O cinema de gênero é algo que tem crescido em passos curtos no Brasil, mas quando conseguem entregar algo com um primor técnico tanto de história quanto de computação gráfica para impressionar e agradar, temos de recomendar com toda certeza, pois são tão raros os longas de terror com essência bem feitos no mundo, quanto mais algo feito no país então. Digo isso sem nenhum temor, pois confesso que o trailer de "As Boas Maneiras" já havia me intrigado, e como o último filme que vi da diretora foi um dos filmes mais ruins que já vi em minha vida, fui conferir esse com dois pés atrás, mas me surpreendeu tanto o que vi aqui que felizmente posso me redimir e dizer que agora seu nome figurará entre os meus longas nacionais preferidos, pois a trama conseguiu ser bela, conseguiu me emocionar em diversos momentos e ainda cativar com tudo o que é mostrado na telona, trabalhando uma história envolvente, aonde cada elemento é bem tratado, a ideia de horror é mantida com força mesmo com um lado doce e carismático por dentro, transformando a trama em algo bonito de ver, que mesmo um pouco alongado (talvez como uma série seria mais perfeito ainda!) resulta em algo muito, mas muito bom mesmo de conferir para todos que gostem do estilo.
A sinopse nos conta que a enfermeira Clara vive na periferia de São Paulo e é contratada para ser a babá do filho que Ana espera. O que era pra ser um simples emprego transforma-se numa experiência inesperada quando numa noite de lua cheia, a vida das duas mulheres muda para sempre.
Com uma fantasia de terror bem encaixada, envolvendo simbologias, misticismos tradicionais nossos (como por exemplo o lance do sonho com dentes), e brincando num primeiro momento com a relação complicada da gestação e da vida entre empregada/patroa, e num segundo ato o lance mãe e criança, podemos falar que a direção e o roteiro feito por Juliana Rojas e Marco Dutra (que juntos fizeram o péssimo "Trabalhar Cansa", mas que separados tivemos o interessante "Quando Eu Era Vivo"), foi algo tão bem preparado, estudado e desenvolvido que passa perto do brilhantismo de grandes obras internacionais, aonde o mérito não é de uma produção monstruosa, nem de um orçamento gigantesco, muito menos das boas atuações, mas sim é notável a mão de cada um deles no processo, que combinado com tudo ao redor acabou dando muito certo e funcionando para não apenas causar, como é o caso de muitas produções do terror, que buscam assustar ou causar choque ou até mesmo impressionar com algo, mas sim aqui é visto algo envolvente que acaba sendo entregue com minúcias expressivas e se desenrola da melhor maneira possível, fugindo até mesmo de eixos que poderiam se tornar bem novelescos e acabar com tudo. Ou seja, um filme de ótima história e de condução primorosa pela direção, e que já fez diversos prêmios fora, e agora seguindo o eixo comercial do Brasil vale a torcida para ser bem visto, pois merece os louros pelo trabalho feito.
Sobre as atuações, se tem uma atriz bem eclética de personagens, essa é Marjorie Estiano, que aqui vivendo sua Ana na primeira metade do longa consegue entregar bons olhares, situar bem a situação, dar uma dinâmica interessante e ter história para passar para ser usada no segundo ato, e só não digo que foi mais perfeita por talvez faltar um pouco mais de expressividade na sua história anterior, que foi muito bem contada através de desenhos, mas se a equipe quiser fazer algo mais completo, criaria ela também com atores, e aí sim seria uma série incrível em 4 capítulos. A angolana, mas já quase brasileira com a quantidade de filmes que já tem feito por aqui, Isabél Zuaa foi certamente a escolha precisa para o papel de Clara, pois conseguiu transmitir ótimas sensações expressivas no primeiro ato, trabalhou olhares de medo, colocou sentimentos nas suas interpretações, e no segundo ato então foi mais do que perfeita como alguém buscando controlar todos os passos do garoto para que o pior não acontecesse, demonstrou segurança para as cenas fortes e ainda criou um teor forte e polêmico para que muitos discutam futuramente no longa, afinal a trama dá para brincar com uma certa ambiguidade seu estilo, e com isso a atriz deu um show. O jovem Miguel Lobo foi muito singelo com seu Joel, trabalhando de uma maneira coerente e bem expressiva, sendo doce nas situações e nas entonações de seu personagem, e principalmente sofrendo muito para com a maquiagem, pois o jovem necessitou bastante, e deu um show, ainda pode melhorar no conceito dos olhares e trejeitos, mas ainda é muito novo, então foi correto no que fez ao menos. Dentre os demais, a maioria aparece mais como figuração, tendo alguns com um pouco mais de fala, mas nada que impressione realmente, tendo um leve destaque para Dona Amélia interpretada por Cida Moreira, mais ao final na cena musical do longa, pois nas demais soou um pouco artificial.
