Chega a ser cômico a relação de amor e ódio que temos com continuações, pois alguns filmes ficamos esperando tanto para vermos o que vai virar logo após ser anunciado que a expectativa criada dificilmente é superada, e se tem um longa musical que muitos amaram em 2008 e que até hoje diversos falam ser o musical que mais gosta de ver é "Mamma Mia!", então esperávamos ver uma continuação no mínimo surpreendente, ou que pelo menos não perdesse a essência das canções do ABBA. Dito isso, posso dizer que esperei muito do novo longa, vendo diversas cenas logo que começou a ser filmado, e hoje após conferir "Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo" posso dizer que seguiram muito bem a essência do longa original, conseguiram fazer uma seleção de elenco primorosa, aonde os novatos são praticamente clones rejuvenescidos dos personagens originais, a interação das duas sequências funciona bem, mas temos um grande problema que não tivemos há 10 anos atrás: o ritmo, pois o primeiro filme era baseado já no musical de sucesso da Broadway com as canções mais icônicas do grupo e apenas foi desenrolado para uma cenografia maior, enquanto aqui com um roteiro completamente novo, para funcionar colocaram diversas outras canções "não tão conhecidas" e bem mais calmas, que acabou dando um peso mais melancólico para o primeiro ato, ou seja, o filme entra numa vibração muito lenta que não empolga tanto. Porém longe disso estragar o filme, volto a frisar, para quem gosta de um musical, a trama vai funcionar, o carisma e o carinho para com as canções e os atos vão emocionar, mas certamente poderiam ter feito algo mais forte e gostoso.
A sinopse nos conta que um ano após a morte de Donna, sua filha Sophie está prestes a reinaugurar o hotel da mãe, agora totalmente reformado. Para tanto convida seus três "pais", Harry, Sam e Bill e as eternas amigas da mãe, Rosie e Tanya, ao mesmo tempo em que precisa lidar com a distância do marido Sky que está fazendo um curso de hotelaria em Nova York. O reencontro serve para desenterrar memórias sobre a juventude de Donna, no final dos anos 70, quando ela resolve se estabelecer na Grécia.
Ol Parker não é muito conhecido como diretor, tendo pouquíssimos filmes no seu currículo, mas como roteirista tem acertado bastante ultimamente, e aqui juntamente com outros bons nomes de musicais/romances conseguiu escrever uma história bem trabalhada, cheia de nuances, e principalmente que casassem bem com as músicas da banda e a identidade temporal da trama, que ao ficar em duas épocas para lá e para cá acabou cometendo leves deslizes de continuidade (principalmente se levarmos em consideração alguns fatos que ocorreram no primeiro longa, mas nada que atrapalhasse o andamento), e como costumo dizer, tendo uma boa história, se um diretor tiver o mínimo senso, ele consegue envolver o público e desenvolver a história de uma forma interessante de acompanhar, e aqui Parker foi além de apenas criar algo interessante, ele conseguiu prender o público do começo ao fim, mesmo com uma trama digamos calma demais para seu gênero, e até surpreendendo em pontos bem colocados. Como disse no começo, o problema da trama foi de não ser montada propriamente como uma história musical como foi o original, então alguns momentos acabam ocorrendo jogados, surgindo a situação do nada, ou seja, poderiam ter trabalhado um pouco mais a história, ou até mesmo ter criado dois capítulos a parte, por exemplo um contando a história de Donna na juventude, e outro já com a situação pós-morte com a recuperação do hotel e sua devida festa, pois a junção dos elos acabou um pouco bagunçada e forçando toda hora para a cantoria, de modo que só quem realmente gostar muito de musicais irá gostar do que verá na telona.
