Lembro como se fosse hoje, em uma aula da faculdade que dizia que o grande mérito de um diretor é saber cortar fora o que não vai ser necessário para que seu filme fique mais contundente e direto aonde você deseja chegar, porém vejo tantos filmes que diretores seguram algumas cenas por minutos para que o filme se alongue e vire um longa-metragem que fico pensando: será que esse povo pensa também dessa forma, ou como não tinha mais nada para passar fica enchendo linguiça à toa? Pois bem, começo meu texto de "Amores de Chumbo" dessa forma, pois mesmo sendo um filme que poderia desenvolver perfeitamente um relacionamento quebrado pela ditadura, com lembranças dolorosas voltando e se confrontando numa dinâmica incrível para discussões, trabalhando com a família e tudo mais, a diretora acabou optando por algo mais reflexivo e quase sem ritmo que contando com 97 minutos, facilmente seria resolvido em 37 com muita sobra ainda, ou seja, algo que viraria um média com um teor impressionante, mas que acabou virando um longa cansativo e que nada entrega de muito impacto.
A sinopse nos conta que um misterioso triângulo amoroso do passado ressurge anos depois. Miguel e Lúcia estão prestes a comemorar seu aniversário de 40 anos de casamento, mas a chegada de Maria Eugênia acaba atrapalhando os planos do casal, já que junto com seu retorno, voltam também as memórias dos amores vividos entre Miguel e Maria. Além dos horrores dos anos de chumbo, período da ditadura militar no Brasil.
Chega a ser até difícil pensar no que falar sobre o longa, pois beira o monótono ter tantas cenas alongadas, que para ter ideia de tempo, estava já me cansando com uma das cenas de romance de uma das protagonistas dançando, que após passar muito tempo, resolvi pegar o celular para ver o nome da música, procurar o aplicativo e ainda deu tempo, ou seja, tudo bem mostrar o flerte de lembrar os tempos áureos da juventude, mas você indica isso e pronto, próxima cena, e com isso a diretora e roteirista Tuca Siqueira em sua estreia acabou mostrando algo que não conseguiu atingir ápice em momento algum, tendo sim uma temática bem pautada para ser desenvolvida: os romances que foram destruídos com a ditadura através de separações, cartas que não chegavam aos seus destinatários e tudo mais, mas que acabou ficando forçado e cansativo demais de ver, pois cada cena era introspectiva demais e não caia como poderia.
Sobre as interpretações, podemos dizer que todos se esforçaram para não parecer artificiais, e conseguiram passar ao menos boas intenções nas expressões, trabalhar a paixão no olhar, mas mesmo que seja um amor de longa data, a forma estranha que Miguel sai de casa num frenesi absurdo após 40 anos de casado acabou ficando algo que não é possível de crer, ao menos com os trejeitos do ator Aderbal Freire Filho, mas não o culpo por isso, pois aparentemente a trama estava lhe forçando à esse estilo. Quanto das mulheres, algumas cenas de Augusta Ferraz com sua Lúcia ficaram completamente desnecessárias, de modo que a artista se mostrou constrangida visualmente e com isso o resultado não chama a atenção como poderia, ou seja, ficou estranho. Já Juliana Carneiro da Cunha se mostrou bem segura nas cenas de sua Maê e com isso mesmo aparecendo do nada como uma assombração do passado, ela acabou saindo bem. Dos demais, o filho apenas foi uma mostra de como alguns jovens ficaram aflitos por natureza pelos abusos que os pais sofreram na época da ditadura, mas também forçou um pouco a barra nas suas cenas, e o amigo só serviu para mostrar que o grupo era subversivo ao ponto máximo de arruaças, ou seja, o famoso grupo que sofreu muito na ditadura.
No conceito cênico diria que arrumaram bons apartamentos, também alguns locais de Pernambuco aonde hoje se encontram museus aonde foram prisões e uma cena completamente insana no meio de um canavial, ou seja, o filme até tentou ter estilos, mas tirando o grande impacto da festa inicial e dos artistas fazendo um estilo de dança representativa da época da ditadura, o resultado visual soou forçado demais para o que o longa desejava passar, ou seja, a equipe de arte quase nem foi usada. A fotografia ao menos não ficou somente na densidade de tons escuros, trabalhando um ar mais nostálgico com pitadas romantizadas, que ao menos não fez com que o sono batesse, mas sem uma dinâmica realmente de impacto para o filme, esse teor acabou ficando apenas jogado na trama.
Enfim, diria que a ideia original era boa, mas que não souberam trabalhar ela para que o filme fluísse realmente, e sendo assim, não tenho como recomendar ele de forma alguma senão para alguém que queira ver para trabalhar a ideia e criar algo em cima melhorando muito, pois de resto a chance de ter apenas reclamações é bem alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas logo mais começa o Festival Varilux a partir da próxima quinta, além de já estar sabendo de muitas estreias alternativas na cidade, então preparem-se para muitas postagens por aqui, deixo aqui meus abraços e até logo mais.
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