A área jurídica é daquelas que ou você gosta ou odeia, pois geralmente usam termos difíceis de um leigo da área entender e soam rudes na maioria das vezes, mas quando entregam isso em um bom longa dramático envolvendo todo o conceito da área, e brincando com julgamentos, o resultado geralmente costuma ser incrível, porém sei que devem haver outros, mas não lembro de nenhum no momento que trabalhasse algum tipo de concurso de retórica e eloquência, e aqui em "O Orgulho" esse tema foi inserido para trabalhar algo que muitos costumam dizer de os franceses serem em demasia racistas, e o que dizer então de uma jovem de origem árabe que entra numa das faculdades mais nobres de Direito da França. Com essa base já dá para imaginar um longa pesado, cheio de argumentações, daqueles de sairmos da sessão com dores nas costas de tanta informação, não é mesmo? Pois bem, mude completamente sua opinião e vá conferir um longa bem leve ao menos na condução, afinal o tema é forte, que trabalha não só bem o lance de como se retratar, mas que mostra postura, forma de falar, e claro também grandiosas técnicas, mas que a principal levada vai ser, que nem sempre o que dizemos da boca para fora é o que queremos falar na verdade, e com isso o final da trama fica mais condizente, pois até podemos achar estranho as atitudes de fechamento, mas se pensarmos em cima dessa frase, tudo faz sentido para os dois lados, e a trama ainda soa maravilhosa.
A sinopse nos conta que Neïla Salah cresceu na periferia e sonha em se tornar advogada. Inscrita na grande universidade parisiense de Assas, ela confronta, desde o primeiro dia, Pierre Mazard, professor conhecido por suas provocações e deslizes. Para se desculpar por sua conduta desrespeitosa, Pierre aceita preparar Neïla para o prestigioso concurso de eloquência. Cínico e exigente, Pierre pode se tornar o mentor que Neïla precisa… Mas é necessário que ambos superem seus preconceitos.
Conhecemos mais Yvan Attal como ator, com suas boas facetas expressivas em diversos longas, mas aqui como diretor trabalhou de uma maneira mais subjetiva e agradou por não forçar tanto a barra, de modo que começou o longa com depoimentos de grandes nomes da França sobre o que é ou de que tem orgulho para eles, e ao chegar para o filme realmente ele já nos coloca em um grandioso problema de racismo tão impactante numa aula (me perdi com quantos alunos tinha naquela sala - existem aulas com tantos alunos assim?), num grandioso debate entre professor e aluna (ou melhor, uma digladiação, já que a pobre não retrucou como poderia naquele momento), que acredito que no lugar da jovem no primeiro dia de aula já desistiria daquele curso, mas aí acabaria o filme e tudo certo... ou seja, já dei um spoiler que isso não ocorre! Mas a grande sacada do diretor e dos diversos roteiristas da trama, foi não deixar que o longa ficasse pesado pelo conteúdo, e florescesse bem como uma postura e um jeito de falar pode mudar qualquer pessoa, e com boas cenas envolvendo até lições de moral, a trama vai fluindo bem e acaba agradando pela essência completa e pela desenvoltura de empolgação, que costumamos ver em longas competitivos, ou seja, de algo jurídico forte a trama quase virou algo esportivo, e assim o resultado acaba sendo muito satisfatório de conferir.
Dentre as atuações é fácil descobrir o motivo de Camélia Jordana ter levado o César de atriz revelação com sua Neïla Salah, pois a jovem trabalhou com tanta determinação e vontade para com a personagem, que acabamos nos afeiçoando à praticamente todas as suas cenas, torcendo para conseguir ganhar a competição e também dar boas lições no seu mestre, e ela vai inserindo olhares, trabalhando maquiagem e figurino, colocando pausas dramáticas nas suas falas, e com isso o resultado beira a perfeição, e não diria que temos de vê-la como revelação, mas sim ficarmos de olho, para projetos futuros dela, pois tem chances grandes de surpreender se seguir essa linha. Daniel Auteuil nos entregou um Pierre Mazard daqueles que dá ao mesmo tempo raiva pela imposição, mas que conseguimos entender seu estilo de forçar o aluno a buscar o que quer, nem que com isso tenha de torturar a níveis monstruosos (de tal maneira que lembro de alguns professores da época que fiz Matemática, que pareciam entrar em orgasmo quando viam algum aluno se dar mal nas provas), ou seja, o ator foi muito bem no que fez, embora o personagem seja muito ruim. Dentre os demais, todos funcionaram mais como conectores para os protagonistas, e só vale destacar algumas boas cenas românticas com bons trejeitos de Yasin Houicha com seu Mounir, mas que poderiam passar em branco caso não quisessem inserir isso no longa, embora o jovem tenha mandado bem principalmente na cena final.
No conceito visual, arrumaram locações incríveis para se filmar, e desde a faculdade até os diversos ambientes do concurso, passando pelos exercícios no metrô, e até mesmo o conjunto habitacional na periferia muito bem condizente, conseguiram mostrar um bom sentido para o longa, funcionando mais como localizador do que como influenciador para o tema que o longa desenvolve (pois facilmente poderiam ter usado qualquer outra faculdade, qualquer outro lugar mais simples e por aí vai, afinal o tema é universal), e assim sendo o resultado é de impressão, e agrada bastante por ser bem feito e soar bonito. A fotografia não teve muita ousadia, sendo direta em diversos pontos e não criando tensões de clima, mas também sem erros para destoar a temática da trama.
Enfim, é um longa que agrada e passa boas mensagens, funcionando tanto para apenas uma boa sessão, como para debates em cursos de direito, ou até âmbitos motivacionais, afinal a essência da trama é muito boa, e por ser um filme leve, todos conseguem assistir tranquilamente e gostar muito do que verá na telona, portanto fica aqui minha recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com muitos outros textos do Festival Varilux e também de outras estreias, então abraços e até logo mais.
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