Já disse isso nessa semana, mas volto a afirmar que se existe um pessoal incrível para criação de roteiros, essa turma está na França, mas ainda a praça deles são dramas e comédias bem dirigidas que acabam saindo com um primor fora do comum, e quando tentam verter em algo mais fantasioso costumam cansar o público pela falta de ritmo e uma produção mais emocionante. Digo isso sem pensar duas vezes, e posso até me enganar, afinal sempre terá exceções, mas o que vimos aqui em "A Aparição" é um roteiro incrível sobre investigação, sobre fé, sobre verdades ou mentiras e muito mais, mas que ao transformar em algo capitular, e enrolar num desenvolvimento lento para que acabássemos acreditando num envolvimento maior, para que a investigação fosse a fundo e tudo mais, acabou que o longa que tinha uma essência incrível ficou cansativo demais, e com isso a trama cheia de detalhes não permeou o que poderia ser um feito de arrepiar nas mãos de uma equipe americana ou inglesa, que certamente não deixaria o longa em capítulos e resolveria tudo em meia dúzia de cenas. Não digo em hipótese alguma que o longa francês aqui seja ruim, muito pelo contrário, ele envolve e faz a discussão florescer muito dentro das diversas possibilidades, e até usando da resolução fraca e rápida ainda continua bom, mas falta muito ritmo para que ficasse agradável e interessante de conferir mais comercialmente.
A trama nos apresenta Jacques, grande repórter de um jornal francês, que recebe um misterioso telefonema do Vaticano. Em um pequeno vilarejo no sudeste da França, uma jovem de 18 anos afirma ter visto a aparição da Virgem Maria. Os rumores logo se espalham, e o fenômeno toma tal dimensão que milhares de peregrinos vão se reunir no local das supostas aparições. Jacques, que não tem nada a ver com esse mundo, aceita fazer parte de uma comissão de investigação encarregada de esclarecer esses eventos.
É estranho que o diretor e roteirista Xavier Giannoli, que é mais acostumado a fazer comédias dramáticas e romances, tenha criado uma história tão tensa, pois geralmente o gênero fantasioso, ou até vamos colocar com uma proposta de baseado em fatos reais, é comum de vermos outro tipo de diretores tramando, mas ele soube pontuar na trama detalhes bem críveis e interessantes de vermos no estilo, de modo que a ideia investigativa acaba funcionando bem e o longa tem um vértice dramático bem empossado. Mas como seu estilo é algo mais alegre ou com desenvolturas diferentes, fica fácil notar a dificuldade em conectar tudo, e dessa forma foi para o caminho mais fácil para um roteirista, que é capitular tudo e não necessitar mudar os caminhos da direção dentro do longa, deixando que cada capítulo se resolva por si, e dessa forma como sua história possuía muitas vertentes, seu filme acabou arrastado e longo, o que não era para acontecer, se apontasse logo o rumo da investigação e lá tudo fosse apresentado. Ou seja, o molde da trama é como se tivéssemos um livro completo contado na telona, com capítulos se desenvolvendo lentamente, para que no final concluíssemos a investigação da trama junto com os protagonistas e claro com o diretor, de forma que vamos até tendo algumas ideias no meio, mas o final mesmo só vamos saber no encerramento, e assim, falta com a dinâmica de cinema, que tem de ser mais forte para não cansar o público. Ou seja, não digo que seu longa tenha sido falho e ruim, pois a história é ótima, digna de livro realmente, mas faltou um ritmo mais acelerado para convencer a todos de sua opinião e aí sim comover quem estava vendo.
Quanto das atuações, temos Vincent Lindon colocando seu Jacques com olhares tensos em busca de uma verdade, investigando em miúdos cada ponto como um bom jornalista vai a caça, e sintonizando cada momento com trejeitos cirúrgicos de tal forma que ficamos quase no bolso de sua camisa querendo ver cada minuto de investigação sua, e isso mostra que ele conseguiu nos conectar, e funcionar bem seu personagem, só talvez não concorde com suas últimas cenas, mas isso é do roteiro e não do ator, pois de resto foi perfeito. Como a esposa de Jacques diz, Galatéa Bellugi nos entregou uma Anna que dá mais medo do que devoção, de tal forma que seu olhar penetra no nosso, seus trejeitos são afiados e com a calma que vai falando vai entregando uma personalidade até leve, mas que tem de ser vista com muita calma. Patrick d'Assumçao com seu Padre Borrodine até foi humilde e interessante na concepção, demonstrou carinhos e também raivas, e oscilou bastante na condução, o que deixou muitas dúvidas no ar, e isso não poderia existir num filme investigativo. Anatole Taubman já de cara nos mostra que seu Anton é um picareta sem limites, e chega a dar raiva de ver que muitos por aí são iguaizinhos a ele, ou seja, trabalhou muito bem na personalidade, e jogou com trejeitos fortes que um vendedor deve realmente ter. O longa conta com muitos bons personagens, digo isso, sem colocar muitos bons atores na frente, pois os demais papeis soaram até debochados demais, e acabaram mais sendo figurantes com falas excessivas do que atores que fizeram por merecer algum destaque, e isso é ruim, pois poderiam ter trabalhado mais ao menos os outros personagens da investigação, para que tudo fluísse melhor, mas não tem jeito.
No conceito artístico, a equipe de arte trabalhou com muito afinco para que o longa fosse cheio de detalhes, começando com uma mostra de fotos fortes para entendermos um pouco o que aconteceu com o protagonista e seu amigo em meio a guerra (preste atenção nas fotos, será importante mais para o final do longa!), na sequência tivemos uma visita pelas áreas secretas do Vaticano (que não sei se é realmente daquela forma, mas soou convincente!), e chegamos finalmente para o vilarejo, aonde foram coesos em trabalhar uma igreja simples e cheia de fieis passeando pelas ruas, com fotos, velas e tudo mais da moça, criaram um sudário para ser investigado, trabalharam com elementos bem fortes no convento como a fabricação de pillows de plumas, e tudo mais, num trabalho bem minucioso e cheio de detalhes, passando até mesmo por diversos procedimentos de exames em hospitais, ou seja, detalhes em cima de detalhes para que a investigação fluísse, além de ir nas casas antigas da moça, conhecer cada cantinho de modo perfeito e mais preciso impossível. A fotografia floreou em tons escuros para criar uma dramaticidade mais forte e significativa, deixando tons bem claros com a garota na igreja para tentar passar uma serenidade e calma, mas nada muito fluído, ou seja, simples e efetivo que até poderia ter ido mais a fundo.
Enfim, é um longa que permeia bem a imaginação, que vai gerar muitas opiniões diferentes de acordo com a fé de cada um, mas que o diretor não quis apontar demais o dedo para não causar também, deixando que o fluxo e o público saísse da sessão com suas próprias opiniões. De modo geral, mesmo sendo lento demais, até recomendo ele, pois religião sendo investigada é algo sempre interessante de se discutir, então peço que vejam, mas irei torcer muito para que o roteiro caia na mão de algum diretor americano e aí sim teremos uma produção investigativa forte nos mesmos moldes de "O Código Da Vinci". Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, afinal ainda faltam cinco longas dessa maratona completa para conferir, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...