No conceito cênico, a equipe de arte soube trabalhar muito bem com os elementos cênicos, montando um apartamento cheio de detalhes místicos, deu o tom para entendermos um pouco mais as cenas seguintes do bar numa locação mais simples, mas bem feita, no segundo ato tanto a casa com um quartinho bem interessante para o que vai rolar, mas ainda colocando bons elementos para a doçura infantil, e mesmo na escola e no shopping que foram cenas mais espaçadas, souberam colocar tudo em sintonia para que os acontecimentos fossem marcantes. Além dessa parte da arte, a equipe foi bem coesa na parte de maquiagem e figurinos para que o longa não soasse falso, e ainda claro, funcionasse dentro do conceito de terror, de tal maneira que o longa fica nessa brincadeira de doce e de sinistro, num âmbito bem colocado e que funciona bastante. Na parte da computação gráfica para fazer as transformações, e até mesmo o personagem que é muito utilizado e aparece bastante em movimento, não posso dizer que foi algo perfeito, pois ainda poderiam melhorar, mas digo que sem dúvida alguma foi algo que passou bem perto e consegue agradar dentro da proposta, não soando falso em demasia e também não soando bobo, o que seria ainda pior, e com isso o resultado funciona. A fotografia claro brincou muito com tons escuros, teve elementos com poucas luzes, cenas com ambientações de sombras para dar o clima que o longa pedia, e até algo mais diferenciado em algumas cenas mais alegres, de tal forma que funcionou sem erros.
Enfim, é um filme de muitíssima qualidade que merece ser visto em todas as cidades que passar, e claro na TV quando sair para outras mídias, pois infelizmente ainda o cinema de gênero não tem tantas portas abertas no cinema, e aqui em Ribeirão Preto por exemplo só irá ficar uma semana em cartaz, o que é uma pena, mas recomendo muito ele. Talvez a única cena que tenha me irritado um pouco seja a final com alguns figurantes correndo com luzinhas de LED nas mãos, pois ficou um pouco bobo demais, mas tirando esse detalhe, é algo incrível que me surpreendeu e que certamente usarei de exemplo para comparação com outros longas quando lançados. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas hoje ainda irei conferir outros filmes, então abraços e até logo mais.
5 comentários:
Olá sou Willian. Coelho tira um dúvida. Porque sempre quando eu vou mudar de página ele fica mostrando os mesmos filmes da pagina 1? Por exemplo, ao conferir todas as suas análises da pagina 1 ai decido ir para a pagina 2 e quando ela abre ela mostra praticamente os mesmos filmes da página 1. Ou seja, não deveria mostrar os outros filmes?
Olá William... você fala através da pesquisa, ou indo mudar na sequencia? Nunca testei isso não!
Acabei de testar aqui e acho que entendi... a primeira página está para aparecer 15 filmes... depois fica de 5 em 5... vou ver se consigo corrigir isso ou se algum amigo pode me ensinar a mexer melhor no código-fonte, pois ao mudar de 5 em 5 teria de ir para a página 4 que é a seguinte da página principal. Abraços!
Tranquilo rsrsrsrs foi só uma sugestão. É que eu sempre entro aqui para dar uma olhada em suas análises ai no final da pagina temos a opção de clicar na pagina 2 ai sempre quando eu clicava ia para a segunda pagina, mas ao rolar a pagina começa aparecer os mesmos filmes da primeira pagina. Mas de boa foi só uma sugestão para ver se consegue arrumar. E continue com o blog é muito bom. Sou seu "vizinho" de cidade rsrsrs sou de Araraquara e gosto demais de filmes tenho até um projetor que projeto a imagem em casa direto na parede fica um teão como um mini cinema show de bola da umas 130 a 150 polegadas, em casa com resolução em HD para assistir meus filmes que são muitos viu, hahaha aproximadamente mais de 1000 filmes e em crescimento tenho duas HDS externas com vários filmes, sem falar nas mídias físicas abraço boas sessões ai.
Que beleza William... dei uma palestra aí no SESC sobre crítica já tem uns 3 anos... tenho muitos amigos por aí... abraços e obrigado, estou pesquisando como arrumar que é um treco chato isso!!
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