Sempre falo que é bem mais interessante vermos uma biografia de alguém que não conhecemos, do que algo que já vamos esperando cada acontecimento, e quando ainda é uma história de vida bem feita, aonde entramos na ideia de cada ponto passado pelo protagonista, não tem nada melhor. Digo isso com grande felicidade que "Promessa ao Amanhecer" me trouxe, mesmo sendo bem longo, mas como entrega a vida praticamente completa de Romain, suas conversas e cartas com sua mãe, seus objetivos e tudo mais que a mãe tanto almejava para ele, acaba que o longa passa bem tranquilo, sem cansar em demasia, e para quem já leu o livro certamente irá ver cada página virada na telona, pois é fácil notar os detalhes que a equipe procurou passar, e com isso alongar a trama. Diria apenas que isso é muito bom para quem deseja uma adaptação literária bem montada, mas para cinema realmente poderiam ter eliminado uns 2 ou 3 momentos, e reduzir a narração que o longa caberia em uns 20 minutos a menos, e ficaria bem mais leve e interessante, porém longe de estar reclamando, o filme soou perfeito e agradou a todos na sessão, com algo tocante na relação mãe-filho, mas ainda poderia ter ido mais fundo ainda para emocionar ainda mais (pelo menos na cena da volta da guerra!).
A sinopse nos conta que desde sua infância difícil na Polônia, passando por sua adolescência sob o sol de Nice, até suas proezas como aviador durante a Segunda Guerra Mundial, Romain Kacew viveu uma vida extraordinária. Mas essa ânsia por viver mil vidas e se tornar um grande homem, ele deve a Nina, sua mãe. É o amor louco dessa mãe cativante e excêntrica que fará dele um dos maiores romancistas do século XX. Mas esse amor materno, sem limites, também será seu fardo por toda vida.
É bem interessante o trabalho de adaptação que o diretor Eric Barbier conseguiu fazer da obra de Romain Gary (ou Kacew como era seu sobrenome até o fim da guerra), de tal maneira que quando vemos na telona uma biografia feita pelo próprio autor, sem precisar se auto-promover, e ainda dar um charme é raro de acontecer, e como o livro homônimo de Gary foi considerado por ser um dos relatos mais comoventes já escritos sobre o amor materno, a trama conseguiu dar vértices até bem malucos de como era impositiva sua mãe, de forma que o diretor fez tão bem cada ato para que fosse valorizado ambos os atores, que com um peso imenso souberam transformar cada cena marcante sua na principal, e ir cada vez melhorando.
Sobre as atuações, já disse algumas vezes que Pierre Niney é um grande ator, mas também possui algumas falhas de exagero, o que felizmente aqui o ajudou na composição maluca de Romain, e com isso, ele brincou bem na fase adulta do personagem e agradou demais principalmente nas cenas de guerra. Colocaram tanta maquiagem para deixar Charlotte Gainsbourg com um aspecto mais velho e forte como Nina Kacew, que por diversos momentos não me remetia a ela nos últimos filmes que esteve presente, e isso ao mesmo tempo que foi bom para criar uma personalidade completamente diferente, também a deixou exageradamente velha, o que ela não é, mas isso foi um mero detalhe estético, pois suas incorporações malucas, seus diálogos bem pontuados, e cada expressão melhor que a outra, mesmo que tivesse falando algo irreal, valeram cada detalhe, de maneira que a vontade é aplaudir cada ato seu. Além dos dois protagonistas, temos de pontuar claro, o protagonista Romain nas versões criança, com Pawel Puchalski que foi incrível com olhares expressivos bem dinâmicos, aonde deu graciosidade mesmo que falando bem pouco, afinal a narração de Niney apenas lhe induzia, e também temos de colocar Némo Schiffman na adolescência do personagem, aonde sua sexualidade aflorou, e mesmo com poucas cenas, o jovem mostrou boa interação. Dentre os demais, diria que a maioria serviu mais para dar conexão do que sendo atuações importantes, embora com certeza cada detalhe expressivo de cada personagem certamente levará o público que leu o livro a imaginar como era cada um.
No conceito cênico, como o longa passa por diversas épocas, países e situações, certamente o orçamento do longa foi quase que inteiro para representar cada ato, e é tão bem feito, que mesmo nas poucas cenas de guerra, a trama conseguiu ser bem efetiva e agradar demais, ou seja, um deslumbre visual com cenografia bem contextualizada, figurinos impecáveis, detalhes mínimos que como já disse várias vezes, vai fazer com que você veja o livro retratado página a página na telona. A fotografia até ousou pouco em ângulos e sombras, brincando muito com um tom amarelado sem exagerar, apenas para marcar uma certa época, e com isso deixando apenas para as cenas de guerra o impacto mais forte de cores, e claro ali também brincando um pouco com o preto/branco para marcar como algo de fotos de recordação.
Enfim, um belo exemplar para começarmos com o pé direito na abertura do Festival Varilux de Cinema Francês 2018, que sim, poderia ser imensamente melhor, mas que visto o tanto de adaptações literárias que acabaram fracassando justamente por não passar a essência real do livro, aqui o resultado acaba agradando bastante, e até consegue soar comovente ao ponto de podermos recomendar ele mesmo sendo bem longo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas esse foi apenas o primeiro dessa semana que promete ter muitos posts, afinal são 20 longas do Festival mais 7 estreias para conferir, então podem esperar por muitos textos. Quero agradecer claro à Aliança Francesa de Ribeirão Preto pelo convite para participar da abertura do Festival, e claro nossos amigos do Projeto Cinema de Arte que mais uma vez colocou o Festival na cidade em sua programação.
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