Costumamos dizer que os títulos nacionais entregam completamente a história de um filme, mas aqui o título em inglês que revela completamente a essência de "Marvin", um longa bem introspectivo que consegue passar bem a dura história de vida desse garoto pobre que ao cair no teatro e contar sua própria história consegue se reerguer, se reinventar e envolver o público com tudo. Diria que literalmente é um filme de ator, aonde tanto Finnegan Oldfield quanto sua versão criança feita por Jules Poirier deram um show de interpretação de tal forma que o filme se desenvolve e passa numa rapidez que nem sentimos sua dureza, ou seja, ótimo!
A sinopse nos conta que Marvin Bijou está em fuga: Primeiro de seu vilarejo em Vosges, depois da família, da tirania do pai, da renúncia da mãe e por último da intolerância, rejeição, humilhações as quais era exposto por tudo que faziam dele um rapaz ”diferente”. Fora de lá, ele descobre o teatro e aliados que, finalmente, vão permitir que sua história seja contada por ele mesmo.
Novamente a diretora Anne Fontaine, que está quase todos os anos no Varilux conseguiu entregar uma trama tão bem colocada que acabamos nos envolvendo e aos poucos descobrindo cada ato como algo único e perfeito, de modo que nem a grande quantidade de quebras, indo para o começo, meio e fim do longa, com pitadas bem introspectivas que nos fazem ficar com pena do personagem principal e ir entendendo suas atitudes, anseios e tudo mais. Ou seja, a diretora acabou criando um envolvimento tão bem colocado do roteiro que a cada ato vamos entendendo mais e querendo saber mais, como poucas vezes isso costuma acontecer com longas de atores, ou seja, longas aonde a história em si pouco importa, mas sim a forma incrível que os atores conseguem entregar seus atos. O nome em francês do longa também entrega algo da trama, ou seja, a boa educação que o jovem teve na escola, ou seja, voltando como comecei o texto, não é somente os brasileiros que entregam as histórias nos títulos.
Sobre as atuações, tivemos Finnegan Oldfield como um Marvin perfeito e bem colocado, mostrando atitude e bom desenvolvimento de tal maneira que cada ato seu fosse visível nos seus trejeitos, e ainda soube ser forte para que as cenas impressionassem, ou seja, incrível de ver e já sendo o segundo longa que aparece no Festival (está também no "Promessa ao Amanhecer" como um jovem colega do protagonista no exército), certamente devemos ficar de olho para tudo o que acabará fazendo mais para frente. Grégory Gadebois soube fazer de seu Dany um pai duro, mas que serviu de exemplo pelas belas atitudes e defesas do protagonista, sendo coeso quando precisou e claro marcando muito na vida do garoto, e com muita força de espírito o ator acabou chamando muita atenção também nos seus diversos momentos. Catherine Salée fez de sua Odile uma mãe interessante, dura, porém largada demais, apenas servindo de referência para ser usada na peça do protagonista, e a atriz não se esforçou muito para parecer diferente, e sendo assim apenas fez o papel. O jovem Jules Poirier conseguiu ser um Marvin na infância tão incrível e bem colocado, que torcia sempre para ter mais cenas dele pequeno, pois o garoto foi muito bem, sofrendo poucas e boas, mas como um excelente ator mostrou atitude e certamente será uma grande promessa se seguir essa linha. Charles Berling acabou sendo importante para a formação teatral de Marvin com seu Roland, e o ator deu um ar incrível como um desses velhos ricos que acabam apadrinhando jovens gays por aí, ou seja, soube dar um conceito muito forte para o longa com uma boa e expressiva interpretação. A participação de Isabelle Huppert foi pouca, mas bem precisa agradando na concepção final da peça sendo ela mesma, e não precisaria fazer nada de diferente para agradar, pois ela é muito boa.
Com um desenho visual simples, mas cheio de elementos para agradar e chamar atenção, a equipe de arte foi coesa em arrumar muitos objetos cênicos para representar a casa pobre do garoto, o apartamento dos amigos de início da faculdade, a própria escola de teatro bem dentro do conceito da trama, as boates e festas cheias de coisas que ocorrem tradicionalmente nesses ambientes, mas principalmente trabalhando o momento visual da sua ida para o lado de Roland, o colocando em ambientes riquíssimos, cheios de personalidades, carrões, mansões e tudo mais, mas novamente a grande sacada do longa ficou para a peça final, aonde o jovem foi colocando tudo o que viveu em um pequeno e bonito caderninho, e com uma cenografia lindíssima bem simples, foi de uma habilidade que a equipe pensou e fez o melhor do longa. A fotografia brincou bastante com as cores, deixando um ar mais puro e infantil para as cenas de Marvin jovem com tons claros, e transformando para tons mais duros e escuros para as cenas de sua juventude, para que ali pudesse pensar em como desenvolver e se reinventar, oscilando bastante para o drama de impacto e a condição de envolvimento, o que foi bem marcado.
Enfim, um filme bem interessante, que mostra algo bem tradicional no cinema francês, o de termos muitos longas de atores e não de diretores, pois aqui antes de termos uma boa história marcada, tivemos dois grandes atores que junto de outros bem conectados conseguiram criar uma história envolvente e interessante, ou seja, um trabalho completo. Ainda assim acredito que o filme de uma forma mais linear chamaria mais a atenção do que tantas idas e vindas, pois o filme em diversos momentos chega a desconectar completamente, mas ainda assim recomendo muito ele. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas vou para o último longa desse dia, então abraços e até logo mais.
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