Tem filmes que já vamos conferir imaginando o que veremos, e pelo trailer de "Todo Dia" era esperado um daqueles romances bem melosos, que adaptados de livros acabam pecando por atuações engessadas e não conseguem entregar alguma novidade sem ter um excesso de clichês, porém fomos surpreendidos com uma trama leve e razoavelmente amarrada por pontas difusas que até trabalham certos conceitos morais, mas que felizmente foge do clichê romance adocicado teen que poderia até agradar se fosse bem feito, mas que ao menos trabalhou uma proposta mais crítica dos moldes de aceitação de personalidade e que acabou resultando em algo mais simples do que aparentava. Ou seja, um filme completamente novo, com uma proposta razoavelmente nova, com atores novos e que talvez uma afinada melhor faria dele algo memorável, mas que acredito ser ao menos mais fácil de assimilar do que o livro original, pois toda essa bagunça de personalidades na leitura deve deixar a mente completamente maluca.
O longa nos conta a história de Rhiannon, uma garota de 16 anos que se apaixona por uma alma misteriosa chamada "A" que habita um corpo diferente todos os dias. Sentindo uma conexão incomparável, Rhiannon e A trabalham todos os dias para encontrar um ao outro, sem saber o que ou quem o próximo dia irá reservar. Quanto mais os dois se apaixonam, mais as realidades de amar alguém que é uma pessoa diferente a cada 24 horas afeta eles, levando o casal a enfrentar a decisão mais difícil que eles já tiveram que tomar.
O diretor Michael Sucsy não é daqueles que pegam diversos projetos para tocar, mas foi certeiro em diversos pontos em sua obra de estreia "Para Sempre", e aqui utilizou dos mesmos artifícios para transportar uma obra literária para as telonas sem ficar amarrado demais em vértices pontuados, e isso acaba funcionando por fazer com que um livro que aparentemente é bem bonito, mas complicado de entender por ter diversos personagens, trejeitos e indagações reflexivas, serem transportadas para a telona de maneira sutil e bem gostosa de acompanhar, que sim, vai confundir quem não for sabendo o que irá ver, mas que trará uma boa essência, e resultará de cenas leves e bonitas de serem condicionadas. Ou seja, o trabalho de adaptação foi bem coeso e o resultado empolga pela boa funcionalidade da trama, divertindo em bons momentos e não sendo açucarado demais, embora isso seja também um defeito do longa que poderia comover mais caso derrubassem algumas colherinhas de açúcar no longa para que a cena final que é envolvente caísse em algo mais dramático e emocionante, mas quanto ao desenvolvimento certamente podemos dizer que foi bem acertado, apesar de certamente saber que no livro trabalharam muito mais o lance da família de Rhiannon que aqui ficou bem em segundo plano.
Quanto da atuação temos basicamente que falar de Angourie Rice com sua Rhiannon, pois está em praticamente todas as cenas como protagonista, e a atriz soube dosar muito bem suas emoções e desenvolver trejeitos bem alocados, não ficando boba para com a trama, nem soando desentendida do que estava acontecendo, e com isso acabou sendo bem elegante na postura, e divertida no momento em que "A" assume seu corpo, ou seja, um belo acerto para uma atriz que ainda não havia chamado atenção mesmo com tantos filmes na carreira. Agora para falar do personagem "A" teria de fazer um texto inteiro, pois temos 15 atores diferentes interpretando ele, em suas diversas expressividades e cada um entregando um pouco de si para a personalidade da alma que era o exigido no filme, mas sem dúvida alguma os mais marcantes momentos foram com Lucas Jade Zumann, como o extrovertido Nathan, o carismático Jacob Batalon com seu James, o gordinho simpático Jake Sim com seu Michael, e claro o momento mais tenso como a suicida Kelsea, interpretada muito bem no pequenino momento de Nicole Law. Além claro, dos dois bons momentos com Justice Smith como Justin tendo seus dois atos, o babaca tradicional de todos os dias, e o dia em que "A" se apaixona, sendo gracioso e atencioso, e Owen Teague como Alexander, o que mais teve tempo de tela com a personalidade da alma, além de todo o charme que deram para o "interior" da personalidade do garoto. Dentre os demais, a maioria é bem rápida, e não atrapalha, mas poderiam ter dado mais tempo de tela para a sempre ótima Maria Bello como a mãe da garota, Michael Cram como o pai, e Debby Ryan como a irmã, pois certamente teriam mais para mostrar.
No conceito visual a trama nos colocou em locais muito bem escolhidos, como um aquário/praia maravilhoso cheio de detalhes, um chalé romântico, uma festa com bons momentos, uma escola (bem livre, que dá para fugir a todo momento das aulas), e claro uma casa com problemas, além de muitos passeios de carro, de modo que aparentemente procuraram recriar bons detalhes do livro na telona, não soando forçado, mas se atentando para não soar falso também, ou seja, um bom trabalho. A fotografia brincou bastante com tons mais escuros para criar elos dramáticos, mas sempre que possível o ambiente tinha uma luz forte, demonstrando muita vida na personalidade da alma, e claro aquecendo o romance, mas ainda assim poderiam ter trabalhado mais cores na paleta para que o longa tivesse uma dinâmica ainda mais diferenciada.
Claro que como todo bom romance, a trilha sonora tem um âmbito funcional incrível, e cada momento precisa respirar juntamente com boas canções sejam elas originais ou escolhidas para que o filme tenha ritmo e funcione perfeitamente. E aqui a equipe escolheu ótimas canções bem representativas que além de serem gostosas de ouvir também trabalham mensagens que o filme passa, então vale a pena a conferida no link e para quem quiser também está aqui o link das músicas originais de cada momento do filme.
Enfim, um filme simples que até poderia ser melhor, mas que vai agradar bastante quem for disposto a ver algo teen, mas com uma proposta diferenciada, pois como disse saiu bem do conceito meloso e também não atacou tanto algo com muita moralidade, ficando no meio do caminho, o que é sempre arriscado. De modo geral é bonitinho e gostoso de acompanhar, e funciona a ponto de podermos recomendar. Bem é isso pessoal, infelizmente encerro já essa semana curtíssima aqui, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até breve.
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