Existem absurdos que são aceitáveis e que valem ser conferidos pelas abstrações entregues, mas existem alguns filmes que vão tão fundo em hipóteses malucas que não conseguem atingir nada de real, e saímos da sessão sem nem saber se realmente entendemos alguma coisa que foi mostrada na telona. E esse sentimento é o que sinto após ver "Além do Homem", uma mistura tão bagunçada de ideias, que só vale mesmo pela bela cenografia e fotografia, pois o contexto é estranho, a história é maluca, e a direção é completamente sem nexo, deixando o filme sem rumo, indo para vértices incomuns que sequer poderíamos imaginar, e sendo assim não tenho como recomendar de forma alguma o que acabei de ver.
A sinopse nos conta que Alberto Luppo é um escritor brasileiro que mora em Paris há anos e desde então renega suas raízes tropicais. Quando um famoso antropólogo francês desaparece na cidade de Milho Verde, Minas Gerais, ele volta para sua terra natal e inicia uma investigação para descobrir o paradeiro do velho amigo. No entanto, durante a viagem, ele se encanta pela cultura brasileira, assim como suas terras e sua gente, algo até então impossível para ele.
Em sua estreia na direção de longas de ficção, Willy Biondani abusou do experimentalismo para que seu filme floreasse de uma maneira bem mística sobre o que é felicidade no interior do interior, unindo folclore com loucura, bebidas, calor, sexo e tudo mais, de forma que acabamos envolvidos em uma viagem tão doida que quem não ler a sinopse com toda sinceridade do mundo não saberá o que ele desejava nos mostrar, e isso é muito ruim, pois costumo dizer que um filme tem de contar sua história sem necessitar de apoios, e aqui confesso que antes de pegar a sinopse para colocar aqui no site sequer imaginava essa vertente, e por incrível que pareça, ela faz sentido, mas sem ela estava pronto para vir falar aqui que assisti ao filme mais maluco da face da Terra, sem sentido algum. Ou seja, ainda vou me ater ao fato de o filme ser estranho, e mesmo tendo essa ideia de tentar mostrar a felicidade brasileira nos pequenos detalhes malucos no meio do sertão mineiro, o resultado acaba não sendo agradável.
Sobre as atuações, podemos dizer que Sérgio Guizé nos entregou um Alberto com um bom misto de expressões fortes que vão sendo intercaladas entre prazer e loucura com uma gama boa de olhares e trejeitos que acabam nos deixando confusos do seu sentimento para com tudo, mas de certa forma ele fez um personagem bem interessante. Otávio Augusto sempre costuma entregar bons personagens, e aqui acabou ficando bem misterioso, maluco e até bem colocado na trama, agradando com expressões difusas. Fabrício Boliveira conseguiu ser diferenciado na ideia de um guia para o desconhecido com seu Tião, mas em alguns momentos soou exageradamente forçado e poderia ter sido mais contido. Débora Nascimento só serviu como um personagem sensual com sua Bethânea, e acabou até tendo um certo misticismo em cima de seus momentos, mas não chega a lugar algum, e isso acaba soando mais estranho do que bem feito. Dentre os demais vale apenas um leve destaque para Flávia Garrafa com sua Rosalinda pela boa comicidade, mas de resto, os franceses da produção só serviram de enfeite mesmo para valorizar o longa para não ser apenas falado em português.
Agora sem dúvida a nota que darei para o longa se vale pelo trabalho da equipe de arte que ao colocar a beleza do sertão misturada entre boas locações e muitos elementos cênicos bem desenvolvidos para retratar cada momento, acabou conseguindo ao menos transparecer bem as abstrações que desejavam mostrar, e ainda tentar situar o público de tudo o que acontece, pois se fizessem isso em algum lugar utópico sem referências teríamos aí sim um longa 100% maluco. As cenas na França também foram bem colocadas e acabaram funcionando dentro da proposta, mas nada que impressione muito. Com uma fotografia cheia de velas, sombras e detalhes para criar uma tensão sempre iminente no ar, o resultado técnico acaba mostrando um certo primor para fazer o filme, e quem sabe com uma ideia mais coesa, e melhor desenvolvida teríamos um longa incrível.
Enfim, é um filme estranho que leva nada a lugar nenhum, e que sabendo da história pela sinopse acaba sendo um pouco melhor de acompanhar, mas ainda assim o resultado acaba incomodando pela essência, e sendo muito ruim de acompanhar, não valendo gastar 94 minutos de sua vida conferindo ele. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda falta conferir mais uma estreia da semana, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...