É engraçado que quando falamos para alguém que conferir um documentário, a pessoa já pensa naqueles jornalísticos enrolados, com uma tonelada de pessoas falando, ou na vida selvagem de um leão caçando um búfalo no meio da selva, aí então você fala que será sobre a vida de gays, é correria na certa, pois acha que alguém vai pagar para conferir um documentário sobre gays, jamais! Pois bem, todos deveriam abrir suas mentes e ir conferir o longa "Abrindo o Armário", que de uma das maneiras mais fluídas possíveis, num ritmo bem cadenciado, trabalhando momento a momento com tantos depoimentos, não chegamos nem a ver a hora passar, e o melhor, não conseguimos arquitetar as perguntas feitas pela equipe, pois o longa parece vivenciar os momentos com cada um contando um pouco sua história, seus problemas e suas desventuras mundo afora, que o vértice da trama acaba soando até mais interessante do que parecia, funcionando não apenas para os gays que forem "se ver" na telona, mas sim para que pessoas comuns de todos os credos saibam que eles não mordem, não são aliens (tudo bem que tem uns que aparecem tão montados que dá até pra pensar ser de outro planeta!), mas sim são como eu, como você, tendo sua vida, querendo ganhar seu dinheiro, e principalmente como um dos entrevistados fala, são completamente diferentes dos que os filmes e as novelas retratam, sofrendo de tudo quanto é forma preconceito, agressões e tudo mais. Ou seja, um longa informativo e bem indexado para mostrar gays de todas as idades e estilos, só tendo uma grande falha: só tratou um dos lados, o homem gay, e esqueceu completamente das moças que sofrem muito também ao ser de outra forma, mas de resto é um filme muito bacana para todos conferirem.
O documentário entrevista dezenas de homens gays para conhecer a experiência do indivíduo LGBT, tanto nos centros quanto na periferia, tanto nos dias de hoje quanto décadas atrás, durante a ditadura militar. Figuras icônicas como o escritor João Silvério Trevisan, as artistas Linn da Quebrada e Jup do Bairro e o gamer Gabriel Kami compartilham suas experiências pessoais de autoaceitação e preconceito.
Como costumo dizer não sou muito de falar sobre documentários, pois acredito que é uma experiência que cada um vai tirar suas devidas opiniões e através das ideias montadas pelo diretor, baseando na ideologia de cada pessoa, o resultado visto na telona será diferente, mas digo que aqui consegui ver que os diretores estreantes na função, mas que já possuía um grande currículo como diretor de fotografia de grandes longas nacionais, Luís Abramo e Darío Menezes conseguiram extrair dos entrevistados muito mais do que apenas depoimentos, quase vivenciando com eles seus sentimentos e afazeres, criando uma identidade para a trama, e souberam conduzir tudo numa edição quase magistral, pois não vemos as cenas quebradas, não temos interrupções com legendas, e principalmente tudo vai correndo quase como um longa de ficção, sem sabermos quem é quem (diria talvez como um defeito isso, pois não conhecia nenhum dos entrevistados, e talvez saber quem era me ajudaria em alguns pontos, mas não chega a ser algo que atrapalhe). Ou seja, vamos acompanhando cada um, num fluxo bem coeso, sendo que alguns falam mais que uma vez, outros apenas uma, e chegamos até nos emocionar com algumas situações dos que acabam se abrindo um pouco mais, ou seja, conseguem passar bem sua mensagem.
Como disse no começo, uma falha grande da produção foi não ter entrevistado garotas, pois certamente elas também tiveram imensos problemas na aceitação, na sociedade e tudo mais, mas talvez seja espaço para um segundo longa dos diretores, mas tirando esse detalhe, diria que foram o mais ecléticos possíveis nas escolhas dos entrevistados, o que resultou em algo bem espaçado de opiniões e estilos, e que foi ainda mais envolvente pelas dinâmicas com muita câmera na mão (claro que usada de uma linguagem coesa e sem solavancos para não ficar algo grotesco), acompanhando os entrevistados por locações bem escolhidas para representar seus lugares e pensamentos nas comunidades em que vivem, ou seja, um trabalho bem completo.
Enfim, é um filme que até possui alguns defeitos, mas que soa bem coerente com a proposta e funciona sem forçar a opinião de ninguém, e que possui um ritmo muito agradável que não cansa de forma alguma, valendo ser conferido pela essência e pela qualidade da montagem. Bem é isso pessoal, fica aqui então minha indicação, e encerro por aqui essa semana cinematográfica que foi bem longa, voltando na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá.
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