Venho falando isso já faz algum tempo e vou manter minha opinião, o cinema brasileiro está dando largos passos ao sair da zona de conforto e não ficar somente com dramas e comédias, ousando em romances, ficções, terrores e por aí vai, mas se tem algo que ainda precisa ser removido da mente dos roteiristas é fazer um longa bem longo com formato de série para ser exibido talvez não na sua totalidade, pois isso é algo que realmente cansa bastante o público, e por vezes até atrapalha a sinergia da trama. Diria que o maior problema de "O Nó Do Diabo" é ter esse formato de forma invertida, entregando um problema atual de preconceito e usando da mesma fazenda e dos diversos ancestrais dos donos e dos moradores negros dali vamos voltando em diversas épocas até chegar em 1818 com 5 curtas quebrados, dirigidos inclusive por pessoas diferentes, mas bem moldados para parecer um filme só capitular, ou seja, talvez se tivessem trabalhado melhor a ideia, lapidado as diversas pontas que só serviram para enrolação (o quarto capítulo repete as mesmas cenas pelo menos 4 vezes!) e feito um único filme com transições temporais, teríamos algo incrível, e que passaria a mesma mensagem, mas aí não funcionaria como provavelmente veremos daqui uns dias, passando em lugares cada dia com um curta. Não diria que foi um filme no geral péssimo, mas a forma dele, e a não entrega tão forte do que poderia ser passado pela mensagem, o fizeram ser mediano, pois cansa demais na maior parte, e só os pontos de encaixe que são bem interessantes para envolver.
A sinopse do longa nos mostra que há dois séculos, no período da escravidão, uma fazenda canavieira era palco de horrores. Anos depois, o passado cruel permanece marcado nas paredes do local, mesmo que ninguém perceba. Eventos estranhos começam a se desenvolver e a morte torna-se evidente. Cinco contos de horror ilustram a narrativa.
O primeiro conto situado em 2018, dirigido por Ramon Porto Mota, o que mais vale a atenção é em cima do caos que vivemos hoje de intolerância, preconceitos e tudo mais em cima de que vale pensarmos como anda tudo em cima da loucura doentia que fica em cima do capataz da fazenda, ou seja, ele nem trabalha tanto interpretações, mas vale bem ouvir tudo o que é falado no rádio e visto as atitudes do rapaz.
O segundo conto nos coloca em 1987, aonde um casal vai pedir emprego em uma fazenda, e a direção de Gabriel Martins vem bem colocada, e causa muita tensão tanto na história quanto nas expressões de todos os protagonistas, desde os donos da fazenda, quanto do casal e dos "monstros" que circulam o pensamento e o misticismo por trás da fazenda, de modo que causa demais, entrega muita possibilidade e incrivelmente se o filme ficasse só em cima desse curta seria ótimo, pois é muito tenso e muito interessante ao mesmo tempo.
O terceiro recai sobre 1921, e o diretor Ian Abé nos coloca mais em um ambiente de escravidão, aonde as protagonistas femininas são abusadas, torturadas e claro também se revoltam, mas aí entrou alguns trejeitos sobrenaturais que forçaram um pouco a amizade, mas a ideia de tensão é forte e bem usada, que consegue mostrar estilo na proposta, talvez um pouco menos de coisas fora do padrão agradaria mais, mas conseguiu entregar um filme condizente ao menos.
O quarto curta entra em 1871, e o diretor Jhesus Tribuzi com certeza tem a história mais curta e simples, que mostra um filho de escravo alforriado fugindo da fazenda, e só, ficando numa viagem espiritual, passando por maus bocados no meio do caminho, mas fica quase num looping repetitivo e cansativo que não sai do lugar e até dá sono pela execução, ficando o pior de todos.
O quinto conto sem dúvida alguma tinha tudo para ser representativo em 1818, mostrando a fuga dos quilombolas para um estilo de refúgio "blindado" dos fazendeiros, e foi dirigido pelo diretor do primeiro curta Ramon Porto Mota, que até aparentava estar indo bem na condução com personagens coesos falando de ervas medicinais, uma boa luta de armas contra sem armas, mas aí entrou algo ficcional tão absurdo que minha reação no cinema foi de muita risada, e depois de quase dormir com o quarto curta, ri um monte com a aparição dos personagens estranhos "cultivados", e pronto finaliza o longa, ou seja, jogou tudo pelos ares.
Bem, dessa vez falei um pouco de cada um, mas não foquei em nenhum personagem, nem nas atuações, pois todos foram honestos, mas nada que surpreendesse, e sendo assim, vou deixar apenas como coloquei falando um pouco de cada um dos curtas, afinal de conhecidos realmente só Zezé Motta no último curta e Isabél Zuaa que vimos bem no filme "As Boas Maneiras", mas nenhuma delas surpreendeu em nada, então melhor deixar quieto nesse quesito.
No conceito cênico, basicamente temos a fazendo como centro de tudo, e algumas outras locações ao redor, como a favela no primeiro curta que usou mais as pichações como elementos cênicos, a casa de empregados no segundo com muitos elementos cênicos fortes de tortura, o terceiro usou mais do figurino e claro do canavial, no quarto tivemos as locações de pedras como esconderijos, e no quinto tivemos o forte de escravos bem cheio de simbologia, ou seja, tivemos uma técnica interessante ao menos no conceito artístico. A fotografia focou praticamente toda no escuro, usando elementos de sombras com iluminações paralelas como lanternas, velas, fogo e tudo mais que deu um charme. O figurino também foi bem elaborado junto com muito sangue para a maquiagem, ou seja, um trabalho forte da equipe técnica.
Enfim, volto no começo do meu texto dizendo que preferiria muito mais um filme só do que uma série de TV no cinema, e infelizmente temos uma série alongada demais que como filme não funciona, e sendo assim, só recomendo ele como material de pesquisa e exemplificação de diferentes épocas escravagistas, pois dá para trabalhar toda uma discussão em cima, mas nada que você saia impressionado da sessão. Bem fico por aqui encerrando então essa semana cinematográfica que foi bem grandiosa, mas volto já na próxima quinta com algumas estreias, então abraços e até breve.
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