Quando você passa o longa inteiro tentando decifrar a loucura que está vendo, e ao final a situação fica ainda pior, o que você faz? Essa certamente será a pergunta que muitos sairão discutindo após ver "O Amante Duplo", pois o filme todo nos convence da loucura da protagonista, ou seria realidade que possuem dois terapeutas? Pois bem a brincadeira da duplicidade aqui nos levou a rumos tão incríveis, com explicações de gêmeos tão criativas que na maior parte do tempo ficamos em dúvida de tudo o que estamos vendo, o que seria verdade no texto maluco colocado, quantos espelhos vemos espalhados por diversos ambientes, quadros duplicados, pessoas duplicadas, uma loucura total, ou seja, um filme de Ozon, unindo as divagações do duplo, inserindo isso em um filme forte e cheio de simbolismos, que vai assim como a trama já diz uma dupla opinião da maioria dos espectadores, que sairão da sessão se perguntando: gostei ou não, o que vi foi bom ou apenas achei interessante. E cá está esse Coelho na mesma divagação, mas acredito que ao menos tivemos um longa bem convincente do que desejava passar, essa grande sensação de estranheza, e com isso em mente, a trama fica mais agradável de analisar, e recomendar (ao menos para quem gosta desse estilo de jogo duplo)!
A trama nos mostra que Chloé é uma mulher reprimida sexualmente que, constantemente, sente dores na altura do estômago. Acreditando que seu problema seja psicológico, ela busca a ajuda de Paul, um psicólogo. Só que, com o andar as sessões de terapia, eles acabam se apaixonando. Diante da situação, Paul encerra a terapia e indica uma colega para tratar a esposa. Entretanto, ela resolve se consultar com outro psicólogo, o irmão gêmeo de Paul, que ela nunca tinha ouvido falar até então.
François Ozon é um diretor que sempre está presente no Festival Varilux, e sua nova obra de suspense/drama não poderia ficar fora esse ano, pois ele possui um estilo único dentre os diretores franceses, que ao trabalhar a sexualidade sempre consegue criar conflitos fortes e bem trabalhados, e aqui ao usar isso junto do conceito loucura com duplicidade/gêmeos fez com que seu estilo ficasse ainda mais impactante, criando vértices para o público viajar nos conceitos que apresenta, também ousa divagar com a síndrome das terapias, e ainda floreia sua trama com diversos estilos de clichês tradicionais de espelho/duplicidade, que em alguns momentos até revela sua real intenção, mas na maior parte do tempo mais confunde o espectador do que deixa ele ciente do que está vendo. Ou seja, uma obra única, que certamente já vimos outros bons exemplares do estilo, mas que com a mão firme e forte do diretor a carga dramática ficou maior do que a de suspense, e com isso os atores se puseram a trabalhar como um todo, e agradaram bastante no que fizeram.
Já podemos dizer que Marina Vacht virou inspiração para o diretor, pois depois de trabalhar nua com ele em "Jovem e Bela", volta aqui como Chloé e conseguiu além de tirar a roupa novamente entregar personalidade e muita expressão para com sua personagem, de modo que não apenas a trama do diretor consegue nos enganar, bem como a atriz trabalha a todo momento para auxiliar nesse contexto, e com isso acaba se saindo bem demais. Ao Jérémie Renier aparecer como Paul Meyer levei um grande susto pensando "nossa como ele envelheceu", mas ao aparecer como Louis Delord, voltou a se parecer com a forma que conhecíamos, e tirando esse detalhe visual, ele novamente deu um show de interpretação, fazendo dois personagens completamente opostos que se completam para a personalidade ideal, criando vértices bem eloquentes em cada ato seu, e trabalhando olhares na medida para cada momento. Os demais personagens aparecem bem pouco, mas em momentos bem marcados e com isso conseguem até ter pontas de destaque dentro do contexto do filme, como Jacqueline Bisset com sua Sra. Schenker interessante num primeiro ato, mas completamente maluca em sua finalização, e Myriam Boyer como a doce e estranha vizinha Rose que não assusta por suas atitudes, mas sim pelos gatos empalhados estranhos que possui.
E já que comecei a falar de objetos estranhos, a equipe de arte foi mais que ousada, trabalhando elementos onde quer que olhássemos, para irmos tirando conclusões e também se confundindo cada vez mais com o que era mostrado, e com isso, a cenografia estava repleta de detalhes, de espelhos, de obras duplicadas, de figurinos (e sem figurinos) remetendo à situações e tudo mais, num riquíssimo mar de conflitos para que o público pescasse as ideias do diretor. Como todo bom suspense, a fotografia trabalhou com muitas cenas escuras, brincou com sombras, e principalmente deu um ar pesado com luzes opostas, ou seja, criou um filme tenso, mas ainda poderia ter ido até mais longe caso quisesse não apenas confundir o público, mas também causar o horror.
Enfim, é um filme complicado sim, que deve ser visto mais que uma vez para tirar conclusões maiores, mas que ao funcionar como um bom suspense, acaba prendendo bem o espectador, e com isso quem gostar desse gênero certamente sairá apaixonado da sala. Volto a frisar que não é um longa que todos irão gostar, pois não entrega nada de mão beijada, mas no geral acaba sendo bem interessante dentro do que se propõe e se analisar bem a fundo é capaz de tirar grandes conclusões de cada ato. Bem é isso pessoal, encerro mais um dia do Festival Varilux, mas amanhã estou de volta com muitos outros textos, afinal ainda temos muitos filmes para conferir, então abraços e até breve.
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