alongado, e as duas resoluções são tão rápidas que por diversas vezes ficamos pensando em motivos de terem deixado tudo tão falho, ou por que raios fizeram algo tão novelesco que poderia ser dinâmico, floreado e bonito, mas não vem razões, e sendo assim a trama acaba sendo singela, que muitos vão assistir e se perguntar por que acabou assistindo, e o resultado acaba passando bem longe de ser um filme que lembraremos algum dia de ter visto, ou seja, artístico demais para algo que não necessitaria de tantos enfeites.
A trama nos mostra que Vitório, cego de nascença, é dono de uma pizzaria herdada de seu pai no tradicional bairro do Bixiga, em São Paulo, e é famoso por oferecer a melhor pizza dos arredores. Vivendo uma vida feliz com a mulher Clarice e a filha Alicia, ele sente que superou todas as dificuldades da cegueira e que deu a volta por cima. Mas, ao descobrir que existe a possibilidade de enxergar, Vitório inicia um conflito consigo mesmo e precisa tomar uma grande decisão.
Confesso que após analisar melhor a trama, o trabalho do diretor e roteirista Paulo Nascimento é notado, pois você consegue trabalhar a essência da trama, coisa que é difícil de ver em filmes nacionais, porém o problema é que a trama é para um curta-metragem, no máximo um média, e para ter 93 minutos acabou alongando tanto que o resultado vira uma novelona imensa. Sem colocar spoilers vou resumir rapidamente como o filme ficaria mais assistível: apresentação do personagem com seu dom de fazer pizzas conhecendo o interior das massas, diversão dele com o amigo em jogos e bares, esposa querendo mudar o marido (pode se colocar aqui a ambição do pai dela ou não) e consequentemente briga, acontecimento trágico na pizzaria, operação, decisões finais e pronto, em 15 a 25 minutos teria um filme incrível e bem montado, mas é uma pena a ambição de alguns diretores que acham que tem uma história gigante para ser representada, e assim acabam transformando bons textos em novelas arrastadas, mas como disse a essência está impregnada na trama, e quem olhar com um ar mais profundo, tirando os excessos, até vai gostar sem muitas reclamações.
Falando um pouco sobre as atuações, podemos dizer que Edson Celulari fez bem os trejeitos de seu Vitório, evitou olhares exagerados para a câmera ou para qualquer lugar, deixando bem claro a deficiência, e soube entoar sua voz corretamente para os diversos momentos, agradando também como um descendente de italiano, mas poderia ser menos exagerado no tom, pois não é um italiano realmente, então ficou bem colocado, mas nada que surpreenda, apesar de levar o longa completamente com sua atuação. Agora a minha dúvida é o motivo de colocarem uma atriz estrangeira talentosíssima como é Soledad Villamil como a esposa Clarice, pois embora seja mostrado e contado que tinha vindo da Argentina com as amigas para estudar na USP, não havia a mínima necessidade disso, e qualquer atriz mais simples faria os mesmos trejeitos simples da trama e entregaria o mesmo, de modo que apenas gastou tempo da atriz. Leonardo Machado mostrou demais com seu Cleomar o verdadeiro tom da amizade entre funcionário e patrão, com dedicação e paixão mesmo nas piadas, o que agradou muito ver o ator trabalhar trejeitos bem colocados e ser singelo nos melhores momentos da trama. A filha embora tenha seu mote, afinal todo longa novelesco precisa de muitos outros momentos para preencher tempo, foi simples demais, de modo que nenhuma expressividade de Giovana Echeverria tenha chamado atenção. O longa ainda teve participação de outro ator argentino, mas também apenas para encher o cachê da trama, pois desnecessário os momentos dele.
No conceito visual a trama trabalhou bem o conceito do Bixiga, tradicional bairro de italianos, com boas pizzarias tradicionais, arrumaram uma boa locação para a pizzaria do protagonista ser bem bonitinha com sua casa dentro, nas cenas do hospital fizeram uma simplicidade bem maquiada para não precisar locar um hospital realmente (é 100% notável!), mas que poderiam ter caprichado um pouco mais, e foram condizentes em cenas de rua, gravando talvez até dentro de algum jogo do Corinthians para ter um realce bacana de torcida, mas nada que surpreenda dentro do contexto da trama, sendo apenas mais algo a ser mostrado. A fotografia brincou um pouco com imagens embaçadas nas cenas pós-cirúrgicas, de uma maneira bem bacana, e até ousou algumas sombras nas cenas escuras para passar a ideia, mostrando um apreço pelo tradicional bem feito.
Enfim, é um filme bem feito, mas que falha mais do que agrada, entregando algo coerente, mas que poderia ser muito menor e que teria um valor muito maior se não tivesse virado novela alongada, ou seja, algo simples que desandou ao ficar grande demais na execução, quase matando a essência. Infelizmente não é algo que eu recomende, tanto que na minha sessão havia umas 12 pessoas e 4 saíram bem antes de terminar o filme, o que é fácil de acontecer por não ser algo que prende realmente. Fico por aqui hoje, mas volto em breve, afinal essa semana veio com uma grande quantidade de estreias, então abraços e até logo mais.
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