É engraçado como pensamos na famosa "melhor" idade, como alguns dizem, ou terceira idade como outros, e ainda imaginar se teremos alguém para desfrutar disso até o último suspiro, mas principalmente a ideia que temos de ter é se vamos viver bem todos esses momentos, e qual a forma mais agradável de curtir suas memórias (quando a doença ainda não levou todas embora). Pois bem, como vocês podem ver, o ponto principal que "Ella e John" nos transmite é um emaranhado de reflexões, pois a trama é muito linda em sua essência e consegue com muita leveza, transmitir um ótimo road-movie aonde vemos um casal de velhinhos fazendo mais uma de suas viagens de férias, agora em fuga dos filhos e dos médicos para viver seus momentos juntos nem que seja pela última vez na estrada. O longa é simples, a ideia não é tão original (aliás o diretor praticamente refaz seu último filme, apenas mudando de duas mulheres de um sanatório, para dois velhinhos), mas a beleza dos cenários, as ótimas pausas nos diálogos e a brilhante dupla de protagonistas consegue fazer com que o nosso dia seja bem melhor após conferir a delícia que foi a entrega dessa história para nós, mesmo que com diversos clichês.
O longa nos situa em Detroit, EUA, em 2016. John e Ella Spencer, hoje na terceira idade, apoiados em seu vínculo de amor e na história que compartilham, decidem fazer uma última viagem no velho “Caçador de Lazer”, o trailer com o qual, nos anos 70, viajavam nas férias dos filhos. A ação é para escaparem da cerrada vigilância dos devotados filhos que lhes impõem os cuidados médicos e assistência. E, em liberdade pela icônica Rota 66 em direção à Califórnia, vivenciam que ainda riem, brigam, se confortam, se ressentem, são ternos, carinhosos e ciumentos, além de poderem, ainda, fazerem revelações surpreendentes. Uma viagem e tanto no vínculo do amor.
Falei no começo que o diretor Paolo Virzi refez seu longa anterior, "Loucas de Alegria", mudando os personagens apenas, mas revendo minha crítica lembrei dos diversos problemas que o filme teve, e que aqui ele conseguiu sanar com muita simplicidade e segurança, pois se lá a trama se confundia entre comédia dramática ou drama cômico, deixando diversas brechas abertas, aqui ele se concentrou no foco de simplicidade e seguiu com algo mais calmo, gostoso e que vai conquistando o público do começo ao fim com as revelações singelas do casal, a busca de cada um para o melhor entre eles, e que com muita desenvoltura, mesmo já imaginando como o longa acabaria, ainda vamos nos preparando e se agraciando com cada momento. Diria que só não foi mais eficaz por ter diversos momentos soltos e parecidos (não sei se todos os campings são iguais, mas aqui pareciam estar sempre nos mesmos locais), mas no conceito a trama foi entregue com minúcias e agrada demais pelo estilo e pela forma de tratamento que o tema acabou sendo desenvolvido, ainda que tivessem a necessidade de colocar certos clichês para convencer.
Sobre as atuações, a escolha dos protagonistas não poderia ser melhor com dois monstros que sabem pontuar suas interpretações com minúcias tão convincentes que não temos como reclamar de nada. Para começar nossa eterna rainha Helen Mirren vem com uma personalidade tão bem colocada para sua Ella, cuidando de seu marido que possui uma das doenças mais incômodas atualmente e ainda entregando trejeitos alegres, certeiros e com muito impacto em cada frase, fazendo com que a trama se firme em suas bases e se desenvolva bem ao seu redor, sem fazer gracejos, nem soando falsa para com a personagem, ou seja, mais um grande show seu. Da mesma forma Donald Sutherland foi singelo na forma entregue de seu John, e chega a nos emocionar com sua disposição e claro com seus atos bem colocados na medida do possível com a idade, ou seja, um ar sutil muito bem colocado que até chega a ser calmo demais, mas que acaba sendo muito bonito de ver. O filme basicamente passeia e permite a entrada de atendentes de restaurantes, vizinhos de trailer, entre outros que acabam conversando bastante com os protagonistas, soando bem como figurantes, e até mesmo os filhos do casal aparece bem pouco, mas claro que por possuírem uma conexão afetiva dentro da história, temos de destacar a atuação de Christian Mckay e Janel Moloney como Will e Jane respectivamente por sua preocupação e emoção para com os pais.
Claro que no conceito cênico temos de pontuar o motorhome do casal que leva o nome do filme Leisure Seeker (ou Caça-Lazer como foi traduzido na legenda) que é completamente cheio de detalhes, está velhinho como a dupla, e possui diversos elementos preparados para tudo o que vai ocorrer na trama, sendo incrível realmente, mas como todo bom road-movie, as grandes sacadas ficam por conta das ótimas paradas, em restaurantes, hotéis, campings, até chegar na casa do escritor que infelizmente não é mais o paraíso filosófico como imaginavam, ou seja, muitas reviravoltas e boas paradas que a equipe de arte teve de transpor do livro original para que ficasse bem colocado. Com sombras secas, a fotografia da trama ousa em não soar bonita demais, e também não muito dramática, e o acerto é muito bem feito.
Enfim, um longa doce, bonito e gostoso de assistir, mas que também trabalha bem a dramaticidade da doença, e que consegue emocionar com sutilezas. Diria que poderia ter sido até mais ousado caso quisessem, e não necessitar de artifícios já usuais de outros longas para que ficasse mais original, mas ainda assim com toda certeza é um longa que recomendo demais. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana que foi bem curta, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá.
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