Trabalhar com temas envolvendo religiosidade e quebras de paradigmas dentro dos pensamentos que os diversos livros de cada religião coloca como corretas posturas dos seus membros é algo que envolve muita reflexão, e nem sempre todos irão concordar com a opinião alheia, ou seja, um filme que trabalhe isso sempre causará diversas discussões, e apontar certo ou errado é algo incompatível para se comunicar. Começo o texto de "Desobediência" dessa forma pela simples noção de que temos sim um filme para refletir, mas que cada opinião será apenas mais uma, visto que a religiosidade e a forma de criação dentro da comunidade será sempre algo forte em cada cultura, e sempre haverá "ovelhas negras" que se rebelarão e quebrarão paradigmas, fazendo com que o fluxo desande. E quando falamos de amor de adolescência, muitos acreditam ser um elo que será lembrado muitas vezes, realçado em um momento delicado e que acaba sempre soando forte, de modo que uma bomba pode sempre explodir quando conexões antigas se encontram. Ou seja, um filme complexo, que é bem trabalhado pelo trio de protagonistas, que poderia ter diversos finais diferentes, mas que o diretor soube opinar e ser coeso com sua escolha, fazendo com que o resultado agradasse alguns e soasse ao menos diferenciado.
A trama nos mostra que a fotógrafa Ronit retorna para a cidade natal pela primeira vez em muitos anos em virtude da morte do pai, um respeitado rabino. Seu afastamento foi bastante abrupto e o reaparecimento é visto com desconfiança na comunidade, mas ela acaba acolhida por um amigo de infância, para sua surpresa atualmente casado sua paixão de juventude, Esti.
O diretor chileno Sebastián Lelio está cada vez mais caindo nas graças de Hollywood desde 2013 quando fez seu filme "Gloria" (que será refilmado agora nos EUA com atores americanos por ele mesmo) e que acabou ganhando a indicação ao Oscar com "Uma Mulher Fantástica", e aqui ele demonstra que não se preocupa em estereotipar situações e permear sua opinião dentro de um meio bem fechado que é a comunidade judia ortodoxa, pois poderia se queimar facilmente com o estilo, mas optou por ser coeso, respeitoso para com as tradições e ainda conseguiu desenvolver seu roteiro com uma temática amorosa diferenciada, e com isso seu novo filme, mesmo com um ritmo bem lento, consegue prender o espectador que deseja saber qual rumos os personagens tomarão, mas diria que ainda poderiam ter ousado um pouco mais.
Sobre as atuações é bem fácil elogiar quando temos um elenco expressivo que consegue comunicar qualquer coisa com olhares bem pausados, com entonações claras nos diálogos prontos para dizer e conectar com o público, e ainda ser sinceros para com seus personagens, ou seja, arrasam no que fazem. Para começar temos Rachel Weisz com sua Ronit impactante e cheia de desenvoltura, que consegue soar misteriosa e ainda mostrar claramente o motivo que lhe fez fugir da comunidade, mas indo além de trejeitos, a atriz soube ser sincera com a opinião da personagem, não soando caricata, o que deu um ar mais interessante ainda para sua atuação. Se a serenidade foi o ponto chave de Weisz, o desespero para explodir ficou nítido na Esti de Rachel McAdams, que necessitou muito mais impacto expressivo no seu tom para não ficar gritante cada momento seu, e incrivelmente a atriz não falhou nos trejeitos e conseguiu agradar com momentos simples, mas bem feitos. E se precisavam de um terceiro ponto como elo na trama, veio a serenidade de Alessandro Nivola com seu Dovid, que dosou seus atos com simplicidade e ainda caiu com perfeição na personalidade que o personagem necessitava, tendo explosões bem colocadas e dinâmicas impactantes com bom desenvolvimento, ou seja, um grande acerto. Dentre os demais, a maioria soou preconceituosa como toda comunidade religiosa é quando tem algo divergente se suas ideologias, e souberam fazer as devidas caras de espanto e interjeições clássicas para se expressar com a força de contrariedade bem colocada, de modo que valha destacar bem pouco a primeira e única cena de Anton Lesser com seu Rav Krushka pelo sermão bem entonado, e Nicholas Woodeson como Rabbi Goldfarb em seu ato de demonstração contrariada pelo que imaginava correto.
No conceito visual não posso opinar como o mais correto de entregarem todo o processo religioso da morte dentro do modo ortodoxo, mas diria que os ritos forma bem cheios de detalhes, o figurino funcionou para mostrar tanto a frieza dos atos, como também o frio da cidade, e ainda transmitiram bem os últimos momentos do rabino sem precisar voltar com flashbacks, apenas mostrando detalhes dentro de sua casa bagunçada, ou seja, uma trama detalhada sem precisar explicativos exagerados, e só diria que faltou mostrar um pouco mais de detalhes da amizade entre o trio na juventude para complementar tudo, mas de resto o acerto foi bem colocado visualmente de forma simples e efetiva. A fotografia sempre escura deu o tom dramático para a trama, mas acabou soando forte demais e auxiliou na falta de ritmo do longa, ou seja, poderiam ter diversificado um pouco mais, mesmo todos estando de luto na trama.
Enfim, um filme interessante de proposta, com ótimas atuações, mas que não ataca como poderia, além de falhar em ritmo e símbolos. Ou seja, é algo que chega a causar, mas que poderia ter ido muito além. Recomendo ele mais como uma reflexão cultural do que como um filme de impacto dramático realmente como deveria ser. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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