Sobre as atuações, como falei no começo um dos maiores acertos do longa ficou por conta da escolha do elenco, pois conseguiram arrumar jovens atores praticamente idênticos aos protagonistas do primeiro filme, e claro com um capricho de maquiagem, tivemos um resultado de assustar até mesmo aqueles programas que mostram como uma pessoa irá ficar mais velha (aqui no caso, como ela era jovem). E para começar é claro que temos de falar de Lily James que assumiu praticamente todos os ótimos trejeitos de Meryl Streep e fez uma Donna muito segura e cheia de carisma, envolvendo sempre com olhares e tendo uma conexão incrível com todos os demais personagens, mostrando que tem crescido cada vez mais nas suas interpretações. Amanda Seyfried melhorou muito sua performance nos últimos anos, mas ainda é daquelas atrizes que fazem trejeitos muito semelhantes para todo tipo de situação, e isso não é algo bacana de ver, ou seja, como protagonista da trama aqui não conseguiu assumir a responsabilidade cênica, de modo que sua Sophie sofre muito para empolgar em todas as suas cenas, soando até artificial em diversos momentos. O time masculino da terceira idade é daqueles que falamos com a certeza de que nada pode dar errado (ao menos no conceito interpretativo, pois todos são de alta classe, mas na cantoria/dança deram alguns deslizes meio que estranhos), e todos sem exceção arrasaram, começando por Pierce Brosnan com seu Sam mais calmo e sereno, passando por Colin Firth com seu Harry cheio de trejeitos, e claro chegando no animado e emotivo Bill maravilhosamente interpretado por Stellan Skarsgard. E suas versões jovens também não decepcionaram, e claro deram as nuances que as jovens tanto apreciam ver nas telonas, com Josh Dylan como o jovem Bill, Jeremy Irvine como o galã jovem Sam (mas o que menos pareceu o velho Pierce) e Hugh Skinner como o jovem e divertido Harry (o melhor dos três em composição de trejeitos). As amigas inseparáveis de Donna não ficaram por menos e arrasaram muito nas duas versões, cada uma entregando nuances diferenciadas de uma forma melhor que a outra, com Julie Walters dando o tom na versão mais velha e Alexa Davies (quase um clone jovem de Walter) para a divertida e emotiva Rosie, e Christine Baranski sempre sagaz juntamente com Jessica Keenan Wynn fazendo ótimas vertentes para com sua Tanya. Ainda temos que falar é claro das duas grandiosas participações na trama, a sempre entregue Meryl Streep arrasando em duas cenas rápidas no final, com muitos bons olhares, e a grandiosa Cher (que não envelhece nunca!) como Ruby, a mãe de Donna, que deu um show de carisma e personalidade junto de Andy Garcia como Cienfuegos. Diria que uma decepção artística ficou por conta de Dominic Cooper como Sky, que ficou apagado demais no longa, e poderia ter chamado mais atenção.
Sem dúvida alguma um dos pontos altos do longa foram as filmagens na paradisíaca Ilha de Vis na Croácia (que no filme se faz passar como localizada na Grécia!!), que deu um charme extra para a trama cheia de figurantes dançando, com bosques, colinas, e claro uma ótima pousada/hotel que acabou ficando caracterizado maravilhosamente para se encaixar nas canções, e claro na festa, ou seja, tudo minuciosamente detalhado para não atrapalhar os números de canto/dança e ainda ter um visual incrível, que fez com que cada detalhe pensado na produção funcionasse, se encaixasse com o figurino, com o tino das letras das canções e ainda fosse emblemático com as épocas que se passam os dois atos, ou seja, um trabalho bem marcado pela equipe de arte. A fotografia se aproveitou da ótima iluminação cênica que a ilha entregou com muito sol e claro que para o tom não descer ainda mais para o melancólico (afinal as canções/situações do começo foram bem murchinhas!) o tom sempre alegre das cenografias e do ambiente contagiavam tudo.
Estamos falando claro de um musical, ou seja, qual o ponto mais importante? A música, e claro que apresentando para muitos diversas canções do ABBA que não ouvíamos naturalmente, muito bem cantadas pelos diversos protagonistas deram o tom para o longa, oscilaram nos ritmos e funcionaram, sendo que claro tenho de compartilhar o link para que todos possam ouvir, então façam bom proveito.
Enfim, é um filme bem feito, que possui até muitos defeitos, e que desaponta um pouco por ser abaixo do que esperávamos, afinal o primeiro filme é incrível, mas ainda assim recomendo muito ele para quem gosta de boa música encaixada dentro das situações, pois nesse quesito embora alguns momentos soem bem falsos, o resultado completo acaba funcionando bastante. Mas volto a frisar, se você não gosta do gênero musical no cinema, esse não será o filme que lhe fará gostar, e devo recomendar que passe longe, mas do contrário, vá que a diversão é certeira. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas essa semana está bem longa de estreias e esse foi apenas o primeiro, então abraços e até logo mais com mais textos.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...