Sempre é bacana olharmos com outros olhos longas de terror que não forcem para sustos e crie situações complexas, e o trailer de "Hereditário" já causa um grande estranhamento com o ploc ploc da boca da garotinha (que assim como aconteceu em "Extraordinário" com várias pessoas, e aqui como não conhecia a protagonista, me peguei imaginando se a cara dela era estranha assim mesmo!), com toda a tensão causada pelas diversas cenas, de modo que fui induzido à conferir o longa já com grandes expectativas, afinal a temática de possessão quando bem trabalhada até confere grandes longas, ainda mais se já é preparado para causar temor ao invés de sustos gratuitos. Ou seja, um filme que tinha a possibilidade de ser o "Corra!" desse ano, entregando um terror de propriedade para até brigar por grandes prêmios com longas de outros gêneros, mas aí vamos conferir o filme, e sim, é um bom longa de terror, possui cenas tensas, coisas fortes, uma ideologia intrigante, mas não causa nem 20% do que o trailer causou, sendo apenas um bom filme do gênero que vai fazer com que muitos pensem na ideia e até se intriguem com tudo o que verão, mas longe, bemmmm longe de ser "o" filme de terror do ano, quiçá da década como muitos críticos vem falando pela mídia afora. Vale mais por não forçar sustos e conseguir causar, além de ter uma estética bem interessante, mas valeria mais ter brincado com os bonecos e miniaturas que a protagonista faz, causando algo ainda mais forte do que um fechamento digamos bizarro demais.
A sinopse nos conta que após a morte da reclusa avó, a família Graham começa a desvendar algumas coisas. Mesmo após a partida da matriarca, ela permanece como se fosse uma sombra sobre a família, especialmente sobre a solitária neta adolescente, Charlie, por quem ela sempre manteve uma fascinação não usual. Com um crescente terror tomando conta da casa, a família explora lugares mais escuros para escapar do infeliz destino que herdaram.
Após muitos curtas-metragens, o diretor e roteirista Ari Aster soube criar uma história bem interessante de se analisar e conseguiu criar situações bem fortes e interessantes (para mim a cena pós-festa é de arrepiar, e quase xinguei por não virar logo a câmera para mostrar o que tinha acontecido, embora a cena que mostre é horrenda), mas essa é apenas uma que citei, e o longa possui ao menos umas quatro de impacto, e no restante é criada boas dinâmicas de diálogos e situações para que o público se convença do que aconteceu ou que rumos vai tomar, mas a situação começa a ficar com velocidade e dinâmica passados mais de 60 minutos, ou seja, muitos irão até se cansar até chegar no ápice da trama, mas a partir daí tudo toma forma e é uma situação atrás da outra. Ou seja, sim é um primeiro bom filme, e certamente nos próximos irá corrigir os leves erros que não fizeram sua trama brilhar ainda mais fora do público de críticos artísticos (que estão amando o longa comparando ele à grandes clássicos do gênero), pois para o grande público, e quem realmente gosta de longas de terror/suspense/tensão envolvendo demônios e possessões, o filme realmente começa na última cena, e o miolo foi apenas uma apresentação.
As atuações foram feitas com muita qualidade, a começar claro pela ótima Toni Collette com sua Annie, que inicialmente já vertia ser meio problemática, logo em seguida vemos que ela era problemática, ao contar sua história para Joan temos certeza absoluta de ser maluca, e no fim o surto era certeiro para cenas incrivelmente fortes e muito bem feitas, ou seja, deu um show. A graciosa Milly Shapiro felizmente não tem aquela cara medonha de sua Chalie, e trabalhou tanto com olhares que suas cenas impressionam e marcam, de modo que acabamos assimilando tudo a ela, mesmo quando não está em cena, ou seja, conseguiu ser expressiva e se marcar no papel. Alex Wolff nos entregou um Peter ligeiramente exagerado com suas cenas forçadas sob efeito de ervas, mas que num segundo momento demonstra uma perturbação forte e muito bem entregue, que demonstrou um profissionalismo muito forte e interessante, certamente bem pesquisado, e acabou agradando mais do que errando, embora pudesse ser mais sutil. Gabriel Byrne fez um Steve paz e amor exagerado, que poderia causar um pouco mais, ou ao menos se espantar mais com tudo o que está acontecendo na sua casa (pô, o pau tá comendo entre mãe e filho, vou ali fazer uma salada!), ou seja, claro que o problema dele está na personificação do roteiro e não da atuação, mas poderia ter chamado mais a atenção com certeza. Ann Dowd entregou para suas cenas como Joan, momentos mais explicativos do que expressivos da personagem, sendo praticamente o elo de ligação completa da trama, explicando bonitinho cada momento em suas cenas finais (quase desenhando para quem não estava entendendo nada), e ao menos fez bem seu papel, mas poderia causar mais também.
No conceito cênico o longa se divide bem em seus atos, primeiro com a família devastada em sua casa no meio do nada, o funeral cheio de estranhos, a casa cheia de miniaturas mostrando a vida da protagonista em seus atos estranhos, vemos a escola das crianças e elementos cênicos que já demonstram os problemas dos jovens, aí entramos no segundo ato e já temos os problemas que ocorrem pós-festa, a casa já passa a entrar em modo de penumbra com tudo mais escuro, as miniaturas ficam mais tensas, temos a dinâmica de grupo aonde conhecemos mais problemas da protagonista, temos a casa de Joan com muitos elementos cênicos, e aí entra o terceiro e maluco ato aonde o lance demoníaco e os cultos satânicos entram em cena, com muitos personagens alegóricos, livros, fotos, e claro o ápice final que mesmo sendo um pouco complexo dá pra entender tudo perfeitamente. Ou seja, elementos cênicos, locações, tudo muito bem encaixado para cada momento do filme, além claro da ótima maquiagem e efeitos especiais em cima de todos os personagens, que não posso falar mais senão estrago com spoilers. Embora o filme tenha uma fotografia muito escura em diversos momentos, com tons vermelhos fortes para representar todo o lado demoníaco do longa, o filme não conta com sustos gratuitos, com pegadinhas do nada, e isso é algo muito prudente e que vai agradar bastante, mostrando o primor técnico que desejavam entregar.
Enfim, é um filme muito bom de terror, que segue uma linha diferenciada, mas que claro poderia ser imensamente melhor se seguisse outros rumos. Não gosto muito de continuações em cima desse estilo de terror, mas confesso que o final merecia mais um ato quase que inteiro e não precisariam explicar tanto ali, mas ainda assim, o filme é muito bom, e quem gosta desse estilo sairá deveras satisfeito com tudo o que é mostrado. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
2 comentários:
Desfruto muito deste gênero de filmes, sempre me chamam a atenção pela historia. Tem protagonistas sólidos e um roteiro diferente, se tem uma coisa que eu não gosto nos filmes de terror atuais, são os screamers, e o que eu mais gosto é o terror psicológico, depois de vê-la você ficara com algo de medo. Os filmes de terror são meus preferidos, é o melhor. Meu favorito é It: A Coisa, acho que o novo Pennywise é muito mais escuro e mais assustador, Bill Skarsgård é o indicado para interpretar o palhaço. filme It é realmente uma história muito interessante, uma das melhores de Stephen King, o clube dos perdedores é muito divertido e acho que os atores são muito talentosos. Já quero ver a segunda parte.
Olá Antonia, realmente o melhor ainda sem dúvida alguma é It, mas aqui foram bem coesos realmente... também estou ansioso pelo segundo! Abraços!!
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