Filmes que trabalham a biografia de artistas costumam ficar bem introspectivos, e com isso a falta de dinâmica acaba prevalecendo, embora sempre soem bem bonitos visualmente, e claro, extremamente bem interpretados. E aqui em "Gauguin - Viagem ao Taiti" tivemos a beleza da pintura do artista quase que repassada para a telona, pois facilmente é notável o cuidado cênico da equipe de arte para que o longa se pareça bem com as telas dele, tanto na época menos áurea, como nos melhores quadros, mas ainda assim como já ouvimos outras vezes, ser pintor/artista é algo que se trabalha muito e ganha-se quase nada, morrendo cedo e sem o reconhecimento devido, enquanto outros com coisas bem ruins acabam se dando melhor na vida, e isso é o que o longa nos passa em toda sua duração. Poderia ter sido bem melhor, mas ainda assim agrada bastante na segunda metade.
O filme nos situa em 1891. O artista Paul Gauguin decide, por conta própria, ir para o exílio no Taiti. Lá, ele espera reencontrar sua pintura livre, selvagem, longe dos códigos morais, políticos e estéticos da Europa civilizada. Mas, no local, acaba se afundando na selva, enfrentando a solidão, pobreza e a doença. E deve se reunir com Tehura, que se tornou sua esposa e o tema de suas maiores pinturas.
A direção é o roteiro de Edouard Deluc foi bem coesa com o que estamos acostumados a ver em longas biográficos, com um ritmo menos acelerado no começo, que chega até cansar, mas que ao final começa a revelar rumos mais bem colocados e com isso passa a agradar. Mas como disse no início, o grande feitio do diretor foi se aliar bem com a equipe de arte e atingir grandes apices na concepção cênica das locações no Taiti, envolvendo muita floresta, muito misticismo e envolvendo bem a época pela qual o pintor passou, com sua mulher indígena em meio a muitos problemas com comida, doença e claro traições envolvendo a diferença de idade, e assim sendo tivemos um longa correto e bem feito ao menos nessa composição.
A atuação de Vincent Cassel sempre é perfeita, pois procura incorporar trejeitos e assimilar qualidades visuais da composição para que seus personagens fluam bem e agradem o público, e aqui com seu Paul Gauguin, não posso dizer que foi exatamente como o artista, pois não conhecia nada dele, mas senti a presença de espírito passada e me fez ao menos acreditar que o protagonista era realmente daquele jeito e viveu realmente tudo aquilo, ou seja, foi perfeito. Tuhei Adams nos entregou uma Tehura bem interessante, com olhares fortes e completamente bem característicos das pinturas do artista, ou seja, acertou em cheio. Os demais soaram mais como bons encaixes, trabalhando a parte da medicina, a parte da traição e também claro a parte mística do longa, cada um entrando respectivamente para simbolizar cada elemento, mas sem ter destaque expressivo ao menos.
No conceito artístico, como já falei e volto a frisar, não podiam deixar de ser perfeitos nas locações, na retratação dos feitios das obras do artista e claro de toda a cenografia do local, com as feiras simples de trocas, as festas malucas de artistas na França e claro o misticismo religioso das ilhas da Polinésia, ou seja, um trabalho minucioso que fizeram para realçar cada momento, e que sem erros conseguiram envolver e transpassar além do que desejavam, da telinha para a telona. A fotografia de florestas é algo que sempre dá um tom bem forte para os longas, e com isso, o resultado do verde com muitas cenas noturnas, aliado de iluminações à vela, que deram um tom meio que alaranjado conseguiram agradar bastante e simbolizar cada momento como algo bonito e relevante.
Enfim, foi um longa bonito de se ver pela simbologia, para conhecer mais da vida do artista, seu momento ali na ilha, e tudo mais, mas que poderia ter sido um pouco mais dinâmico na integra para agradar mais e não ficar tão duro, mas como costumo dizer, esse estilo dramático de biografias francesas costuma seguir essa linha, e já tem um público bem definido, e dessa forma a trama acaba agradando com ressalvas. Bem é isso, fico por aqui agora, mas já vou para o último do dia do Festival, então abraços e até logo mais.
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