Eis que finalmente chegou no Festival o que a França tem de melhor no cinema: comédias feitas na medida certa para fazer rir do começo ao fim, e com "O Retorno do Herói", tivemos um exemplar daqueles que uma mentira só vai aumentando até que alguém precise ceder, ou aumentá-la ainda mais, de tal maneira que o longa usa artifícios atuais de pilantragem, inserindo nos anos 1800 e o melhor é que funciona bem, divertindo sem parar o público, e fazendo isso sem necessitar apelar, apenas trabalhando bem a história, incorporando a isso bons cenários e atuações impecáveis. Ou seja, algo que vale muito para se divertir do começo ao fim.
A sinopse nos situa em 1809, na França, aonde o capitão Neuville é chamado para a batalha, deixando a futura noiva com o coração partido. Vendo a tristeza da moça, sua irmã decide escrever cartas em seu nome para animá-la. Porém, tudo vai por água abaixo quando Neuville reaparece.
O diretor e roteirista Laurent Tirard foi completamente sagaz em sua ideia original, criando o tradicional elo do desaparecido reaparecer e atrapalhar tudo o que haviam contado dele, de tal maneira que as cartas inventadas que o glorificava ficassem mais confusas ainda com suas histórias sem saber o que haviam dito, ou seja, a famosa brincadeira do telefone sem fio, e junto disso inserir muita picaretagem para que o filme fluísse sem limites, com uma direção precisa, aonde souberam dosar cada ato com exatidão para que tudo não ficasse forçado também, e com isso o longa acabou ficando uma delícia de conferir.
Sobre as atuações, vemos felizmente Jean Dujardin voltar aos bons tempos com seu Neuville, sendo divertido com bons trejeitos, trabalhando de forma empolgante e ainda por cima sendo galanteador, de tal maneira que até dava para prever suas cenas finais, mas ele conseguiu ainda agradar mais ainda finalizando perfeitamente da mesma forma que começou. Outra grandiosa surpresa foi Mélanie Laurent com sua Elisabeth, atacando com uma precisão cirúrgica nas falas diretas, criando algo quase como um debate de stand up comedy da melhor qualidade, e o melhor, sem precisar apelar como comediante, apenas usando de boa técnica e inserindo persuasão nas suas falas, e ainda por cima sendo uma donzela bem primorosa, ou seja, um charme completo. Dentre os demais a maioria deu ótimos encaixes para a trama, mas nada que fosse de grande destaque, apenas leves e boas conexões para que o longa fluísse e divertidas ainda mais, de tal forma que Noémie Merlant como Pauline entregasse a tradicional dama pura que de pura não tem nada, e isso só servisse para desencadear grandes confusões, afinal a atriz teve todos os grandes trejeitos para brincar em cena.
Com uma cenografia incrível de uma vila tradicional, mas que se passa praticamente todo na casa da família e arredores, a equipe cênica só necessitou orquestrar bons figurinos de época, e claro um casarão magistral, aonde tudo acaba fluindo perfeitamente. Claro que por estarmos falando de uma comédia, a fotografia foi toda embasada em cores bem vivas e mesmo nas cenas mais escuras procuraram colocar a dinâmica para jogo, e funcionou muito bem, afinal é risada em cima de risada.
Enfim, recomendo muito o longa, pois com muita sutileza e diversão na medida certa a trama consegue desenvolver sem apelar e ainda trazer a tonalidade de época, que raramente é usada em comédias. Fico por aqui por enquanto, mas vamos lá para a próxima sessão do Festival Varilux, então abraços e até breve.
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