É interessante como os franceses conseguem brincar com histórias aparentemente simples, colocando personalidade e estilo até mesmo num encontro familiar diferenciado como ocorre em "A Excêntrica Família de Gaspard", aonde tudo parecia levar para um âmbito mais romantizado, depois tivemos os diversos conflitos, mas principalmente a trama dividida em 4 capítulos busca tratar da essência familiar através da cultura e da história dos animais, envolvendo toda a dinâmica de um estilo de zoológico que está cada dia mais sumindo, e trabalhando com símbolos para mostrar cada personagem e seus instintos, ou seja, um filme bonito, com um ar leve e gostoso de acompanhar, e que agrada pela simplicidade, mas que poderia ter ido bem além.
A sinopse nos conta que depois de ficar afastado durante anos, Gaspard, com 25 anos, se reencontra com a família após o anúncio do casamento do pai. Acompanhado de Laura, uma moça extravagante, que aceita fingir ser sua namorada durante o casamento, ele se sente pronto para pisar, novamente, no zoológico familiar e rever os animais que o viram crescer… mas entre um pai mulherengo, um irmão sensato demais e uma bela irmã, ele não tem consciência de que está prestes a viver os últimos dias de sua infância.
O diretor e roteirista Antony Cordier foi bem coeso na sua proposta, mostrando através de quase um livro na telona, uma dinâmica bem alocada para retratar a personalidade é a vida de cada um, fazendo com que cada ato seguisse um fluxo e incorporadas na trama sem precisar ficar indo e vindo para apresentar os personagens, de modo que embora tenha começo, meio e fim, a trama completa parece com um mar de apresentações, e isso é o que acaba falhando um pouco. Porém longe disso acabar estragando a ideia completa do longa, esse estilo ousado do diretor acabou sendo inteligente para criar um ar nostálgico também em cima da família, e sendo assim o filme acaba mais agradável do que cansativo.
Sobre os atores, o que posso dizer logo de cara é que a maioria conseguiu entregar algo bem bonito para com seu personagem, interligando bem com a personalidade que o longa acaba impondo, e sendo assim praticamente todos agradam dentro da sua possibilidade. Félix Moat como Gaspard foi bem simples, interligando a história toda como protagonista, mas em momento algum chamou a responsabilidade para si, e essa falha fez com que parecesse ter falta de empolgação para com o filme, mas ainda que não tenha ido a fundo, fez bem o seu papel. Laetitia Dosch como Laura funcionou como uma boa quebra dentro do ar familiar, e a atriz fez boas cenas encaixando o elo que faltava para o protagonista decolar. Christa Théret entrega sua Coline como o problema da família, a diferente, e isso acaba agradando demais para ter o teor dramático que o longa pedia em segundo plano. Johan Heldenbergh fez de seu Max, aquele pai maluco que certamente fez o filho sair de casa, e o ator fez de seus atos uma verdadeira ode à vida de dono de zoológico procurando chamar para suas cenas algo que não chega a ser esplêndido, mas que empolga como um ar diferenciado. E para finalizar Guillaume Gouix vem como Virgil, o administrador do zoo que tenta ser responsável, mas que no fundo apenas tem raiva do irmão ter abandonado a família para trás, e o ator fez isso de uma maneira incrível trabalhando olhares e dançando realmente como a música seria se ele pudesse viver sua vida diferente.
A equipe de arte arrumou um zoológico incrível, cheio de animais exóticos em algo que quase lembra um grande sítio, e com isso o desenrolar da trama, com os cães devorando os animais, e servindo de símbolo para os conflitos, bem como as interações na casa aonde os pontos acabaram fluindo cheio de detalhes para realçar a infância de cada um, juntamente com o momento em que estão vivendo, demonstrou uma pesquisa cênica incrível muito bem feita.
Enfim, um longa bem interessante, que poderia sim ser bem melhor se ao invés de capítulos e muitas dinâmicas para apresentações fosse direto ao ponto e encontrasse com isso um problema maior, mas que ainda assim agrada bastante, e que com muita simplicidade acaba empolgando quem entrar no clima da trama. Bem é isso, fico por aqui agora, mas já vou para o próximo filme, então abraços e até logo mais.
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