sábado, 2 de junho de 2018

Não Se Aceitam Devoluções

Não sou daquelas pessoas que reclamam de uma refilmagem, mas só digo que se vai copiar algo (ou refazer trabalhando na sua cultura), ao menos faça algo com uma qualidade e adapte para que não fique uma cópia escarrada do original, de tal maneira que estrague o que foi bom lá trás. E olha que o lá trás nem faz tanto tempo assim, pois em 2014 vi o longa mexicano "Não Aceitamos Devoluções", que foi estranho no começo, mas finalizou de forma incrível de tal maneira que acabei me apaixonando por ele, daí no ano passado me apareceu o francês "Uma Família de Dois", que contava exatamente a mesma história mudando algo, e que ficou interessante de ver, aí esse ano o que acontece: eis que aparece uma versão nacional da mesma história, porém "Não Se Aceitam Devoluções" não se esforçou nem um pouco em mudar praticamente nada, bem como teve tantas falhas técnicas para quem conhece algumas locações, e situações que chega a beirar o desespero de torcer para acontecer o final logo para saber se ao menos ali iriam melhorar em algo, mas não, até a cena final é feita quase da mesma maneira, ou seja, um desperdício completo de talentos, de orçamento e de tudo mais, pois ultimamente só vinha elogiando a alta qualidade dos roteiros nacionais, e aqui não tiveram originalidade em absolutamente nada, fazendo um filme mediano de situações, e que pecou demais em praticamente tudo.

A sinopse nos conta que Juca Valente é dono de um quiosque no litoral de São Paulo e só quer saber de diversão. Eterno namorador, ele detesta grandes responsabilidades e não pensa em ter nada sério com ninguém. Mas sua vida toma um rumo totalmente diferente quando uma ex-namorada americana larga um bebê com ele e desaparece. Juca então parte para os Estados Unidos na intenção de devolver a criança, sem imaginar que começaria a gostar da ideia de ser pai.

O trabalho do diretor André Moraes pode ser visto como uma obra digamos feita na medida para tentar agradar o público que não viu nenhuma das outras duas vertentes (mexicana e/ou francesa), pois se abdicarmos completamente o conhecimento das outras obras, a trama em si funciona dentro da proposta de conhecimento pai/filha, a tentativa de mimar/fazer valer os minutos juntos e tudo mais, porém mesmo com esse detalhe bem moldado do roteiro, a trama sofre de defeitos técnicos de exageros de inteligência, pois temos alguns personagens tentando se passar por pessoas conhecidas (como o sósia de Ozzy muito mal-feito), temos a tentativa de mostrar a diversão em um parque americano (mas apenas usaram um borrão para tampar as placas, mas quem já andou na Montezum do Hopi Hari conhece de cor e salteado a pista e as paisagens ao redor dali), ou seja, com um orçamento bem limitado (ou não, pois temos Globo e Fox por trás do longa), trabalharam a condição de uma forma coerente e até bem usada, mas falharam em tentar enganar o público no conceito técnico.

Sobre as interpretações, posso até queimar minha língua mais para frente, mas embora tenha reclamado muito de trejeitos de Leandro Hassum, ele vem numa melhora considerável nesse longa de forma a poder acreditar que ainda vai conseguir ter um grande acerto na carreira sem precisar forçar caretas e miquices, pois aqui ele com seu Juca quando não estava cheio de firulas trabalhou bem os diálogos e ousou até entregar algumas emoções, ou seja, melhorou muito e vai ainda quem sabe cair numa grande produção que nos divirta e/ou emocione sem precisar apelar para nada. Manuela Kfouri foi bem como a pequena Emma, tendo uma desenvoltura graciosa, mas que precisaria ser um pouco mais trabalhada, ao menos mostrou um inglês interessante e conseguiu trabalhar bem os olhares, mas ainda precisa treinar um pouco mais a oscilação entre expressão dramática e tentativa frustrada de desânimo. Jarbas Homem de Mello fez um Bob digamos exagerado (tudo bem que produtores de elenco são pessoas exageradas), mas faltou para ele um pouco mais de química ou de patrão do personagem de Hassum, ou de amigo, ficando no meio do caminho e soando estranho. Laura Ramos até tentou se passar por gringa e por diversas vezes até imaginei sendo Gisele Itié a atriz que estava fazendo o papel de Brenda, mas soou artificial demais nos diversos momentos-chave seu, e isso fez com que não chamasse atenção. Quanto os demais, são figurantes com falas e só.

No conceito visual, a trama optou por algumas locações nos EUA, mas a maior parte foi rodada no Brasil, e com isso, muito se usou de efeitos especiais estranhos, e muitos borrões nas bordas e nos fundos para não deixar aparecer coisas conhecidas do público, ou seja, a tradicional economia de orçamento, mas esteticamente a trama funciona dentro do contexto colocado, e o filme não desaponta por conseguir passar sua mensagem, usando também do artifício de desenhos a mão que chamam bastante atenção nas leituras das cartas, e colocando ares harmoniosos em diversos momentos, que até poderiam ter sido melhorados se tudo fosse feito realmente lá fora, ou se ao menos criassem a história completa se passando por aqui ou em algum país alternativo sabe-se lá, que aí sim seria uma versão.

Enfim, infelizmente não tenho como recomendar o longa, preferindo deixar a sugestão para o francês "Uma Família de Dois", ou até mesmo para o original mexicano "Não Aceitamos Devoluções", que aí sim foi trabalhado todo o conceito e contou com tudo bem trabalhado, mas a tentativa foi válida ao menos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na segunda com mais um último texto antes da super maratona do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.

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