Uma das grandes falhas do cinema romântico nacional é ir por caminhos lineares, mas com grande sabedoria aqui em "Talvez Uma História de Amor", a trama consegue desenvolver bem uma história misteriosa e até nos deixar intrigados com a amnésia do protagonista, porém a história demora demais a desenrolar de tal forma que até nos conectando com o andamento de uma bonita trama, o longa tem uma sinergia boa e transmite boas sensações, mas tirando a cena da Times Square que arrepia realmente, o restante não causa como um bom romance deve causar, e com isso o filme fica apenas razoável, ainda que tenha belas locações, uma trilha sonora espetacular, boas atuações e até mesmo um bom envolvimento para com o público.
A sinopse nos conta que quando chega em casa, depois de mais um dia corriqueiro no trabalho, Virgílio liga a secretária eletrônica e ouve um recado perturbador. É uma mensagem de Clara, comunicando o término do relacionamento dos dois. Virgílio, contudo, não faz a menor ideia de quem é Clara. Perturbado devido ao seu jeito metódico e controlador, ele não se lembra de ter se relacionado com ninguém, mas todos ao seu redor pareciam saber do relacionamento dos dois, perguntando como ele está se sentindo com o término. Agora, ele precisa encontrar essa mulher misteriosa.
Em sua primeira direção de longas, Rodrigo Bernardo, foi coerente com a história do livro de Martin Page, "The Discreet Pleasures Of Rejection" (traduzido ao pé da letra como os discretos prazeres da rejeição), e é completamente notável cada página do livro, cada reviravolta e até os momentos de inflexão que ele tirou para moldar a trama mesmo sem precisar ter lido o livro, pois acabamos vendo detalhes na telona, porém romances no cinema necessitam de um elo mais forte que emocione realmente, que faça o público ficar com os olhos marejados, e que envolva com toda a situação da trama, e aqui ele apenas foi correto na sua direção, sem atacar propriamente cada ato, deixando que o longa apenas fluísse, e isso infelizmente é algo bem ruim nesse estilo. Porém ele teve um grande feito, o de não entregar um longa novelesco e criar as situações tão bem interpretadas em boas locações que seu filme passa de maneira agradável para uma conferida divertida, e assim se faz como cinema, e não novela como acaba sempre acontecendo com longas nacionais, e sendo assim o acerto foi grande ao menos.
Quanto das atuações, o longa foi espetacular, com cada um dando bons trejeitos expressivos e com isso o longa consegue agradar bastante nesse sentido, e para começar, o protagonista Mateus Solano foi incrível com seu Virgílio, de modo que não conseguimos remeter o personagem a nenhum outro que ele já fez, dando um ar gostoso para o personagem, vários trejeitos metódicos de tal maneira que seu TOC organizacional seja exagerado a um ponto nunca visto, e assim sendo podemos dizer que foi perfeito. Bianca Comparato fez ótimas cenas com sua Katy, sendo bem divertida, criando uma boa dinâmica com o protagonista, mas a grande diversão mesmo ficou por ser quase metade do tamanho do protagonista, e sempre que estão juntos parece que ele está olhando para o chão. Totia Meireles entregou a Dra. Marcia como uma típica e ótima terapeuta, sempre trabalhando indagações e criando momentos incríveis e bem expressivos, agradando de um modo geral. Paulo Vilhena nos mostrou em sua única cena o João que é a sua total cara, fazendo todos ficar com ódio normal dele. Marco Luque mostrou muita personalidade com seu Otávio, agradando demais pela interpretação que fez, se saindo melhor que a encomenda, e com isso ficamos até bem surpresos com o que fez e vamos ficar de olho nele como ator. Quanto aos demais, a maioria fez bem suas cenas, mas praticamente todas soando apenas como conexões, de modo que vale destacar apenas a atriz estrangeira Cynthia Nixon que foi incrível tanto no texto quanto na forma expressiva da cena de sua Toni em Nova Yorque.
A equipe de arte foi muito (mas coloca muito nisso) coerente nas locações, escolhendo na medida certa cada lugar e compondo com muitos detalhes para realçar o tom gostoso da trama, e desde o apartamento mega organizado do protagonista com seu TOC maluco, com cada detalhe retrô incrível, passando pelo prédio da empresa de publicidade riquíssimo para mostrar como sendo uma das maiores como é falado no longa, até mesmo na composição do apartamento da vizinha bagunçado pela neta com seu cachorro que gosta de música, passeando pelos cafés e food trucks bem montados, e finalmente chegando em dois grandiosos museus (um nacional e um internacional), até passear pelas maravilhosas ruas de Nova Yorque tendo até a grande cena na Times Square (que certamente foi computadorizada, não a locação em si, mas o que ocorre, mas que ainda assim ficou linda de ver!). Ou seja, um trabalho minucioso, cheio de detalhes e que agradou em cheio. O tom da trama brincou demais com cores mais densas para trabalhar o sentimento de desespero, usou de cenas no escuro para trabalhar projeções imaginárias de forma incrível, e foi bem singelo nos tons dos figurinos para exaltar as qualidades de cada pessoa, ou seja, algo bacana realmente de ver.
Talvez a melhor coisa do longa seja a trilha sonora que conta com Frank Sinatra, Of Monster And Men, Hozier, entre outros, que encaixaram perfeitamente na composição do longa, mas infelizmente a produção ainda não disponibilizou o link e assim que tiver online volto aqui para postar com toda certeza, pois vale muito ouvir.
Enfim, é uma trama com uma história até que interessante, que certamente funciona bem demais no livro, mas que aqui talvez necessitasse uma desenvoltura maior para realmente fazer o público desabar com a história de Virgílio e Clara, fazendo com que a busca soasse mais emocionante, e tivesse até rumos diferenciados do óbvio, mas ainda assim digo que é um filme bem bacana de assistir, e o grande acerto foi não cair no ar novelesco usual que a maioria dos romances nacionais acabam se vertendo, e sendo assim só por isso já vale uma imensa recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para mais um longa hoje, então abraços e até logo mais.
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